03. O Trato.

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(Capítulo publicado em 2020, editado e/ou reescrito em 2024)

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Assim que escuto o berro quase estridente da minha tia, eu me levanto do chão assustada. O chão do banheiro lembrava um raso riozinho, e a água ia do cômodo para fora dele, como uma pequena correnteza.


"PUTA MERDA! DESCULPA, ERIN!"

"COMO VOCÊ CONSEGUIU UMA COISA DESSAS?!"


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As coisas mais relevantes daquelas próximas horas foram um banho assustado, e um bom tempo de uma dupla passando o rodo na casa inteirinha pra se livrar de toda a água. Eu tive muito tempo pra processar todo choque, e ainda sim não parece ter sido suficiente. Foi estranho esconder o ocorrido da minha tia, e de maior parte, fingir que estava tudo certo e que eu estava completamente bem.

Agora, depois de tudo, me encontro sob a batente da minha janela, suspirando alto. Minha janela era pequena e tinha a vista para uma rodovia agitada, no centro da cidade. Era bonito quando não era barulhento. Eu até tentava focar na vista para me acalmar, mas a cena daquele estranho homem simplesmente andando pelo meu banheiro não saia da minha cabeça. Era a minha mais nova e frequente paranoia.


...Mas que oferta era aquela, pra início de conversa? Ou melhor, do que ele tinha chamado mesmo? ...Um trato?

...Talvez, talvez... Valesse a pena?


NÃO, não, eu não estou considerando realmente fazer um acordo com um demônio, ou seja lá o que ele era. Eu só... Tô pensando. Só isso.

 Ele comentou sobre o tal incidente escolar, o mesmo que havia sido responsável pela minha suspensão de 2 dias. Aquela semana havia sido um completo desastre.

No começo daquele semestre escolar eu tinha me metido com o tipo de gente que ninguém deveria ficar perto. A maioria eu nem mesmo sabia o nome. Mas não era não necessário pra mim saber, de qualquer forma. O importante, é que eles tinham muito mais poder do que eu nos corredores daquela faculdade, e o resto dos outros alunos comiam na mão deles.

Eles grudaram em mim e começaram a me usar de capacho. Eu não era a única, também não era a primeira ou a última, mas eu era a mais recente. Eu era novidade.

E o privilégio que eu recebia era não ser incomodada por mais ninguém. Parece uma troca justa de início, e realmente era. Até as coisas passarem dos limites.

No começo eu fazia o quê? Passava recados, ajudava eles a esconder e passar bebida ou drogas entre os alunos, as vezes eram só cigarros. Depois, eu comecei a acompanhar eles quando eles faziam questão de fazer bullying com alguma pobre alma que acabava entrando no caminho deles.

Numa dessas, eles me pediram pra participar e machucar feio um garoto. Ele era mais novo que a gente, e honestamente, era só um coitado. Eu me recusei de início, mas eles deixaram claro que se eu não fizesse, eu ia ser a próxima, então eu fiz.

Me fizeram obrigar o garoto a fumar um cigarro inteiro. Ele era asmático.

O moleque obviamente teve uma crise de asma e quase morreu no hospital. Naquela tarde, o caos se instalou no colégio, e aquela foi a última vez que eu andei com eles.

Então, Nós Temos um Trato?  -  { Alastor X OC }Onde histórias criam vida. Descubra agora