Capítulo 10 - O Covil da Feiticeira

1.7K 137 79
                                    

Jack não aguentava mais descascar os cantos das unhas. Via-se em mais uma tentativa falha de fazer seus neurônios traçarem um plano que conseguisse provar todas as inúmeras suposições a respeito do álibi de Tom McDonald.

Não encontraram nada além do maldito perfume na mansão do filho do prefeito. Embora houvessem vasculhado cada milímetro dos quartos imponentes do andar de cima, e cada detalhe dos cômodos bem arrumados do andar de baixo. Mas não havia mais nada. Apenas a prataria chinesa disposta na cozinha, e as fotografias em família organizadas na sala de estar. O máximo que conseguiram trazer consigo foi a pilha de roupas usadas que encontraram jogadas no cesto do banheiro, depois de farejarem-nas levemente e identificarem o aroma do Je Reviens nos tecidos.

Então, com a frustração corroendo-lhe por dentro, saiu com Oz para tentar fugir da indignação de estar sendo feito de bobo por um herdeiro mimado. Decidiram tirar suas mentes do assunto por alguns instantes, indo checar o bar que Dana e Rick diziam terem frequentado.

Jack não tinha suspeitas aguçadas dos dois, achava-os muito fracos para fazer algo do gênero; psicologicamente, ao menos. Entretanto, não seria surpreendente para ele ver um garoto submisso e uma melhor amiga invejosa envolvidos no assassinato da bailarina. Afinal, Marjorie aparentava ter a estranha capacidade de despertar os piores lados naqueles que cruzavam seu caminho.

O Galatoire's era um exemplo de sofisticação. A dois quarteirões do Golden Gate, ele tinha uma aparência ilustre e refinada, quase sempre frequentado por banqueiros de alto porte, senhoras elegantes, famílias de elite e dois circenses que tinham a sorte tremenda de serem amigos do Chef.

Não foi muito difícil comprovar a história que a domadora e o amigo disseram. De fato, ficaram até surpresos com o número de pessoas que os conheciam. Uma simples menção de seus nomes no balcão do bar, e três outros indivíduos se intrometeram na conversa, querendo saber do que se tratava.

Todos afirmaram que Dana e Rick estiveram sim por ali, reforçando o problema do esquecimento da carteira, e os contratempos com o atendente do caixa.

Os policiais também confirmaram o álibi das gêmeas no bar ali perto, e finalmente deixaram que seus pensamentos retornassem à maldição McDonald, que tanto lhes atormentava.

Foram à delegacia, esboçaram diversos esquemas que pudessem desmascará-lo; as motivações eram infinitas, e as armas nulas até o momento. Não havia nenhuma prova concreta além de um frasco de perfume francês e alguns machucadas misteriosos no punho, nada que fosse ajudá-los a convencer Randall Walters, ou qualquer outro cidadão de que o filho do prefeito podia ser um assassino perigoso.

Precisavam de uma testemunha, alguém que, realmente, tivesse visto Tom McDonald próximo à área do Golden Gate na noite do crime. Contudo, sabiam que os funcionários não delatariam o chefe, porque o próprio prefeito faria da vida deles um inferno caso o fizessem.

Se é que eles ainda teriam a chance de ter uma vida para ser infernizada.

E, depois de quatro longas horas de conversas sobre o caso, Oz disse que precisava de um descanso, para acalmar suas ideias e talvez pensar em uma solução melhor no dia seguinte. Porém, Jack não conseguia se levantar da cadeira. Via-se preso ao assento duro; o maxilar trincado e uma raiva oriunda do estresse impedindo-o de se dar por vencido. Oz nada pôde fazer. Simplesmente desistiu de tentar convencê-lo, e partiu, deixando-o sozinho com seu orgulho ferido no escritório.

O detetive sabia que precisava dormir. Estava acordado há quase um dia inteiro, considerando a noite mal dormida que tivera por culpa da cartomante.

A língua seca e o cinzeiro cheio, o forçaram a sair em busca de uma xícara de café preto. Praguejou enquanto erguia-se da madeira desconfortável, e caminhou exausto rumo à cafeteira italiana que tinha na cozinha improvisada da delegacia. Depois, esperou que a água fervesse, e colocou o café moído no funil, aguardando pacientemente para que a bebida ficasse pronta.

Entre Tangos & TragédiasOnde histórias criam vida. Descubra agora