Apaixonado?

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— Solta ele babaca! – Aquele homem ordenou em tom firme — Adianta Antônio ou te demito agora mesmo! 

— Se-senhor Micael… O senhor por aqui patrãozinho?! 

— Sim, sou eu mesmo… Acabo de chegar a fazenda! 

— Senhor Micael, você não conhece esse moleque aqui… Ele é um delinquente qualquer, essa não é a primeira que ele rouba as terras da fazenda! 

— Isso é verdade garoto? – Naquele momento, aquele cara desceu de seu cavalo e se aproximou de mim. 

— Olha eu não sou ladrão! Tudo bem que eu pego uma verdura ou outra sem permissão… Mas é pra alimentar a mim e meu avô. Ele é muito velho não pode trabalhar e… eu me viro no que posso pra ajudar. 

Micael 

Naquele momento um sentimento estranho tomou conta de mim, sei lá… Talvez fosse pena. Como a vida era injusta, uns com tanto e outros sem praticamente nada, porém, mesmo assim aquele garoto parecia ter amor por sua vida e aquilo era impressionante. Após uns segundos, ordenei que o capataz Antônio levasse o meu cavalo para o estábulo e me abaixei para ajudar aquele garoto a pegar as verduras do chão. 

— Entendo perfeitamente as suas necessidades mano, porém pegar algo dos outros sem permissão… por mais que seja algo bobo, é roubo! E eu não vou tá sempre aqui para ajudá-lo. 

— Olha lá… Me ajudar?! Se vc não tivesse chegado eu daria um socão naquele metido e depois uma joelhada bem naquele lugar, ninguém pode comigo não moço – Aquele garoto disse e logo caímos na risada. 

— Mesmo assim, a partir de hoje você tá proibido de roubar uma fruta sequer dessa fazenda! Vou dar ordens as empregadas para que você venha aqui todos os dias buscar comidas frescas para você e o seu avô… Beleza? – Naquele momento novamente nos encaramos e aquele carinha soltou o sorriso mais puro que eu já havia visto. 

— Puxa, fico até sem graça… Obrigado moço! – Ele então me abraçou meio que de surpresa, logo retribui o abraço — Então, você é mesmo um dos donos dessa fazenda né? 

— Sim, sou Micael… O irmão mais novo do Matias. 

— Mais novo e também bonitão! 

— Nossa, confesso que por essa eu não esperava… Então o mocinho aí me acha bonito? 

— Demais da conta! – Ele respondeu com a voz um pouco trêmula, logo trocamos um sorriso e percebi suas bochechas ficarem coradas.

— E você, como se chama? 

— Ravi, Ravi dos Santos! 

— Foi um prazer te conhecer Ravi … Volta meio dia pra pegar a comida, combinado? 

— Sem dúvidas… Combinado! 

Após aquele momento aleatório, segui rumo ao casarão afim de finalmente acertar as contas com o meu irmão. Já faziam quase quatro anos que eu não pisava naquelas terras, e se eu pudesse jamais voltaria lá. Porém, naquele caso era realmente necessário. Ao entrar no casarão, segui direto para o meu antigo quarto e coloquei a mochila por lá. Em seguida, tomei um banho rápido para tirar o suor, vesti uma roupa qualquer e então fui atrás do meu irmão pela casa… Ele e sua esposa Bela estavam na sala de estar. 

— Bom dia família querida! – Exclamei meio debochado e ficou nítido a troca de olhares surpresos entre os dois. 

— Meu irmão, você por aqui? Anos que não te vejo! – Matias proferiu e logo se levantou para um abraço. 

— O que faz aqui Micael… A anos que você não pisa nessas terras? – Minha cunhada questionou em tom amigável, porém eu logo respondi a altura. 

— Você lembra que metade disso tudo aqui pertence a mim cunhadinha? 

— É claro… Mas já fazem tantos anos! 

— Você tem razão. Eu tava super de boas lá em São Paulo, não tinha vontade alguma de voltar a esse lugar mas vocês me obrigaram! Matias cara, já tem três meses que você não paga o colégio e por consequência dessa tua gracinha eu perdi o posto de capitão do time… Você sabe o quanto o fut é importante pra mim! – Desabafei em tom firme. 

— E o dinheiro que te mando todo mês? – Meu irmão questionou. 

— Dinheiro esse que a cada dia que passa você reduz? Mal da pra me sustentar e você ainda quer que eu pague o colégio com ele? 

— A fazenda está em um mal momento cunhadinho! Você acha justo o seu irmão ficar aqui se matando de trabalhar enquanto você fica lá de boa só esperando os lucros? 

— Bela, o próprio Matias concordou em ser assim… Ele ama essas terras mas do que tudo, já eu amo a minha liberdade pow, não nasci para ficar preso em uma fazenda! 

— Meu irmão, a questão é que as coisas se complicaram… E se você quiser continuar recebendo e estudando, terá que se matricular em um colégio público aqui mesmo da região! 

Naquele momento o meu sangue ferveu, eu poderia partir pra cima de meu irmão ali mesmo e sem peso algum na consciência. Prestes a estourar, sai dali o mais rápido possível e segui até os fundos da casa. Logo, tirei a camiseta, a joguei longe e apenas de bermuda pulei na piscina. 

Ravi

Sei lá, eu estava me sentindo tão estranho desde o momento que conheci o Micael… Um sorriso bobo ficou fixado em meu rosto, eu fechava os olhos e vinha sua imagem em minha mente, até o seu perfume estava grudado em mim. A verdade, é que eu não via a hora de vê-lo novamente, então, resolvi que era hora de ir até a fazenda como havíamos combinado. No caminho pra lá, acabei encontrando o Dudu e passamos a conversar em meio a caminhada. 

— Ravi… A um tempão que te procuro cara, onde tu se meteu? – Dudu questionou e eu apenas sorri — Oh vacilão, tô falando contigo! 

— Eita, foi mal cara! A verdade é que eu… Conheci um príncipe hoje. 

— Eita, como assim um príncipe? 

— É o irmão do Senhor Matias, ele é tão forte... tem os olhos claros e um sorriso muito bonito! 

— Você tá falando do senhor Micael? Ele tá aqui na fazenda? 

— Chegou a alguma horas, você já conhecia ele? 

— Claro que sim, esqueceu que o meu pai trabalhou pra essa gente e agora eu sou peão de lá? Só que já fazia um tempão que ele não vinha para as bandas de cá – Naquele momento parei de caminhar e me sentei em uma enorme pedra que havia por ali. 

— Escuta Dudu… O que é estar apaixonado para você? 

— Ah, sei lá… É meio como se você não conseguisse ficar longe da pessoa tá ligado? Você fecha os olhos e a imagina, sente um embrulho no estômago quando ela está por perto e fica sorrindo feito bobo sempre que lembra dela. 

— Nossa Dudu, e o pior é que eu estou assim… Estou assim desde o minuto que vi o Micael em cima daquele cavalo, enfrentando aquele capataz para me defender! 

Garoto Selvagem (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora