Bring Him Home

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Steve está em frente ao espelho, ajeitando a gravata pela centésima vez. Algo tão corriqueiro, que ele já fez tantas e tantas vezes, mas que hoje parece ser uma tarefa hercúlea. Batidas na porta chamam sua atenção. Ele vê Sam entrar em seu quarto pelo reflexo do espelho.

- Pronto?

- Sim, tudo pronto. – uma última olhada no espelho e um suspiro. – Vamos nessa.

Choque e surpresa. Esse foi o consenso geral quando Tony Stark enviou um chamado convocando todos os Vingadores para uma conversa. E como era de se esperar, pouquíssimos apareceram. Para dizer a verdade, somente Steve, Sam e Natasha atenderam ao chamado, assim mesmo, Sam e Nat foram apenas como suporte para Steve, caso Stark tenha planejado alguma armadilha para entregá-los às autoridades. Steve não cogitou a possibilidade, mas também manteve a cautela, afinal os dois não se viam há quase três anos, depois dos acontecimentos da Guerra Civil.

- Já estão todos lá? – pergunta Steve, enquanto os dois seguem pelo corredor do andar residencial do complexo.

- Dianne e o time já chegaram. Tony está a caminho com a Pepper e o Rhodes. Ah, a Nat ligou. Disse que ela, o Clint e a Laura estarão lá também.

- Eles não precisam ir.

- Eles sabem disso, mas eles querem estar lá pra apoiar você. Pra apoiar vocês dois. – diz Sam, colocando a mão no ombro de Steve. – Falando nisso, como você tá?

- Eu... – ele respira fundo. – Eu não sei. Eu ainda não acredito que isso tudo está perto de acabar. Parecia algo tão impossível.

- Se tem algo que o nosso mundo me ensinou, meu amigo, é que nada é impossível.

- Mesmo assim. Muita coisa ainda pode dar errado.

- Steve, eu acho que tudo que podia dar errado, já deu. Três anos atrás. Nós fomos ao inferno, agora só nos resta fazer o caminho de volta.

Stark estava em missão de paz. Não só paz, reparação. O bilionário apresentou ao grupo uma proposta do Secretário de Defesa, o General Ross, para suspender as penas marciais impostas a todos os acusados de traição, por conta dos acontecimentos em Berlin, e as substituir por liberdade condicional por 5 anos, com todos os envolvidos tendo seus nomes limpos após esse período. A única condição seria a de que a equipe dos Vingadores fosse reintegrada, pois, como era de se esperar, o governo não conseguiu nenhuma outra super equipe que assumisse a função do grupo.

Eles andam em silêncio por mais alguns metros, até pararem em frente à porta de um dos apartamentos. Sam está prestes a bater, quando a porta se abre, revelando Sharon Carter, vestida formalmente com um dos ternos que ela costumava usar enquanto trabalhava para a SHIELD.

- Oi. – ela diz. – Eu já estava indo atrás de vocês. Estamos em cima da hora.

- Eu sei, o carro está esperando lá embaixo. – diz Sam.

- Então vamos. – ela diz, tomando a mão de Sam, entrelaçando seus dedos aos dele. – Você está bem, Steve?

- Estou. Só bastante... ansioso.

- Eu sei. Mas a Dianne está confiante, a imprensa e a opinião pública estão do nosso lado. Vai dar tudo certo.

Ao notar a desconfiança de Steve, Tony afirmou que reuniu uma equipe jurídica para analisar a proposta e tentar encontrar alguma falha ou, até mesmo, algum truque. Ele garantiu que sua equipe não encontrou brechas que poderiam prejudicar o grupo no futuro. Sem letras miúdas, sem adendos, sem truques. Tony também disse que foi acordado que o governo não teria um vínculo direto com o grupo e que não haveria interferência nos planos de ação da equipe. O General concordou em nomear alguém para ser a linha direta da equipe com o governo, alguém que servisse como um mediador para lidar com os políticos e militares, e o nome sugerido foi o de Nick Fury. Steve pediu um tempo para reunir e conversar com os companheiros de luta, afinal todos saíram feridos desse embate. Física e emocionalmente.

O trajeto do Complexo dos Vingadores até a Suprema Corte foi feito em silêncio. Sam e Sharon trocaram alguns olhares e checaram as muitas mensagens recebidas no celular, mas o olhar de Steve estava fixo no horizonte. Um filme passou em sua cabeça. Tudo o que aconteceu nos últimos três anos. A fissura na equipe, o embate no aeroporto, a prisão dos seus aliados, o incidente na Sibéria, o rompimento com Tony, a fuga para Wakanda, a invasão da Balsa, a vida clandestina.

