Capítulo 20 - A Última Vez

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Na mesma cadeira pela qual Tom McDonald passara, agora encontrava-se Zephir. Sua maquiagem pesada havia escorrido, em decorrência das grossas gotas de suor que ensopavam seu rosto. Mas ainda havia traços de sua fantasia. Seus olhos faiscavam contornados por tinta preta; o tom de âmbar tornara-se mais escuro, tão sombrio quanto a situação em que ele estava.

— Senhor Goodwin, o senhor está sob custódia, aqui, nesta delegacia, em decorrência dos abusos cometidos à menor de idade, Lucy Hastings. Isso procede? — perguntou Oz.

Zephir afundou na cadeira; seu corpo quase derretendo em aflição.

— Sim.

Jack arrastou-se para frente; um ruído irritante rompendo entre eles.

— O senhor também confirma que, atualmente, reside no apartamento 3B, na pensão Carter's Boarding House?

Zephir, mais uma vez, confirmou a informação. Porém, no lugar de encarar o policial Ward, o ilusionista fora aprisionado pela presença de Jack Johnson. Os olhos azuis haviam cravado-se nos dele; uma análise minuciosa sendo feita.

— O senhor confirma, também, a vasta coleção de imagens que guarda da senhorita Marjorie Motgomery? — Direto e sucinto, Jack lhe direcionou outra pergunta.

Zephir soltou o ar que parecia lhe contaminar por dentro; poluindo sua mente. Sentia-se lentamente sendo envenenado por si mesmo.

— Sim.

Jack se recusou a desviar seu olhar do dele, mantendo-se inerte.

— Onde o senhor estava, senhor Goodwin, na madrugada do dia três de outubro de mil novecentos e trinta e cinco?

Zephir deu um suspiro profundo; sua exaustão pelas últimas horas mostrando-se evidente.

— Visitando minha irmã Ethel Goodwin, no Tennessee.

— Nós conversamos com a senhorita Goodwin. Ela negou tal informação.

A expressão no rosto do mágico modificou drasticamente. A apatia dera lugar a traços de horror; os dentes podres revelando-se conforme ele abria a boca.

— Mas isso é absurdo! Eu estive lá! Eu estive! — A ira que ele buscava sempre esconder viera à tona. Ele se remexia dentro das algemas; seus pulsos imundos roçando contra o metal. — Ela não ousaria mentir sobre isso!

Quando o senhor esteve lá? — Oz interveio; sua calmaria seguia inabalável.

Em outra brusca mudança de humor, Zephir tornou-se apático. Ele encarou um ponto fixo no vazio, dispersando dos policiais, fugindo às entranhas de sua mente.

— Quando o senhor esteve com sua irmã?— Uma bofetada na mesa coagiu Zephir a encarar Jack. Os dedos do detetive estiravam-se sobre a mesa, o som estridente ainda ecoando pela sala.

O mágico inspirou profundamente.

— Eu voltei um dia antes da Marjorie morrer.

— Então senhor mentiu para a polícia, senhor Goodwin? — Sutilmente, Oz entrelaçou seus dedos sobre a mesa, curvando-se.

— Eu... eu sabia... eu sabia o que ia aparentar. Mas eu não a matei! Eu juro! Por tudo que há de mais sagrado! Eu jamais a machucaria! — lágrimas enfileiraram-se ao redor daqueles glóbulos em âmbar, que faiscavam em neurose. — Eu telefonei para o Lance! Eu juro!

Jack Johnson lhe disparou seu olhar soturno. O oceano caribenho estava sob a luz de meia noite; suas ondas furiosas prestes a naufragar o homem sentado à sua frente.

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