As aulas se passaram, entediantes como sempre, até o terceiro horário. Eu estava anotando qualquer coisa no caderno para parecer que eu estava ouvindo o que a senhora Delanay escrevia no quadro quando um aviãozinho pousou sobre a minha mesa.
Franzi...
- Vem! - ele se virou, movimentando as mãos para que eu o acompanhasse.
Suspirei.
Tinha medo que ele fizesse algo, mas também não tinha exatamente para onde ir.
Decidi seguí-lo, somente pela rosa que ele me mostrou em seu braço.
Nós caminhamos por um tempo, até quando ele parou, no meio do nada.
- O que aconteceu? - perguntei, a uma distância segura dele.
- É o limite desse mundo.
- O que? - ele estendeu a mão e a espalmou sobre o ar. Uma onda azulada reverberou diante do seu toque. Um escudo invisível. - É aqui onde eu e você somos pegos.
- É uma barreira? - aproximei-me dele, tocando a mesma, e sentindo a barreira como na casa de Vanessa.
Era dura e espessa ao toque.
- Sim. Somente os vermelhos não conseguem passar. - olhou para a reverberação azulada com raiva nos olhos cor de mel.
- Era o que tinha na casa da Vanessa. - conclui em voz alta. - Eles conseguem produzir esse tipo de coisa?
- É parte do poderzinho idiota deles. - deu de ombros.
- Eu não diria isso dessa forma. Eles nos mataram afinal, hum? Não é só um poderzinho idiota.
- Mas nós não vamos deixar isso como está. Não é, princesa? - havia uma súplica na última frase.
- Pare de me chamar assim.
- Porque? É o que você é.
- Talvez um dia eu deveria ter sido. Mas não sou. Esqueça isso. Vamos sair daqui antes que descubram que somos dois impostores.
- Sabe o que tem do outro lado da barreira?
- Como assim? - Virei-me.
- Este mundo dentro dela é uma ilusão criada pelos próprios azuis. No dia do massacre, o céu manchou-se com o nosso sangue. Escarlate é a cor que os persegue depois dele. Qualquer um deles consegue ver esse céu se passar pela barreira.
- O céu ficou... Vermelho?!
- Sim. Isso tudo é só uma réplica perfeita do mundo antes do massacre. Dentro de uma bolha. Dizem que até a chuva tem o gosto do nosso sangue.
- Nossa... - fiquei pensativa. Essa era a dimensão do nosso poder, algo que perpetuava além da vida. Algo que nem mesmo os Hadrias podiam compreender.
- Bem, vamos. Como você disse, podemos ser pegos e não estamos afim de morrer, não é?
- Espere. O que mais tem do outro lado da barreira?
- Eu não sei. - deu de ombros - Eu nunca passei por ela, né. Mas aquele seu amigo... Jack, hum?! Ele deve saber. - Jack.
Jack...
Senti minha visão rodar e meu estômago se contorcer.
- Está tudo bem? - Peter se aproximou de mim. Tudo estava ficando escuro e não sentia mais as minhas pernas.
A última coisa da qual me lembro é dos olhos dourados dele, confusos. As sobrancelhas grossas arqueadas e o impacto do meu corpo nos seus braços.
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