09. Tequila Para Os Azarados.

1.6K 190 95
                                    

Notas do Autor;

(Capítulo publicado em 2021, editado e/ou reescrito em 2024)

...........


Me lembrei das tardes de verão da minha cidade. Abafado e barulhento, o tempo inteiro, com carros e um ar denso que te penetra a alma, o padrão de uma cidade grande e desconfortável. Ironicamente, assim é o inferno. Essa ideia ainda me deixa meio pasma.

Num suspiro de incômodo, passo minha mão amenamente pela testa, e eu encaro o teto. O que será mais forte agora? Meu calor, que me fará levantar e ligar o ar-condicionado, ou a preguiça, que irá me prender e derreter até a segunda morte nessa cama quente e bagunçada?

Num grunhido, eu resmungo alto e jogo minha pernas para fora da cama, e cambaleio fracamente antes de ficar em pé. No que pego o controle do ar condicionado, me deparo com o horário. Aquela hora, Vaggie e Charlie devem ter voltado com Angel. Os escuto conversar e brigar na sala de entrada. Será que eu deveria sair e os ver?

Eu sinto que devo, mas não sei se quero. Devo estar a umas 2 horas trancada nesse quarto, evitando trombar com o Alastor pelos cômodos do hotel. Não me culpe por não querer conversa, eu tenho muito pra digerir ainda.

Agora, com o ar-condicionado ligado, eu me sento sob uma das pequenas poltronas do quarto, e me coloco a encarar a parede.

...Eu sinto falta da tia Erin. Ela está completamente só agora. 

Não acredito que a fiz enterrar mais um parente. Espero que um dia ela encontre forças pra me perdoar. Eu a amo demais pra passar a eternidade aqui com o rancor dela.

Eu suspiro, virando meu rosto e encarando a janela enquanto estou deitada. Me deparo com o vermelho sangue que era o céu do inferno. O único céu vermelho que já vi, por sinal. Ainda era uma imagem exótica pra mim. O céu é do mesmo tom de vermelho do terno do Alastor, reparei no dia da dança.

Eu nunca tinha dançado com alguém antes. Não sem ser uma valsa de colégio, ou algo parecido. Ter tido ele como uma dupla tinha me causado um sentimento novo que eu pensei que fosse viciar por um momento ou dois. Era um sentimento bom. Perigosamente bom. Ainda bem que eu me liguei e voltei a realidade.

Frustrada, eu me levanto e caminho até a porta, e então saio do quarto, fechando minha porta com cuidado. Já está um pouco mais tarde, e do topo das escadas, vejo Charlie perambulando pela sala da recepção. Essa Charlie... Ela realmente é um demônio? Ela parece tudo, menos um.

Eu me aproximo, e já conseguindo me ver da onde está, Charlie acena animada pra mim. 

"Oie! Como foi o seu descanso?" — Ela pergunta com tom tranquilo, sua voz me soa como uma zona de conforto.

"Eu não descansei." — Respondo curtamente, descendo do último degrau. Charlie me olha com compreensão, dando um sorriso sem-jeito.

"Não te culpo... Chegou aqui faz pouco tempo, não vai conseguir descansar tão cedo. Mas se te fazer se sentir melhor, eu posso te explicar algumas coisas sobre o inferno, tirar suas dúvidas... Ah, e eu posso te servir alguma coisa, pelo menos? Normalmente o Husk faria isso, mas ele não tá nos melhores dias dele, tadinho... ~"

Sua frase me chama atenção ao final, e a vejo caminhar até um pequeno bar. Ali, vejo pouco distante um gato alado desmaiado no sofá, possivelmente de bêbado, e Charlie parece ignora-lo ali. Talvez seja algo padrão da rotina...?

Então, Nós Temos um Trato?  -  { Alastor X OC }Onde histórias criam vida. Descubra agora