Capítulo Quinze | Branco

495 41 15
                                    

Olho para o Beaufort House e sinto como se as portas vermelhas do “pequeno” prédio fossem as portas da minha liberdade

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Olho para o Beaufort House e sinto como se as portas vermelhas do “pequeno” prédio fossem as portas da minha liberdade. Atravessá-las me dará a certeza de que quando eu voltar terei me livrado dos fantasmas do passado, pronto para viver realmente.

Dentro do carro, sinto a presença negativa de uma vida que me trouxe muito sofrimento, no fim. Isso se faz presente através da tela embrulhada em papel pardo, jogado no banco de trás. Ao meu lado estão as rosas queAnie me entregou. Não sou homem de flores, quer dizer, não mais. Numa vida passada, a qual não lembro, pensava presentear uma mulher sempre com flores. Mas depois de... Bom, esqueci ou apenas deixei esse gesto de lado. Agora, espero que Any goste e que eu não tenha esquecido cem por cento de como ser um homem romântico. Claro, primeiro ela precisa me escutar.

Saio do carro e vou até a recepção do prédio. Não há ninguém. Sento-me no sofá próximo a entrada, na esperança de que alguém apareça e me deixe subir para o apartamento de Any. No entanto, passasse minutos, e estes se arrastam para uma hora, depois duas e eu já não estou mais contando o tempo.

Pessoas sobem e descem, e nenhuma sabe me informar sobre o recepcionista. Infelizmente, nenhuma me permite subir para ver Any. São regras do prédio. Ela não desce e eu não estou com o meu celular, esquecido em cima da mesinha de minha sala quando saí às pressas para fazer o que ainda tenho que fazer. O quadro está ao meu lado, como um pequeno demônio a influenciar os meus pensamentos. A cada minuto, penso que poderia ir embora e esquecer a maluca ideia de contar a minha história para Any. Mas assim que penso nisso, também tenho as palavras incentivadores de Anie.

Não aguento mais esperar e tento a todo custo ter acesso ao elevador. Como se o destino agora estivesse contra mim, finalmente o recepcionista aparece, mas ao me ver foçar a minha entrada, ele chama a segurança. Não tenho tempo de me explicar, e sou jogado na rua como um saco de lixo, proibido de entrar novamente no prédio. Eu poderia gritar, fazer um escândalo, pois assim eu teria a atenção de todos no prédio, inclusive de Any. Entretanto, tudo que quero é conversar com ela no calor de seu lar e não na escuridão, fedorenta e sombria cela de prisão, para onde com certeza me mandariam se eu assim o fizesse.

Fico sentado na pequena escada de entrada, torcendo para que em algum momento Any apareça. Graças aos seguranças, que me jogaram na calçada húmida e suja, minhas roupas não estão tão diferentes das de um morador de rua, e assim devem me achar os inquilinos que vão chegando, à medida que à tarde se despede dando espaço para à noite. Definitivamente, perdi a noção do tempo.

Com à noite, vem o frio, e para o meu azar esqueci também de meu sobretudo atrás da porta. A roupa que estou vestindo não me manterá aquecido por muito tempo. Londres é fria de natureza, e à noite é quase impossível sair de casa sem algo para lhe aquecer. Me encolho na escada, junto a tela, e assim fico por mais algum tempo.

Para piorar, logo começa a chover. Assim que sinto as primeiras gotas de chuva, começo a rir loucamente, achando o quanto o destino está sendo irônico comigo. Desde o início, pensei que ele estivesse do meu lado, trazendo Any para junto de mim. Agora, penso que na verdade ele só quer brincar ainda mais comigo, como se eu já não tivesse sofrido o bastante durante a minha vida. Mas, enganasse que eu desistirei. Permanecerei nessa escada até que Any desça para ir a universidade quando amanhecer. Passarei à noite se for preciso, e mesmo que eu morra de hipotermia, saberei que morri tentando.

pinturas intimas; noanyOnde histórias criam vida. Descubra agora