Ferrari

Capítulo 21 - Acordo.

⠀⠀⠀ Kelsey olhou para o próprio tio e quando ele saiu de sua vista revirou seus olhos castanhos. Era imensamente ridículo ele imaginar que ela poderia ter algum conflito com a sua esposa, sendo que a mulher em si, já era uma histérica. A menina nem mesmo trocou palavras de farpas com a mulher e ainda tem que receber aquilo de Ethan? De fato, a família era de loucos.
⠀⠀⠀ Ela avistou uma empregada e perguntou se os empregados solicitados para buscar seus pertences demorariam muito. A mulher, que era bastante educada — ou apenas por ser seu trabalho —, respondeu um "Não, senhorita Ferrari". A morena então subiu o enorme lance de escada e viu a empregada indo para o quarto ao lado do principal, vulgo, o quarto dos donos da casa.

─ Ei, não! Eu quero este.

─ Mas senhorita...

─ Eu me resolvo com o meu tio, apenas quero o quarto perto do de Arthur.

⠀⠀⠀ A menina disse e logo entrou no quarto com a mulher. A moça foi diretamente à cama, trocando os forros e colocando um mais limpo do que o anterior. Kelsey, andou até o banheiro e encheu a banheira, fazia mais de uma semana que ela não tinha um banho de verdade, precisava daquele relaxamento. Após um banho de quase meia hora, ela retornou ao quarto enrolada em um roupão. Enquanto suas coisas não chegavam, ela usou o secador, com a escova própria, para secar seus fios castanhos escuros.

⠀⠀⠀ Uma batida na porta, e logo um homem entrou, trazendo a bagagem dela. Ele saiu pedindo licença e Kelsey se colocou diante das malas dela. Ela as abriu e viu suas roupas totalmente organizadas. A garota arrastou as malas para o closet e as deixou ali, pegou uma camisola — uma ordem de Ethan —, mesmo ela preferindo os baby dolls. Passou um hidrante que tinha um frescor de morango e logo mais ela começou a arrumação de seu closet enquanto cantarolava uma música em sua mente, fazendo o som de sua boca sair em resmungos.
     
⠀⠀⠀ Alguns instantes depois, a porta do quarto foi aberta repentinamente. E Ethan entrou, como havia dito, e se colocou a procurar a mais jovem.
⠀⠀⠀ Ele caminhou para dentro e viu que ela estava colocando as roupas no lugar. Por um momento apenas aproveitou a imagem da morena envolta na camisola preta e sexy insinuando — involuntariamente — a bunda na  direção dele.

— Quando eu te der uma ordem, você vai seguir a risca Kelsey. Sente-se na cama. — Refez as palavras de minutos atrás. — É onde eu mandei você me esperar.

⠀⠀⠀ Ela tomou um leve susto quanto a voz grave e máscula do tio ecoou pelo recinto. Rapidamente ela se colocou de pé, ajeitando sua camisola. Ela estava pronta para soltar algo que pudesse responder seu tio, mas o acordo era claro e ela apenas respirou fundo.

─ Claro... Desculpe-me.
⠀⠀⠀ Em sua mente era ridícula aquela cena, mas ela passou pelo homem alto e mais velho que ela e andou até o centro do quarto. Logo mais, Kelsey se sentou na cama, passando uma de suas pernas acima da outra.

⠀⠀⠀ Crowley não esperava que ela fosse ceder e aquilo devia estar estampado em sua  expressão de surpresa. Mas também, não iria questionar, era bom que ela cooperasse.
⠀⠀⠀ Ethan caminhou até ela arrastando a ponta dos dedos pela mobília até parar mais uma vez de frente para a morena.

— Você tem a minha parte do acordo, espero que não tenhamos dificuldades com a sua. — Kelsey comentou para depois arrastar a língua vagarosamente pelos lábios.

— Já te falei como quero que se refira a mim. — Lembrou-se de dias atrás, no qual já havia dado tal ordem. — Então nunca, em hipótese alguma, me chame pelo nome ou por "você". A menos que eu peça. Você não tem esse direito.
⠀⠀⠀ Ethan disse encarando os olhos da menor.
— Também não vai usar calças ou shorts enquanto estiver comigo. — Acrescentou. — Sem tênis ou aquelas roupas que te deixam com aparência de moleque. Você tem quase vinte anos, se vista como uma mulher.
⠀⠀⠀ Ele pensou um pouco antes de continuar.
— Vai seguir minhas ordens com fidelidade e sem deturpação. Não vai me olhar nos olhos a menos que tenha ordem para isso e vai abaixar a sua cabeça quando estiver diante de mim.
⠀⠀⠀ Crowley sentou-se com elegância ao lado dela e virou o rosto na sua direção.

