03. Seis dividido por um é mais complicado do que parece

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— Acorda, Sohee! Puxa vida, seu despertador não funciona, não? — Abro os olhos com dificuldade ao som da voz de minha mãe. A luz do dia ultrapassa as frestas da minha cortina com um pouco mais de intensidade do que o normal.

— Que horas são? — Consigo perguntar, ainda perdida em minha própria confusão matinal.

— Já passaram das seis e meia.

— O QUE? — Dou um salto da cama até o banheiro e é como se a adrenalina do atraso se espalhasse pelo meu corpo com tanta velocidade que a Sohee cansada de vinte segundos atrás já não existe mais. Me arrumo com a velocidade da luz e mantenho olhares ansiosos pela casa em busca de qualquer coisa que eu possa estar potencialmente esquecendo de levar apenas pelo hábito.

— Sohee! Não esqueça de que hoje você trabalha na loja à tarde! — Ouvi minha mãe gritar enquanto passava pela porta. Na TV, consigo ouvir o repórter do noticiário mencionar a palavra "tempestade", mas não há tempo de ouvir toda a chamada.

Não quero ter de voltar para pegar um guarda-chuva então apenas torço mentalmente para que não haja chuva.

Como eu sequer deixei de ouvir o despertador tocar?

 •

Saio de casa sem nem ter tempo para comer e já sinto meu estômago revirar enquanto caminho. Ia ser bem inconveniente se eu desmaiasse no meio da rua, então decido parar no local mais próximo e comprar algo para pelo menos disfarçar minha fome até o intervalo.

Avisto o café familiar no qual eu costumava ir, então, sem pensar duas vezes, adentro o estabelecimento.  Ainda está vazio, provavelmente porque minha vizinhança é pouco movimentada, mas eu reconheço alguém ali.

Lee Jeno está parado na fila bem na minha frente.

Achei que ele só trabalhasse aqui depois da escola, mas aparentemente também é um cliente. 

Torço mentalmente para que ele me veja e fale comigo, mas Jeno sequer olha para trás. Seu pedido fica pronto e ele sai com pressa do café enquanto eu ainda estava esperando pelo meu.

Quando finalmente consigo meu café e meu bolinho, corro para a escola, engolindo ambos durante o caminho sem muita cautela para evitar me sujar ou mastigar direito.

Para completar meu azar, minha primeira aula é de artes e, apesar de eu normalmente gostar muito dessa classe, a sala de aula é no segundo andar e eu ainda preciso buscar meus materiais artísticos no armário antes de seguir para ela.

Quando chego ao hall do colégio, onde os armários dos estudantes estão presentes, não há mais alunos nos corredores. Ótimo, eu cheguei mais atrasada do que pensava.

Subo as escadarias do colégio e corro para a tão esperada aula de artes. Chego na porta e seguro a maçaneta com cautela enquanto rezo mentalmente para que ninguém note a minha chegada - mas, infelizmente, não é o que acontece.

—  Perfeito! Senhorita Kang Sohee, estávamos agora mesmo decidindo quem seria o modelo vivo da aula de hoje. Você poderia nos fazer este favor? —  Pede a professora assim que adentro a sala. Todos os olhares se voltam à mim e eu retribuo com um sorriso amarelo, sem muito jeito para recusar o convite.

Lição de vida: quando lhe pedem algo na frente de todos, você não tem muita abertura para declinar.

—  C-claro. Posso sim. —  Inclino a cabeça e tento mostrar o máximo de simpatia que tenho em mim, mesmo com toda a vontade de desaparecer que eu estava sentindo.

Meus olhos encontram os de Huang Renjun, sentado na primeira fileira, que possui um semblante atento mas, ao mesmo tempo, despreocupado. Ele desvia calmamente o olhar e se volta à tela de pintura em sua frente.

A lista dos garotos perfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora