Entre Tangos & Tragédias

Capítulo 21 - Show de Horrores

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Na noite que Charlize colocou o terno de courino vinho de seu pai, uma lua cheia se encontrava no topo do céu escuro. Ela estava estava envolta por uma luz celestial que clareava aquele princípio de madrugada perto da chegada do inverno.

A herdeira Fitzgerald se olhava no espelho; o pincel deslizando por seus lábios, distribuindo um tom vivo de vermelho que reluzia em seu rosto esbranquiçado. Estava tensa, mas não relutante. Sabia que fazia o certo, embora suas palpitações frenéticas quisessem lhe mostrar o contrário. Charlize havia se acostumado com a ideia de que nunca seria boa o suficiente para aquilo. Ela não era o seu pai. Jamais seria Lance.

— Oi, Charlie, estamos prontos — Cassandra disse, entrando no camarim.

Ela usava um bustiê de prata ressaltando seus glóbulos cinzentos, que fisgaram Charlize imediatamente. Atrás da cartomante, estava o restante do circo: Lorenzo, Rick, Dana, London, Paris e mais ninguém, Charlize reparou. A contagem costumava ser um pouco maior.

— Até que tem gente interessante hoje... — Paris comentou.

— Talvez ainda tenhamos tempo para encontrarmos um ricaço e darmos o fora daqui! — London completou.

— E me deixarem aqui sozinho? — Lorenzo perguntou, seu sorriso largo e charmoso fez as gêmeas se atirarem a ele, as duas pendurando-se no pescoço do contorcionista.

— Te levaríamos escondido no porta-malas! — elas disseram juntas; aquele assunto era recorrente entre os três; uma piada interna desenvolvida em sua estranha relação.

— Ninguém aguentaria vocês por muito tempo — Rick satirizou. — Largariam os três no meio da estrada.

— Você é um invejoso! — as gêmeas retrucaram.

Charlize pigarreou, exigindo silêncio. E toda a trupe subitamente se empertigou; a tensão se derramando por seus músculos conforme observavam a herdeira. Aquela jovem mulher, cuja uma única madeixa loira conseguia escapar de sua cartola de cetim, seria sua nova líder, a partir daquele momento. E havia uma aura diferente ao redor dela, conquistada por ela mesma ao longo do tempo, que explicitava isso. Charlize Fitzgerald tinha imponência.

— Hoje é o início de um novo ciclo para o Guadolomon. Nós precisamos nos unir e fazer um bom trabalho. Algo impecável... algo que... — sua voz travou no meio, seu olhar perdendo-se no chão. — Algo que ele teria orgulho de assistir.

Todos continuaram observando-a em silêncio. E Charlize logo se recompôs, decidida a continuar.

— Este é o circo de Lance Fitzgerald. E nós precisamos honrar o legado dele. Ele nos deu abrigo... ele nos fez uma família, nos tornou um lar, que consegue permanecer verdadeiro e constante independente da onde nós estejamos. Então precisamos continuar por ele. Precisamos fazer com que todo esse esforço valha a pena. Para sempre.

— E nós iremos — afirmou Cassandra, angariando a confirmação do resto da trupe.

Em silêncio, cada membro do Guadolomon abraçou Charlize. Eles se conheciam há vida inteira. Fazia sentido. Era inato à sua existência que tentassem transmitir segurança e conforto à herdeira do legado Fitzgerald, que fizessem jus à história do homem que tão pouco tempo atrás era sua segurança.

O Gudolomon era tudo o que tinham.

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— Ricky, feche o zíper para mim, por favor — pediu Dana Hill.