Capítulo 10

3K 449 27
                                    

Jimin

Eu não conseguia dormir. Não importava o quanto eu tentasse, não conseguia cair no sono. Eu estava exausto mental e fisicamente, mas não conseguia relaxar. Os eventos estranhos dos últimos dias se agitavam em uma constante em minha mente. A oferta inesperada de Jungkook, minha resposta mais inesperada ainda, e a reação dele em relação ao local onde eu estava morando. Ele ficou mais do que enojado e furioso, com seu comportamento autoritário comum com força total. Antes de eu poder piscar, minhas poucas coisas estavam no porta-malas de seu carro grande e luxuoso, e eu estava de volta em sua casa de forma permanente ou até acabar o plano vazio dele.

O plano vazio no qual agora eu estava totalmente envolvido tanto quanto meu chefe. O condomínio era silencioso. Não havia literalmente nenhum barulho. Eu estava acostumado com os sons que me rodeavam à noite; tráfego, outros inquilinos andando para lá e para cá, gritando, e o som constante de sirenes e violência do lado de fora da minha janela. Eram esses ruídos que me mantinham acordado, algumas vezes com medo, e mesmo agora que não tinha nada, eu não conseguia dormir.

Sabia que estava seguro.

Aquele lugar era cem, não, mil vezes mais seguro do que o quarto horrível em que morei no último ano. Eu deveria conseguir relaxar e adormecer tranquilamente. A cama era enorme, alta e macia, os lençóis de seda eram macios e chiques, e o edredom parecia uma pluma quente flutuando sobre meu corpo.

No entanto, o silêncio era muito alto. Saí da cama e fui até a porta. Eu a abri, estremecendo pelo barulho baixo que as dobradiças faziam ao protestar seu uso. Estiquei minhas orelhas, mas não consegui ouvir nada. Estávamos muito alto para ouvir o tráfego, e as paredes eram bem isoladas, então não havia nenhum barulho dos vizinhos no prédio.

Andei na ponta dos pés pelo corredor, parando na frente da porta do que eu sabia que era o quarto de Jungkook. Estava entreaberta e, corajosamente, abria um pouco mais e enfiei a cabeça na abertura.

Ele estava dormindo no meio da cama gigantesca, maior que a do meu quarto sem camisa, com sua mão descansando no peito. Obviamente, os acontecimentos dos últimos dois dias não o estavam incomodando.

Seu cabelo brilhante refletia contra a cor escura dos lençóis e, para minha surpresa, ele roncava.

O som era sutil, mas constante. Relaxado, e sem o olhar de escárnio no rosto, ele parecia mais jovem e menos tirano. Na luz silenciosa da lua, ele parecia quase tranquilo. Não era uma palavra que eu associaria a ele, e ele não pareceria assim se acordasse e me visse em sua porta.

No entanto, eu precisava ouvir o som de sua respiração regular e seu ronco ressoante. Para saber que não estava sozinho naquele lugar amplo e desconhecido. Ouvi por alguns minutos, deixei a porta dele aberta e voltei para meu quarto, deixando a porta entreaberta também.

Deitei de volta na cama e me concentrei. Estava baixo, mas eu conseguia ouvi-lo. Suas bufadas esquisitas me ofereciam um pouco de conforto, um cordão salva-vidas do qual eu precisava desesperadamente.

Suspirei percebendo que, se ele soubesse que estava me confortando, provavelmente ficaria acordado a noite toda para me negar a segurança que me trazia.

Enterrei meu rosto no travesseiro e, pela primeira vez em meses, chorei.

Ele estava quieto pela manhã quando entrei na cozinha.

Bebia de uma caneca grande e indicava que eu podia ficar à vontade com a máquina de café no balcão. Em um silêncio bizarro, fiz um café, sem saber o que dizer.

— Não esperava companhia. Não tenho creme.

— Tudo bem.

Ele empurrou uma folha de papel para mim.

— Escrevi sua carta de demissão.

Franzi o cenho ao pegar o papel e ler. Era simples e direto.

— Você não achou que eu mesma poderia escrevê-la?

— Eu queria me certificar de que fosse sucinta. Não queria que detalhasse seus motivos para sair.

Balancei minha cabeça.

— Não entendi.

— O quê? O que você não entendeu agora?

Ele passou uma mão na nuca.

— Se não confia em mim o bastante para escrever uma simples carta de demissão, como espera confiar em mim o suficiente para agir como se fôssemos, a palavra ficou presa em minha garganta — amantes?

— Uma coisa eu sei sobre você, Jimin, e é que você trabalha duro. Fará um bom trabalho porque é o que faz. Você agrada. Vai agir exatamente da forma que preciso porque quer ganhar o dinheiro que estou pagando. Ele pegou sua pasta. — Vou para o escritório. Há uma chave extra e um cartão para entrar no prédio na mesa do corredor. Seu nome já está na lista de moradores e o porteiro não vai aborrecê-lo. Você deveria se apresentar a eles, só para ter certeza.

— Como... como você já fez isso? Não são nem oito horas.

— Eu estou no jogo, e consigo o que quero. De acordo com os arquivos, você está vivendo aqui há três meses. Quero sua carta de demissão em minhas mãos logo depois do almoço, e você irá embora. Pedi que algumas caixas de arquivo fossem entregues no escritório. Não tenho muita coisa, mas você pode me ajudar a embalar minhas coisas pessoais hoje de manhã. Coloque qualquer coisa sua nas caixas. Vou trazer tudo para cá.

— Não tenho muita coisa no escritório.

— Certo.

— Por que vai encaixotar? Ainda não foi demitido.

Ele deu um sorriso. Aquele que não tinha nenhum carinho. Aquele que fazia a outra pessoa ficar extremamente desconfortável.

— Decidi me demitir. Vai irritar David e mostrar a Taehyung como estou levando a sério. Aceitarei sua demissão e entregarei as duas cartas para David às três. É uma pena que não estará para ver o show, mas vou te contar todos os detalhes sórdidos quando chegar em casa.

Fiquei boquiaberta. Não consegui acompanhar.

— Você gosta de comida italiana?

Sua pergunta estava fora de contexto, como se ele não tivesse acabado de soltar uma bomba.

— Hum, sim.

— Ótimo. Vou pedir o jantar para as seis, e podemos passar a noite conversando. Amanhã de manhã, você vai às lojas para comprar uma roupa adequada para o churrasco, e eu marquei um horário para fazer seu cabelo e etc. Quero que entre no personagem. Ele se virou. — Vejo você no escritório.  Depois riu, e o som me fez arrepiar. — Docinho.

Sentei-me quando a porta fechou, sentindo-me tonto. Com o que eu tinha concordado?

O Contrato (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora