11. As histórias que vivemos

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Seul. 02 de setembro > Terça - feira

Caminho com leveza pelas vielas e ruas estreitas de meu bairro enquanto aproveito o ar fresco da manhã. Apesar de ter muitas preocupações a se pensar, decido reservar esse pequeno momento de caminhada para relaxar e manter minha mente livre de problemas.

O clima outonal já começava a se instalar aos poucos e as folhas das árvores já estavam escurecidas. Algumas vizinhas de mais idade e clientes regulares na loja aparecem em seus quintais e me desejam um bom dia.

Eu não costumo ser extremamente otimista sobre a maneira que vejo o mundo. Contudo, hoje o dia parece estar querendo me dizer que vai dar tudo bem.

E, para provar meu ponto, um barulho de rodas de bicicleta parando bem atrás de mim interrompe minha contemplação.

— Quer companhia? — Jeno aparece ao meu lado, me oferecendo um sorriso gentil.

Ainda é novo para mim isso de conversar com ele livremente: passamos tanto tempo nos evitando por motivos idiotas que agora parece até irreal estarmos juntos.

— Claro! — Sorrio de volta e ele desce de sua bicicleta, caminhando ao seu lado. A princípio, permanecemos em silêncio aproveitando o clima das ruas, mas, depois de certo tempo, algumas conversas começam a fluir calmamente.

Ambos estávamos curiosos um sobre o outro e ainda levemente impressionados com o nosso mal entendido que acabou durando tanto tempo.

— Eu pensava mesmo que você tinha me achado insuportável. — Rio ao lembrar de como eu vivia cheia de dúvidas quanto ao Jeno. — Um dia, estávamos conversando no café e no outro, nem nos olhávamos nos corredores!

— Mas isso foi culpa sua que não me ouviu quando falei com você na escola! — Ele acusa, apontando para mim e rindo logo em seguida. — Pelo menos eu tentei!

— Em minha defesa eu tenho um grau leve de surdez depois de passar tantos anos perto da Jihyun. 

Continuamos flutuando entre nossos assuntos e mal percebemos quando chegamos nos portões da escola. Jeno rapidamente tem sua feição substituída de leve e feliz para hesitante ao adentrarmos o local.

Não é para menos - visto que todos os olhares no grande saguão principal se voltam a nós dois. Evito retribuir quaisquer encaradas curiosas de meus colegas e apenas continuo andando, agora cabisbaixa, ao lado de Jeno. Percebo toda a sua confiança e postura relaxadas de agora há pouco sumirem diante dos cochichos ao nosso redor e me sinto mal por ele.

"Achei que ninguém tinha coragem de andar por aí com esse cara..." Ouço alguém perto de nós comentar e me viro para encará-la. Se trata de um grupo de garotas de nosso ano - todas protegidas pela sua bolha social e achando plausível dar opiniões inconvenientes livremente por aí. Uma delas, inclusive, era Yoon Chaewon

"Tem gente que é desesperada por companhia mesmo." Chaewon responde à amiga. Apesar do tom mais baixo que o normal, suas palavras estavam longe de serem segredadas - era como se elas quisessem que ouvíssemos aquilo.

Eu definitivamente não conhecia o lado "patricinha-má" de Chaewon, e foi muito desagradável encontrá-lo. Nenhum de nós responde, entretanto, mostro a elas o melhor olhar de advertência que consigo.

Não é justo que todos tirem suas próprias conclusões equivocadas sobre alguém e as tornem verdade por capricho. Além de que, era extremamente triste ver como os comentários e rumores a seu respeito afetavam a atitude de Jeno - que já havia fechado a cara e cerrado os punhos diante do falatório.

Quase que impulsivamente, faço algo que penso ser bom para trazer de volta a energia calma e serena de Jeno - mas que causa maior burburinho ainda e me faz arrepender instantaneamente quando percebo o sangue correr mais rápido em minhas bochechas.

A lista dos garotos perfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora