Capítulo Um | Cinza

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Está escuro. Eu não consigo ver, ouvir ou sentir nada.

Onde estou? Eu sei que estou em algum lugar.

Como sei? Eu simplesmente... Realmente, não sei. Mas é sempre assim, até onde eu consigo me lembrar.

Ao longe, no meu subconsciente, eu escuto um barulho peculiar. Um barulho que está aumentando mais e mais.

Então, eu vejo a luz! Meus olhos se abrem para um novo dia. Uma nova semana. Para o início de um novo nada, como sempre. O barulho do despertador irrita os meus ouvidos e a minha vontade é de atirá-lo pela janela no meio da rua londrina. Mas não acho que isso irá resolver os meus problemas.

Estendo a minha mão e desligo o maldito berrador, e ao fazer tal movimento vejo que o aparelho alarmou mais de uma vez, pois - Merda! - estou atrasado.

Pulo de minha cama perfeitamente acordado e já bastante irritado. Não só por estar atrasado para o meu primeiro dia de aula na universidade depois das férias, como também estou irritado com os meus sonhos. Quer dizer, nenhum sonho. Há semanas venho apenas enxergando a escuridão do meu próprio inconsciente. E o pior é que isso tem me rendido gastos com um psicólogo. Mas, por enquanto, preciso deixá-lo de lado, pois tenho problemas maiores para resolver.

Já de pé, não posso me dar ao luxo de arrumar a cama. Dela, vou diretamente para o banheiro, onde tomo uma ducha rápida. Mal a água começa a esquentar, eu já estou fora dela e do banheiro. Rapidamente, corro pelo quarto para o velho guarda-roupa de quatro pés, apanhando, sem muita escolha, a roupa que venho vestindo durante todos esses anos em que estou na universidade. O terno preto com a gravata vermelha tem sido o uniforme da Chelsea College of Art and Design, depois que a sra. Carter assumiu a diretoria. Sinceramente? É ridículo! Me sinto um garçom usando-o. Na verdade, já fui confundido com um, após entrar em um restaurante trajando tal roupa. Infelizmente, é com ele que eu ganho a vida.

Sem mais demora, desço a escada de dois em dois degraus e corro para a cozinha, onde eu pego a minha pasta sobre a mesa, e sem me dar ao direito de tomar café da manhã, me dirijo para a saída. Logo abro a porta e estou na calçada, inspirando o ar matinal e frio da famosa Londres. Meu carro está estacionado a meio-fio, e é para ele que eu vou às pressas.

Por sorte, da minha casa, na Juer Street, para a universidade são oito a dez minutos de carro, isso sem trânsito. Chegarei atrasado, mas não tanto quanto chegaria se eu morasse mais longe.

Ao entrar no carro, olho para retrovisor e percebo que o meu cabelo está despenteado. Tento, sem muito sucesso, arrumá-lo passando os dedos agitados. Por enquanto, isso terá que servir, pelo menos até que eu possa estar no banheiro da instituição. Sem mais, giro a chave na ignição, sinalizo e acelero.

Diferentemente do Brasil, as ruas de Londres são calmas durante as primeiras horas da manhã. Eu sei disso porque sou metade brasileiro e não londrino. Nasci no Brasil e morei por lá durante muitos anos, até que... Bom, até que algo terrível me aconteceu e eu decidi embarcar para a Terra da Rainha. No início foi muito difícil. Não tinha dinheiro suficiente para viver mais de um mês, e tive que usar do meu talento para conseguir algum. Posso dizer que cheguei ao nada, até que, felizmente, consegui um emprego na University of the Arts London (UAL) como professor de História da Arte.

pinturas intimas; noanyOnde histórias criam vida. Descubra agora