Capítulo 33 - Destinados a Cair

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Jack insistia em sua jornada para despistar suas linhas de raciocínio. Mas pensamentos são traiçoeiros, eles se moldam livremente, evocando passagens temporais que deveriam ser esquecidas; territórios que outrora foram como lar, e o tempo os transformou em zonas proibidas.

Então, Jack pensava. Ele pensava em Cassandra. O suor brotava em seu rosto, quase despercebido àquela altura. O cérebro latejava. Desejava arduamente estar errado. A dor florescia através de seus músculos, amarrados por linhas de arame farpado feitas por uma bruxa. Ela atravessava as cavidades endurecidas de um detetive amargurado, lembrando-o de que seu coração ainda batia. De que ele ainda a amava.

Oz prosseguia dirigindo o carro. Silenciosamente levando o temporal ao dia ensolarado.

O detetive amaldiçoou a visão que se desenhava em sua janela; a mansão imensa nunca havia estado tão macabra. Os últimos meses foram cruéis. Buracos acumulavam-se pelo telhado; as telhas colecionavam ainda mais cicatrizes. Mas ela continuava de pé.

Outra vez, ele teve a sensação de ter encontrado outro evento simbólico, anunciando o que estava por vir.

— Chegamos — avisou Oz.

Não haviam trocado uma palavra após a discussão no hospital. Ambos estavam tomados por uma aura densa, obscura. Como se caminhassem em direção à morte, à cadeira elétrica e sentenciosa.

Oz aproximava-se da porta, quando Jack o interceptou.

— Por favor, preciso que você me deixe entrar sozinho.

— Jack, nós já... — Oz soou impaciente.

— Eu sei — Jack rebateu. — Mas eu preciso... preciso que você me deixe vê-la. Sozinho. Você ficará à espreita.

Jack o encarava com firmeza, impondo sua resiliência. Mais uma vez, eles conversaram por horas em instantes, silenciosamente, ditando o que o outro precisava saber. E Oz, por fim, concordou.

Oz retornava ao Bentley preto, quando virou-se para Jack, uma última vez:

—  Você sabe o que precisa fazer.

Sem respondê-lo, Jack chocou-se contra a porta. Ela caiu facilmente; a madeira podre despencando aos seus pés e revelando o horror escondido por trás dela. E o detetive a atravessou, perscrutando o que via, lentamente assimilando o que aquilo lhe dizia.

Cassandra Pavlova estava sentada em uma poça de sangue e cacos de vidro. As pernas arregaçadas ostentavam ferimentos; cortes que subiam por seus braços. Eles eram incontáveis, tantos que pouco se via a pele pálida — ela estava embrenhada em sua natureza interna; o self que tanto buscou esconder. O sangue era o que existia sob a pele, o que emergia após a mentira. Era sua sinceridade; um modo visceral de contar a Jack o que ele nunca quis descobrir. Os cabelos estavam armados, conduzidos por uma sinfonia caótica de castanho e restos de vermelho seco.

A tempestade ainda tilintava em seus olhos. Um sinal ínfimo da existência de sua alma, de que Cassandra Pavlova um dia existiu.

E quando ela encontrou Jack, relâmpagos vibraram; revelando lágrimas desesperadas para cair.

Havia uma dualidade brutal de sentimentos governando a mente do detetive. Ele quis correr a ela, resgatá-la. Desejou abraçá-la tão intensamente que o mundo os reuniria, mesmo que em cinzas. O amor, percebeu ele, resistia.

Mas o ódio também. A traição unia-se à racionalidade para fazê-lo compreender todas as nuances daquela cena de horror. Porque ele estava certo.

— Jack...  —  Ela se lamentou, apoiando-se em vidro, produzindo mais corte, e se levantando.  — Eu sabia que você viria.

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⏰ Última atualização: Sep 22, 2022 ⏰

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