Sam tem razão, eles foram ao inferno. Mas se Steve tivesse que colocar na balança, se ele tivesse que nomear o pior momento de todos, ele conseguiria responder sem nem pensar duas vezes.

O carro para em frente à Suprema Corte. Mesmo dentro da segurança da SUV blindada, Steve pode ouvir a comoção do lado de fora, e isso o deixa ligeiramente apreensivo. Ele troca um olhar com Sam e Sharon antes da porta do carro ser aberta. Sam sai primeiro, seguido por Sharon. Steve sai em seguida. A polícia formou um cordão de isolamento, um corredor que começa na calçada e segue até os últimos degraus da escadaria da Suprema Corte. Mas os policiais parecem ter dificuldade para conter o público.

Olhando ao redor, Steve vê centenas de pessoas aglomeradas em volta. Jornalistas e pessoas comuns, juntas, disputando o espaço e a atenção dos heróis. Ele sente Sharon puxar levemente a sua mão e só então percebe que ela e Sam estão se movendo pelo cordão humano. Assim como seus amigos, Steve abaixa a cabeça e evita fazer contato visual com quem quer que seja. Ele também tenta neutralizar o som ao redor, para não deixar sua atenção ser captada por nenhuma pergunta da imprensa. Até mesmo os gritos de apoio do público precisam ficar de fora do escudo protetor que Steve criou ao redor de si.

Chegando ao final da escadaria, Steve dá de cara com Nat, Clint e Laura Barton. Laura, inclusive, é a primeira a abraça-lo. Em seguida ele ganha um aperto de mão caloroso de Clint e, por fim, um abraço de Natasha. Ainda com os braços ao redor de Nat, com o queixo apoiado em seu ombro, Steve ergue os olhos. Tony está lá, há poucos metros de distância, olhando pra ele, com uma incomum expressão de insegurança no rosto.

Duas semanas depois do encontro, Tony recebeu uma mensagem de Steve. O acordo seria fechado, todos estavam prontos para voltar pra casa. Passado o choque inicial, Tony sentiu um enorme alívio, como se o peso do mundo tivesse saído de suas costas. Mas ainda não era hora de comemorar. Além dos detalhes práticos para receber a equipe de volta no Complexo, havia uma questão maior a ser resolvida: o rompimento entre ele e Steve. E Tony sabe que não tem como resolver essa questão, sem chegar à raiz do problema. Bucky. Mas ele ainda não estava 100% pronto para tocar no assunto. Pelo menos, não naquele momento. Então Steve concordou em adiar a conversa.

Os primeiros dias de volta ao Complexo dos Vingadores foram estranhos. Como se todos pisassem em ovos. Como se qualquer movimento em falso, Tony e Steve fossem começar um novo embate brutal. Nem com as acomodações reformadas e especialmente projetadas para que todos se sintam em casa, foi possível aliviar a tensão palpável entre o grupo.

Foi somente na noite do décimo dia, quando Steve estava se preparando para dormir, que Tony apareceu na porta de seu apartamento. Ele não sabia como começar a conversa, não estava com um discurso pronto, então ele andou em círculos pela sala do apartamento por sólidos cinco minutos, soltando frases aleatórias, numa tentativa de organizar as ideias. Steve assistiu em silêncio, o acompanhando com o olhar. Quando, finalmente, Tony parou no meio da sala e soltou um suspiro resignado, Steve se levantou em silêncio, foi até o quarto e voltou com um envelope na mão. Antes mesmo de Steve entregar o envelope, Tony conseguiu ler o que estava escrito no remetente: James "Bucky" Barnes.

Steve nunca soube o conteúdo da carta. Ele nunca perguntou. Nem para Tony e nem para Bucky. Ele concluiu que não era um assunto que lhe dizia respeito. Essa era uma ferida que doía apenas nesses dois homens, e a ninguém mais.

Steve manteve os olhos fixos em Tony, enquanto este se aproximava. Assim que Natasha deu um passo para o lado, Tony estendeu a mão para Steve.

- Pronto pra isso, Cap?

- Eu nunca estive tão pronto. – diz Steve, apertando a mão de Tony de forma calorosa.

- Então vamos nessa. Vamos trazer o Barnes pra casa.

'Till The End Of The LineOnde histórias criam vida. Descubra agora