Capítulo 31 - A Temporada da Bruxa

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ATENÇÃO: Esse capítulo apresenta cenas de extrema violência que podem representar gatilhos para algumas pessoas. 

No horizonte, a imagem de um trailer envolto por ferrugem tremeluzia pelo calor. O clima abafado perpassava o vestido esvoaçante de Dana Hill, fazendo seu rosto, protegido por um chapéu, dissolver em suor.

Ao alcançar o veículo, avistou algumas cadeiras atrás dele, rodeadas por rostos que ela conhecia muito bem.

— Charlie! — exclamou Dana, contente. — Que saudade!

Charlize Fitzgerald levantou-se, em um salto, correndo à ex domadora.

— Dana!

Elas se abraçaram alegremente; os corpos quentes foram dominados pela saudade. Quando Charlize se afastou, Dana percebeu que o cabelo dela havia crescido um pouco, nos últimos meses. As ondas controladas transformaram-se em longas madeixas disformes.

— Veja só quem voltou... — resmungou London Wright. — Sua carreira já fracassou? Que previsível.

— Aposto que nem a deixaram participar do filme de tão ruim que ela deve estar atuando... — continuou a gêmea Paris.

Dana desvencilhou-se de Charlize, e revirou os olhos.

— Olá para vocês também, meninas! É nítido o quanto vocês sentiram minha falta...

London e Paris fitaram-na , com desdém.

— Voltou para o circo por que? Para esta cidade amaldiçoada, principalmente — London bufou, abanando o rosto. — Isto aqui é o verdadeiro inferno. Nem seus animais estão mais aqui. Charlize precisou vendê-los que tivéssemos o que comer.

A descoberta do destino de Buffalo Bill e Mary Lou fez o peito de Dana estremecer. Mas fora a consequência de sua decisão. Não havia conserto, e por mais egoísta que fosse, Dana não se arrependia de ter ido embora. Talvez eles estivessem mais felizes longe daquele lugar amaldiçoado também.

Escolheu acreditar que sua partida havia os libertado. 

Ela então pensou no que responder, com cautela. Explicar sua dinâmica com Jack não parecia certo.

— Estou cogitando trabalhar no orfanato daqui. Trabalhar dezesseis horas por dia em um estúdio não se revelou tão glamoroso como parece.

— Mas por que justamente Nova Orleans? — insistiu Paris. — Existem orfanatos no país inteiro, até no Alaska.

— Ainda estou me decidindo, na verdade — encerrou Dana.

London e Paris estudaram-na com afinco. Elas sabiam que havia algo além, Dana pôde perceber. A mulher, porém, permaneceu decidida em sua história.

— Marjorie estaria profundamente decepcionada — rebateu Paris.

Dana sentiu o sangue esquentar. O modo grotesco com o qual Paris articulara aquela frase, evocando o sentimento que Dana buscava constantemente se esquivar, liberou a revolta dentro dela, o lado selvagem que a fazia ser respeitada até pela mais sanguinária das bestas.

— Pois bem, ela não está mais aqui para dizer, e não cabe a você responder por ela — rosnou. — E quem decide isto aqui sou eu. Não você. A escolha não foi sua. E muito menos, a oportunidade.

As gêmeas Wright ousaram esboçar um sorriso arrogante. Então, retiraram-se em silêncio. Até que London virou para trás, e argumentou:

— Ela estaria orgulhosa se soubesse de você e do detetive, porém. Seguiu os passos da sua ídola direitinho! Quanto mais rico, melhor. Rick Myers nunca foi o bastante.

Entre Tangos & TragédiasOnde histórias criam vida. Descubra agora