Criar laços é perigoso

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ᴊᴀsᴍɪɴᴇ.

Estar numa mesa com os Cameron seria algo menos constrangedor se eu não estivesse em frente ao garoto que eu tinha ficado durante a madrugada.

― Seu pai já contou a vocês como era nossa infância aqui?— Ward chama nossa atenção.

Neguei com uma feição curiosa. Meu pai era cheio de amigos, mas eram homens que ele conheceu durante sua vida adulta, não alguém que ele passou a infância e adolescência.

— Conta, papai!— Claire apoiou a cabeça em suas mãozinhas, mostrando estar interessada.

— Eu e Ward éramos inimigos no colégio, disputávamos por tudo e qualquer coisa. Garotas, notas mais altas e o principal: o quadro de honra.— Iniciou e todos prestamos atenção em sua história.— Apostamos um almoço pra quem conseguisse entrar no quadro de honra, mas quando chegou o fim do mês e fomos ver qual dos dois tinha conseguido, ocorreu uma situação que nenhum de nós esperava.

— Qual?— Wheezie perguntou ansiosa.

Meu pai bebeu um pouco de seu vinho e continuou a falar.

— Um menino da nossa turma tomou o lugar de um nós.— Os dois adultos riram ao se lembrarem.

— Então, os dois perderam.— Completou Ward.— Aí seu pai e eu decidimos pagar o almoço um do outro, e foi aí que viramos aliados.

— Passamos a adolescência toda sonhando em encontrar o Royal Merchant. Dois adolescentes bobos!

— E como foi parar no Brasil?— Ouvi a voz da loira.

— Meus pais fundaram uma clínica de cirurgia plástica e estética no Rio de Janeiro. Ficaram famosos pelo ótimo trabalho, eu fiz faculdade e apenas dei continuidade ao império, não é à toa que me tornei um dos nomes mais conhecidos por aí.— Se gabou, talvez eu tenha herdado isso do meu pai.

— E decidiram voltar pra cá do nada?

A pergunta de Wheez me fez entrar em choque por alguns segundos, o motivo era eu e minha maldita imprudências, mas é óbvio que ninguém saberia disso.

Senti minhas mãos tremerem e levei o copo com suco de maracujá até a boca, na intenção de fazer beber algo pra me acalmar. Percebi como o garoto a minha frente me encarava desconfiado pela minha forma de agir.

Me "esconder" era fácil, difícil era conseguir fazer isso perto de alguém que não tira os olhos de você. E era isso que Rafe Cameron estava fazendo desde que me sentei naquela mesa.

— Deixamos os negócios por conta do sócio de Maxon e viemos morar aqui pra tirar um tempo, sabe?— Valquire foi rápida em arrumar uma resposta cabível.

...

Eu estava na grande cozinha dos Cameron, as louças ficaram por nossa conta. Sarah lavava tudo e eu secava o restante das coisas, enquanto batiamos um bom papo.

— Eu terminei, se importa se eu subir logo? Preciso colocar meu celular pra carregar...

— Não tem problema, Sarah. Pode ir, eu subo assim que terminar de secar esses pratos aqui...— Disse passando o pano em mais uma das porcelanas.

— Te espero lá em cima, Jasmine!

Ela correu e logo subiu as escadas, escutei o barulho de sua porta batendo, me dizendo que ela chegou em seu quarto.
Continuei secando e empilhando os pratos, faltavam só 3. Até uma voz masculina preencher meus ouvidos.

— Tudo bem, Jasmine?— Me virei pra olhar a pessoa, mas não precisava de muito pra saber que era Rafe.— Ou devo te chamar de Mariane? Qual você prefere?

Será que eu fiz pole dance na cruz pra ter que passar por essa palhaçada?

— Acha que eu sou burra pra sair revelando minha identidade por aí?— O garoto se encostou na bancada, me analisando de cima a baixo.— O que foi, hum? Vai querer saber meu CPF também?

— Quer dizer que a filhinha dos D'Angelo gosta de passeios noturnos em boates?

— Quer dizer que o filho querido de Ward Cameron gosta de se divertir com drogas durante a madrugada?—Devolvi na mesma moeda.

— Você é sempre tão invocada assim, linda?

— E você é sempre tão insuportável assim, anjo?

— Você não pareceu me achar tão insuportável ontem, né?— Seus lábios de abriram num sorriso malicioso, revelando seus dentes alinhados. Foco.

— Eu mereço...— Passei a mão pelo meu próprio rosto.— Pelo amor de Deus, garoto, cala a boca.

— Vem calar, Jasmine.— Nossa, me tremi.

— Sua insistência me deixa entediada, Cameron.— Voltei a secar os pratos restantes.

— Era você mesma que gostava de caras assim ou era só mais uma característica da personagem que você criou?— Sussurrou no meu ouvido, fazendo os pelos da minha nuca arrepiarem. Cacete, quero me jogar.

— Veio perder seu tempo aqui na cozinha me enchendo a droga do saco, é?— Tomei coragem pra falar algo.

— Nada disso,— Ergueu as mãos em rendição.— Vim dar boas vindas pra nova moradora de Outer Banks.— Piscou.

— Obrigada, estou lisonjeada.— Debochei.

— A gente se vê por aí, linda.

Respirei fundo quando notei que Rafe não estava mais lá, fiquei aliviada.
Tá aí mais uma prova de que eu sou péssima até pra escolher quem beijar numa noite descontraída. Mas sabe de uma coisa? Eu quero é que se dane!

Criar laços é perigoso, deixar alguém me manipular a ponto de me fazer baixar a guarda também é. Eu nem me preocuparia com Rafe, ele certamente não era a pessoa que mexeria comigo dessa forma. Mas me preocupava com Sarah, que estava se demonstrando ser uma pessoa incrivelmente legal comigo.

Naquele momento, ela me mostrava alguns vídeos engraçados no celular, até escutarmos a voz do meu pai me chamando pra ir embora.

— Ei,— A loira me chama.— Amanhã vai ter uma festa na praia... Pensei que você poderia ir e eu podia sei lá, te apresentar meus amigos. O que acha?

— Bom, acredito que eu não tenha nenhum plano pra amanhã, então sim. Acho ótimo.— Vejo o sorriso em seu rosto crescer e a garota estala os dedos.

— É isso aí, te mando uma mensagem avisando o horário. Passo na sua casa pra te buscar. Até amanhã, Mine!

Até amanhã, Sah!— Mando um beijo em sua direção e desço encontrando meus pais impacientes querendo ir embora.





Festinha na praia🤸
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Heartburn. || Rafe Cameron - Outer Banks Onde histórias criam vida. Descubra agora