17 | D a d

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O táxi deixou Bea e depois me deixou em casa.

Avisei-o que depois acertaria a viagem e ele concordou, para minha sorte.

Suspirei na frente do portão de casa.

Eu vi a luz da sala acesa e meu corpo estremeceu. Já deviam ser quase duas da manhã e ninguém costumava estar acordado em casa a essa hora.

Engoli seco e abri o portão, ficando parada na frente da enorme porta de madeira, tentando reunir coragem para entrar.

Tudo o que eu conhecia e sabia sobre ele e meu amor pelo mesmo, deveria ser exterminado antes que eu pusesse os pés lá dentro. Mas era quase impossível reunir só pensamentos ruins, além do sentimento de medo e terror que se alastrava pelas minhas veias.

Agarrei a maçaneta. Fechei os olhos com muita força. Teria que acontecer.

Empurrei a porta e assim que coloquei meu pé sobre o piso branco da sala, comecei a tossir. Tossir muito.

Meu pai estava sentado no sofá e se levantou quando me viu.

Prendi a respiração. Eu conhecia essa substância. Era a mesma usada no umidificador na casa da Vanessa.

Eu o encarei.

Ele estava com as sobrancelhas franzidas e um sorriso que eu nunca tinha visto antes. Atrás dele, Sophia e Martha estavam com os braços amarrados por cordas e com fitas sobre suas bocas. Arregalei os olhos, ainda sem conseguir respirar.

- Bem-vinda de volta, Alice. - ele escancarou ainda mais o sorriso aterrorizante. Sua voz assumiu um timbre grave e eu me segurei para não tremer.

Ele se aproximou de mim e desceu violentamente a manga do meu casaco, no meu braço direito, expondo o desenho na minha pele mais uma vez.

Eu não aguentava mais ficar sem respirar, sentia meus pulmões doerem. Aguente Alice, só por mais um tempo. Repetia a mim mesma.

Sophia e Martha mostravam o medo com os olhos ao me verem e tentavam dizer alguma coisa, mas as fitas só permitiam que elas murmurassem desesperadas.

- Onde você estava? - meu pai sibilou atrás de mim, fazendo-me arrepiar. Fechei os olhos e soltei a respiração.

Voltei a tossir, sentindo a toxina cobrir minha garganta. Ele sabia que eu não conseguiria responder. Sabia que isso não me mataria, mas me torturaria para o seu deleite. Minha voz não sairia, dor era tudo que chegava ao meu cérebro e era o suficiente para ele se sentir no poder e no comando.

O ar que eu tentava inalar era pesado e meus olhos lacrimejavam.

Seus olhos estavam sobre mim, frios e indecifráveis. Talvez ele sempre fora assim, mas eu nunca tinha parado para enxergar isso. Para enxergar quem ele era realmente.

Finalmente, caí sobre meus próprios joelhos. Fraca, sentindo a garganta arranhar e arder mais do que conseguia suportar.

Ele andou calmamente até o umidificador sobre a mesinha, e o desligou.

Aos poucos eu conseguia respirar. Mas tudo já estava tão machucado, que falar era doloroso e arranhava cada vez mais o que já estava tão ferido.

- Porque? - murmurei - Porque? - as lágrimas corriam pelas minhas bochechas, desenfreadas. - Porque você fez tudo isso? - levantei-me com dificuldade. Minhas pernas tremiam e todo o meu corpo chacoalhava. Ainda assim, tentei me manter de pé.

- Você não me respondeu. - falou sem me encarar - Onde é que você estava?

- Lá. - respondi encarando o chão. - Lá... Onde... - escutei seus passos se aproximarem e a sua silhueta parar bem na minha frente.

Alice [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora