Adolescentes Esquisitos

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Deixei minha mala no chão e abri as cortinas do quarto, não vou mentir que pelo menos esse quarto é mais limpo que o outro que eu ficava, mas ainda assim, não era como o meu quarto na casa da minha mãe.

Fiquei encarando a floresta pela janela já que não tinha mais nada de interessante para fazer, nunca soube de bichos perigosos que vivem ali, o máximo que eu sabia era de pássaros e no máximo cobras mas não grandes e venenosas, mas podia escutar de vez em quando os vizinhos falarem de algum bicho grande que passa correndo entre a mata e ninguém sabe dizer que criatura é, claro que isso é apenas boato de velhos que querem assustar os mais novos para não entrarem na floresta, já se foi o meu tempo que caia nessas histórias 'pra boi dormir.

Enquanto olhava as árvores vi um movimento rápido entre o mato, algo se mexeu muito rápido e depois saiu correndo, não parecia um animal e sim... uma pessoa? Talvez eu esteja louco mas juro ter visto pernas de alguém. Pode ser algum pescador já que dentro da floresta tem um rio que até onde meu pai contou tem bastante peixe.

Quando começou a anoitecer ele me chamou para descer e ir jantar, assim que cheguei na cozinha encontrei meu pai e um outro garoto conversando e rindo enquanto arrumavam a mesa, eu nunca tinha visto esse menino por aqui, ele é alto, cabelo castanho, parece um tucano na verdade, não é bonito igual os meninos do meu bairro.

— Changmin, esse é o Sangyeon, ele se mudou para cá alguns meses atrás, mora algumas ruas para baixo, o chamei para o jantar 'pra você o conhecer — Meu pai contou sorrindo mas eu queria saber onde estava a boa novidade nisso. Ele por acaso está querendo me empurrar um garoto feio e que usa roupas rasgadas para ser meu amigo? Prefiro ser sozinho do que ser tachado de amigo de um esquisito que meu pai apresentou.

— Oi Changmin, seu pai disse coisas legais sobre você, espero que possamos nos divertir durante esses meses — Ele sorriu e eu fingi um sorriso amigável mas tenho certeza que ele notou que não tinha gostado dele pois logo seu sorriso sumiu do rosto.

— Vamos nos sentar e comer — Meu pai disse indo na cozinha pegar as panelas e logo trouxe a comida. Não era nada demais já que ele não sabe cozinhar muito bem mas pelo menos estava mais comestível que aquele bolo de cenoura que ele fez ano passado que acabou todo queimado e murcho — Então filho, como anda a escola?

— O mesmo de sempre.

— E a sua mãe?

— A mesma de sempre — Respondo olhando para o prato feito de argila, qualquer coisa é melhor que olhar para a cara desses dois.

— Bom... O Sangyeon conhece bastante da cidade, ele pode te levar nas lojinhas do centro amanhã se quiser.

— Talvez eu vá.

Não era uma má ideia afinal, eu tenho dinheiro, posso comprar alguma coisinha que vá me distrair desse buraco que me enfiei por dois meses, mas pensando que Sangyeon estará comigo me deixa um pouco irritado, ele não parece ser o tipo de pessoa que quero ser amigo, ele é... estranho demais.

Aquela noite eu demorei para dormir, fechar os olhos e pegar no sono sempre me foi uma tarefa fácil mas nessa cama pequena é difícil conseguir relaxar.

No dia seguinte eu acordei no horário de sempre e fui tomar café da manhã, só comi um pão com salsicha e tomei um copo de leite, meu pai disse que iria sair para trabalhar e voltaria por volta das 17:00, eu dei graças a Deus por isso, eu teria a casa toda para mim me lamentar sozinho.

Assim que ele saiu eu resolvi ir nos fundos da casa, eu me sentei na grama e fiquei olhando as árvores da floresta se mexendo de acordo com o vento que batia. Pelo menos a brisa aqui é muito boa diferente da cidade grande onde o ar é poluído demais.

Escutei um barulho e vi alguns arbustos se mexendo, olhando mais pude ver uma mão por trás da árvore, eu me levantei e comecei a andar devagar até a árvore onde a possível pessoa estava. A mão não parecia ser de um adulto, era pequena e os dedos redondinhos como de uma criança, eu me aproximei mas acabei pisando em um galho.

Isso chamou a atenção da criança e ela saiu de trás na árvore, foi então que eu vi que não era uma criança, parecia um menino da minha idade. Ele tem os cabelos loiros, usava um macacão grande para o seu corpo e uma blusa branca que estava suja de terra, igual as suas mãos e bochecha.

— Quem é você? — Eu perguntei cruzando os braços, tudo que me faltava era ter encontrado com um garoto de rua que talvez roube meu pouco dinheiro, ou pior, comece com aquela choradeira dizendo ser órfão e que precisa de ajuda. Eu odeio essas coisas.

O menino parecia muito assustado, ele andou alguns passos para trás e quando tentei me aproximar ele simplesmente saiu correndo para mais dentro da floresta, e eu o assisti correndo até que sumisse entre as árvores e plantas.

Agora eu acho ainda mais que era um ladrãozinho que estava planejando roubar a casa mas se assustou quando me viu, não tem outro motivo para esse garoto estranho estar aqui. Meu pai, todo adolescente nessa cidade é esquisito? Se eu soubesse disso preferiria quando só conhecia os idosos.

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Garoto Da Floresta // NyuKyuOnde histórias criam vida. Descubra agora