Capítulo Doze | Salmão

620 57 4
                                    

Depois de ter deixado o carro de Any na oficina e voltado para pegar o meu, estacionado a meio-fio da calçada de minha casa, dirigi para a universidade

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Depois de ter deixado o carro de Any na oficina e voltado para pegar o meu, estacionado a meio-fio da calçada de minha casa, dirigi para a universidade. Eu poderia ter ido para a minha sala e ter ficado nela até a hora do almoço, quando procuraria Any. Mas assim eu não fiz.

Estar na minha sala seria um perigo obvio, uma vez que a sra. Hidalgo me procuraria. Sim, eu estou ou sempre estou escapando dela. Podem não entender, mas Sabina é perigosa. Uma mulher predadora, e sinto muito em dizer que já fiz parte de suas caças, muitas vezes. Não me orgulho do que fiz, mas caso não o tivesse, não seria professor de uma renomada universidade. E agora, principalmente, não teria conhecido Any. Não sei se ela e eu temos alguma coisa, mas se há essa possibilidade, preciso me manter afastado do perigo, e isso quer dizer me manter longe da sra. Hidalgo.

São contadas as vezes que vou a sala dos professores ou ao Departamento de Artes, pelo menos não quando Sabina lá está. Quando sei que saiu ou está de viagem, posso conversar com os meus colegas, não que a conversa me agrade, mas posso me socializar tempo suficiente para deixar minha marca de bom professor. Bom, na verdade, de ser exemplar, não participativo e de muitos amigos. Gosto de ser o professor rude e antissocial da universidade.

As reuniões são insuportáveis. É difícil se concentrar, quando sou praticamente obrigado a sentar ao lado da sra. Hidalgo e tê-la a passar suas pernas sobre as minhas, sob a mesa, durante as discussões acadêmicas.

Mas há um lugar onde ela não pode entrar, pois assim eu estabeleci. Aqui, onde agora estou, ninguém nunca entrou. Nem mesmo as faxineiras. Eu me encarrego da arrumação nos finais de semana, e sou o único que tem a chave.

Como eu tenho todo esse privilégio?

Simples. Eu comprei a sala. Não, não estou de brincadeira. Fariam desta sala um depósito, e eu procurava por um espaço distante dos alunos e dos demais professores. Falei com Sabina e ela conversou com o reitor, e como na época a instituição precisava de dinheiro para uma reforma em uma das salas, ele aceitou a minha oferta. Esse foi um dos meus poucos investimentos. Não sou rico, mas ganho bem e não gasto com muito. Sempre tenho dinheiro para algo que realmente quero e necessito.

Esta sala é o meu espaço. A minha caverna, como já escutei pelos corredores. Aqui eu posso pensar calmamente, e sem medo de ser interrompido. Aqui eu faço o que realmente gosto de fazer que é falar comigo mesmo; com a minha própria alma. Nesta sala posso expulsar os meus fantasmas através da minha arte. No meu ateliê me perco em várias emoções.

Nos últimos meses, entrei nesta sala, sentei sobre o banquinho no qual estou e olhei para a tela, como agora estou olhando, e em nenhum desses momentos eu consegui pintar se quer uma forma geométrica. A tela permaneceu em branco por muito tempo.

Até agora.

Estou surpreso comigo mesmo, mas depois desse tempo de trevas, hoje entrei no ateliê com vontade de pintar. Não algo com forma, mas simplesmente misturar cores e ver elas ganhando vida à medida que aumento as pinceladas. Já é quase hora do almoço, e eu me encontro sorrindo enquanto passo o pincel sobre a tela, com força, fazendo a tinta em água escorrer lentamente.

pinturas intimas; noanyOnde histórias criam vida. Descubra agora