⠀⠀⠀ Kelsey escutou com atenção as regras que deveria cumprir para que o acordo entre ambos, fossem ligeiramente bem seguido. Ela não via problema em o chamar de tio, embora, ela não o visse mais como tal, mas para outros, eles possuíam esse grau de parentesco.
⠀⠀⠀ A segunda parte de certa forma a incomodou um pouco. Andar de salto alto e vestido o dia todo, era quase um sacrifício, para a morena que sempre estava agitada e gostosa de trajes confortáveis.

─ Calma... Você quer que eu use salto e vestido o dia todo? Et... Tio, isso é um absurdo. Lembrando que eu não sou a sua mulher, que não faz nada o dia inteiro.

⠀⠀⠀ Ela fala indignada e cruza seus braços abaixo dos seios. Ela podia ser feminina usando calça, shorts e tênis. Não era uma retrucada, apenas um debate sobre as exigências dele. Ela não sairia sem benefícios.

— Não. — O loiro respondeu à primeira pergunta dela. — Eu disse que te quero de salto e vestido enquanto estiver comigo. — Repetiu as palavras que já havia pronunciado. — E eu não planejo ficar o dia todo de babá.

— E se em algum momento eu quiser te tocar...    
⠀⠀⠀ Ele continuou, mas, dessa vez, levou uma das mãos à coxa da garota, arrastando-a espalmada para dentro de sua camisola.
⠀⠀⠀ Ele sabia que aquilo a desestabilizava e era assim que ele saberia se ela estava mesmo disposta a seguir sua parte do acordo.
— Você vai deixar, sem reclamações.

⠀⠀⠀ A morena sentiu um arrepio com a mão ousada do tio e logo mais ela segurou o pulso dele, olhando em seus olhos.

─ Tudo bem. — Ela se deu por vencida. — Eu aceito abaixar a cabeça, não retrucar, te chamar somente de tio, até mesmo essa ideia de me vestir como uma mulher, que no caso você deveria estar exigindo isso para a sua mulher, porque convenhamos, ela não é tão jovem assim... Mas enfim... Abuso não, isso é pesado demais. Você já me estuprou uma vez, e eu não quero que aconteça novamente.

— Pensa comigo, Kelsey. — Ethan apertou  mais forte a mão em sua coxa.
— Independente do que você quer ou não que aconteça, o que eu tiver vontade de fazer eu vou fazer.
⠀⠀⠀ Falou fitando as suas íris escuras arrastando a mão mais a dentro, tocando com a ponta dos dedos a calcinha da garota, sobre sua intimidade.
— Não é melhor você aceitar? Não torne as coisas mais difíceis, criança. Sabe que eu nunca vou precisar da sua permissão.

⠀⠀⠀ Quando sentiu os dedos do tio rente a calcinha, Kelsey respirou fundo, fechando seus olhos. Ela sentiu o seu corpo reagindo, e isso não era bom, ela não podia gostar dos dedos dele em sua intimidade, não mesmo.

─ Eu sei que se eu não ceder, vai acabar igual da última vez... O que eu não quero. ─ ela fechou os olhos ainda se lembrando da maneira bruta que ele agia com ela naquela cama. ─ Eu não vou reclamar, mas isso... Não quer dizer que eu queira e muito menos goste.

— Que bom que pensou melhor. — Ethan respondeu satisfeito e afastou a mão das coxas da menor. Ele levou os lábios ao ouvido dela a fim de sussurrar:
— Melissa não precisa ficar sabendo disso. Ninguém precisa.
⠀⠀⠀ Alertou-a e então deu-lhe um beijo calmo sobre a bochecha, como costumava fazer quando ela era ainda uma criança e de modo que permitia a ele sentir o contraste de sua pele macia contra a barba por fazer.

⠀⠀⠀ O loiro levantou-se e então caminhou calmamente até a porta. Ele a abriu, mas antes se virou uma última vez para a morena.
— Eu não quero te machucar, Kelsey.
⠀⠀⠀ Pelo menos não da maneira que você está pensando. Ele pontuou em pensamentos.
— Minha guerra não é contra você. Então se cooperar, podemos fazer isso dar certo.
⠀⠀⠀ Concluiu e sem esperar resposta da sobrinha ele deixou aquele quarto.