29. Cálculos não são necessários

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— Eu posso explicar! — Me apresso ao longo da sala e arranco a carta das mãos de meu pai. Sua expressão é tão nula que ele mal reage. 

Minhas mãos tremem enquanto analiso a carta em papel timbrado da Universidade Haneul. Penso em mil maneiras diferentes de mentir, mas sei que não posso fazer isso. É tudo muito óbvio e a hora de encarar meu próprio futuro é agora.

— Sohee, o que houve com o curso de Direito? — Minha mãe pergunta, franzindo o cenho em minha direção. Meu pai me encara, também ávido por uma resposta.

— É que... — Tomo um longo suspiro antes de retomar e sinto meu coração acelerado se acalmar no peito. — Eu pensei muito sobre isso e decidi que a minha verdadeira paixão é a música.

Penso em todas as conversas que tive com Mark. Todo o encorajamento que ele me deu desde o primeiro momento. Isso me conforta profundamente e me faz ter a certeza de que estou fazendo a coisa certa.

— Mas... e seu futuro na Horang? Você sempre quis fazer Direito! — Meu pai argumenta, ainda sem acreditar. 

— Não, pai. Eu só estava pensando no jeito mais fácil. — Dou de ombros e me sento no sofá próxima a eles dois. — Eu só quis Direito porque achei que vocês gostariam. 

Observo suas feições se desmancharem da confusão e começarem a expressar surpresa. Minha mãe junta as sobrancelhas, tentando entender.

— Filha, se for por causa da sua prima... Você não precisa fazer isso por ela. — Ela intervém, me olhando de maneira complacente. 

— Não, mãe. Eu genuinamente quero fazer isso. Por mim. — Asseguro. Uma parcela de medo começa a tomar conta de mim: eles parecem não estar aceitando a ideia muito bem. — Eu me afastei da música por muito tempo porque não achava que poderia ser feliz. Mas eu não quero mais isso. Não tem nada que eu queira mais estudar do que a música.

Meu pai bufa pesadamente e passa as mãos pelos cabelos, preocupado.

— Sohee, nós só insistimos tanto nisso porque achávamos que você gostasse. — Ele começa a explicar. — Desde o acidente você diz que mudou de ideia e que preferia seguir outro rumo. Nós só queríamos te ver bem depois de tudo aquilo...

Meus olhos marejam ao ouvi-lo. Eu nunca havia pensado por esse lado. Eles não estavam me pressionando, apenas tentando me apoiar.

— Eu sei, pai. Mas, mesmo antes de mentir para vocês, eu estava mentindo para mim mesma. — Confesso. — E eu só fui perceber isso depois que um amigo muito gentil me avisou...

— Sua decisão teve alguma coisa a ver com o piano lá na loja...? — Minha mãe pergunta, carinhosamente me oferecendo um sorriso.

Assinto, sorrindo de volta. Minha mãe estende o braço para acariciar minhas costas e não consigo evitar que lágrimas caiam de meus olhos - mas, dessa vez, elas representam um alívio. Uma cura.

— Então estamos profundamente orgulhosos de nossa futura musicista. — Meu pai completa a conversa, vindo até nós duas e nos oferecendo um abraço apertado.

Permanecemos assim por alguns segundos antes de minha mãe lembrar-se do jantar que ela havia esquecido no forno e sair correndo para impedir um acidente maior, deixando eu e meu pai na sala risonhos. Durante o jantar, faço questão de convidar meus pais a assistirem minha apresentação no show de talentos: e eles fazem questão de aceitar o convite.

Mais tarde nessa mesma noite, me deito na cama com a certeza de que todos os eixos de minha vida estão finalmente se encaminhando para uma conclusão definitiva. Sorrio com o pensamento e me tranquilizo até cair no sono.

A lista dos garotos perfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora