Capítulo 25 - Quando o Dia Termina

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Oz Ward deixava a delegacia naquela tarde com uma notícia importante.

Após mais um extenuante plantão, seu cansaço era mascarado por adrenalina e  doses exageradas de café. Oz estava alerta. Deslocava-se pelas ruas taquicárdico, o carro indo devagar frente à sua mente frenética.

A revelação atormentava seus pensamentos. Ele não conseguia encontrar qualquer fórmula para deixá-la menos polêmica e propensa ao caos. A data do julgamento de Cassandra Pavlova estava talhada em seu cérebro; em letras profundas, tão macabras quanto os rastros de sua partida, os quais escolheram a cabeça de Jack como seu novo lar.

A carcaça dela tinha se embrenhado no detetive, cotaminando-o, misturando-se aos pensamentos dele, de modo que o próprio Oz era incapaz de diferenciá-los — seu amigo de longo data, ou o golem feito por uma bruxa.

O décimo quinto dia de maio chicoteava sua garganta, desesperado para sair. Dividir aquilo com Jack era um paradoxo; ao mesmo tempo que gostaria que ele soubesse, se amedrontava pelas consequências que isso teria.

A cena de Jack caído em sua sala, fedendo a uísque, noite após noite, era nociva. O detetive havia se transformado nas cinzas de todos os seus próprios incêndios. Vagava como um morto-vivo, decrépito, distante — preso em outro lugar; o submundo, ou o inferno.

Entrou no apartamento tomado por aquela onda vertiginosa de ansiedade, prestes a esbravejar o que sentia, quando encontrou Dana Hill.

Ele implodiu; contendo o nervosismo, inflando aquelas sensações fortes demais para decodificá-las. Sentiu o peito estufar e coluna enrijecer.

— Bom dia, Oz — disse ela. — Foi uma noite tranquila?

Dana estava sentada na mesa de sua cozinha. Tinha o queixo apoiado no dorso de uma das mãos, enquanto folheava o jornal do dia com a outra. Interrompeu a leitura para cumprimentá-lo com um sorriso; seus olhos brilhantes e acesos vidrados em Oz.

— Bom dia, Dana — Se esforçava para chamá-la tão intimamente, como pedido por Jack. — Foi uma noite...interessante. Houve o assassinato de uma matriarca. Tudo aponta para a empregada, mas... enfim, estamos averiguando.

— Hum, foi bem movimentado então. Interessante, eu não saberia dizer... — Ela deu risada. — Deve estar faminto. Eu preparei waffles!

Antes que ele respondesse, Dana se levantou. Ela se dirigiu à cozinha. Retornou trazendo uma bandeja de waffles com blueberry.

— Obrigado, Dana — respondeu ele, o cheiro adocicado acalmando sua neurose.

— Eu fiz para o Jack... mas ele dormiu mais do que o esperado — explicou. — Talvez estejam um pouco frios.

Oz negou, e continuou a saborear seu café da manhã.

— Ele tem dormido, é uma pequena vitória — murmurou o policial.

— É... — Dana concordou. Ela sorria, mas Oz desconfiava de que o fazia sem perceber. — Ele tem conseguido manter uma rotina. Traçou como meta ler todos os livros da sua estante. Acho que ficou até tarde lendo um romance russo infernal.

— Tolstói? —  perguntou Oz, intrigado.

Dana bufou, revirando os olhos.

— Isso! —  resmungou. — É deprimente. Ele tentou ler uma passagem para mim ontem à noite... dormi por volta da terceira ou quarta frase.

Oz teve suas outras preocupações temporariamente anestesiadas ao assimilar o que Dana acabara de dizer.

— Guerra e Paz é um clássico!

Entre Tangos & TragédiasOnde histórias criam vida. Descubra agora