Capítulo 22 - Restos Mortais

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Quando Jack Johnson despertou na manhã seguinte, sua cama estava vazia.

Com a vista ainda embaçada e suas memórias desalinhadas lentamente entrando nos eixos, ele percebeu a estranheza que era encontrar o travesseiro ao seu lado cheirando à carmim e sem nenhum rastro das ondas castanhas de Cassandra Pavlova sobre ele. Levantou-se, apoiando-se nos cotovelos, antes de tatear a superfície, numa tentativa falha de encontrá-la, de rastrear o paradeiro que ela tivera.

Tudo o que recebeu foi um bilhete; o papel de carta que mantinha na cabeceira marcado por uma caligrafia que não era a sua.

"Não há mais tempo para despedidas... desculpe." - C.P.

Ele releu aquela frase muitas vezes antes de deixar seu quarto. Seu cérebro confuso queimando, talhando-a em si mesmo, decorando o formato de cada uma das letras. O desespero lhe arrebatou logo depois. Os gritos que sua garganta eclodiu na noite passada manifestavam seus resquícios em sua voz fraca; a rouquidão lhe obrigando a soprar um clamor de "por favor, não vá embora" que ele sabia que jamais alcançaria sua feiticeira.

De repente, Oz Ward irrompeu na sala de jantar, ele havia acabado de chegar, depois de uma noite inteira enfrentando a burocracia jurídica na delegacia. O espanto marcava suas expressões; as palavras com dificuldade para serem articuladas pouco a pouco se unindo para formar a sentença que consolidaria a tormenta daquela manhã.

— Tem uma foto sua e da Cassandra no jornal. A imprensa sabe o que aconteceu.

E ele atirou o jornal que acabara de comprar à sua mesa; o olhar apaixonado de Jack Johnson registrado na publicação. Cassandra, entretanto, estava escondida sob a maquiagem pesada, embora os olhos prateados continuassem marcantes para o detetive, e seu poder de tomá-los para si permanecia absoluto. O detetive quis, inicialmente, sorrir; a sensação de felicidade que lhe dominava quando a encontrava retornando por um breve momento, apenas para ser dilacerada pela reflexão do que o presente abominável lhe reservava. Cassandra havia sido atacada, manchada pela crueldade alheia; traumas construindo-se em sua psique, aonde quer que ela estivesse naquele momento, e Jack não pôde salvá-la. Chegara tarde demais.

Em silêncio e num rompante, Jack Johnson se vestiu para sair. Molhou o rosto com água gelada, despertando o profissionalismo, as distrações imediatas que o distanciaram da insanidade que ameaçava lhe corroer a qualquer instante. Minutos depois, ele e Oz, em seu Bentley negro, desbravaram as ruas de Nova Orleans a caminho da sede do Times-Picayune.

Novamente à procura de T.J. Abbott.

O sol escapava pelas nuvens em rajadas frágeis que se espalhavam pelo asfalto. Jack cerrava os olhos ao cruzar sob ele, sua cabeça pesada e confusa incapaz de deixá-lo ciente do que estava sentindo. Havia muitas suposições lhe consumindo. Todas as teorias se intercalavam com o vazio, o desânimo de ter certeza de que quando voltasse a seu apartamento não haveria nada além dos mesmos tons mórbidos de cinza, que em nada remetiam aos olhos de Cassandra.

Ele não conseguia deixar de procurar por eles. Buscou pelas orbes metálicas no olhar da recepcionista que lhe pediu um instante antes de convocar Thelma James;  no rosto dos estranhos que chegavam ao prédio do jornal e lhe encaravam sutilmente; a curiosidade contida anunciando a proporção que aquela notícia já havia tomado na cidade.

Entretanto, o que avistou; destacando-se do resto do ambiente, numa figura pálida e soturna, fora a jovem de cabelos claros que um dia irradiaram sol. Ela desapareceu tão rapidamente quanto surgiu. Mas Jack cravou a imagem em seu cérebro, talhando-a com força, revisitando-a em todos os momentos seguintes. Grace.

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