PARTE II - the healing process

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POV ARIZONA

Pensei alguns segundos se deveria deixar Carmen entrar ou não. Eu tinha medo do que ela iria me falar.

- Então, Arizona? - Phill aguardava uma resposta. - Ela sobe ou não?

Respirei fundo, depositando uma tonelada de ar nos meus pulmões e assenti com a cabeça.

Entrei na minha sala e fiquei um tempo de costas para a porta, pensando nas coisas que ela falaria e no que eu teria que falar.

Ouvi Carmen pigarrear do outro lado da sala, me fazendo virar e me deparar com ela, segurando a mão de uma criança de aproximadamente 5 anos.

Tentei demonstrar força e encarar somente Carmen, ignorando totalmente a presença da criança.

- O que você está fazendo aqui? - Falei firme.

- Agora que você está montada na grana, acho que você deveria me pagar uma pensão. - Ela falou puxando a pequena menina pelo braço.

Meu sangue ferveu.

- Você que se vire, deveria ter pensado em tudo antes de tirar ela dos meus braços assim que ela nasceu, alegando que eu jamais seria mãe suficiente. E você está certa. Eu não sou, segui minha vida e fui obrigada a superar isso durante todos os dias.

A menina cutucou Carmen, perguntando quem eu era.

- Você nasceu dela, lembra que vovó te contou isso? - Ela respondeu.

Após a resposta, os olhos azuis da pequena fitaram os meus, eram exatamente iguais aos meus.

Automaticamente, um filme passou na minha cabeça.

Atualmente tenho 30 anos. Aos 24 tive um relacionamento amoroso rápido, mas que acabou resultando em uma gravidez.

Eu não estava bem emocionalmente para ter um filho e não tinha nenhum apoio do pai da criança. Não tinha emprego e a situação dos meus pais também não estavam das melhores para que pudessem me ajudar. Mas mesmo diante de tudo que eu estava vivendo, eu queria ter aquela criança. Eu sentia amor toda vez que lembrava que havia um pequeno ser na minha barriga.

Quando ela nasceu, ocorreu um problema no parto e eu quase morri. Perdi muito sangue para que a vida da Julia fosse salva, então precisei ficar um tempo a mais no hospital para me recuperar plenamente.

Carmen, que é mãe do meu ex, ficou com ela até eu sair do hospital.

A questão é, ao retornar para pegar minha filha, fui impedida. Carmen sustentou firmemente que eu não teria condições de cuidar de Julia, que eu seria péssima mãe e que somente ela poderia dar uma vida confortável para a menina. Infelizmente, o juiz pensou igual a ela, dando a guarda para o pai e para avó.

Eu nunca contei essa história para ninguém. Desde o ocorrido, eu tentei superar de todas as maneiras. Me mudei para Miami para tentar arrumar um emprego e recomeçar a minha vida. Eu pensava diariamente em poder ter Julia de volta, mas ela não se lembraria de mim e seria injusto impor que ela me amasse.

Eu não seria uma boa mãe para ela. Eu acreditei nisso quando Carmen me falou.

Em Miami conheci Richard, que gentilmente me contratou como sua secretária e lá permaneci durante esses anos.

Acho que essa situação de perder minha filha por não ter uma condição para sustentar ela que me fez pensar em assinar o contrato e ficar milionária do dia para a noite.

Graças a Deus conheci Callie, assim, não assinei o contrato e acabei conquistando a presidência por outros meios.

Só pensei na Callie e em como eu queria o colo dela naquele momento. Mas como eu contaria isso para a Callie? Nunca consegui falar sobre com ninguém.

Saí de meus devaneios com Carmen me chamando.

- Carmen. - Dei uma pausa na fala para tomar um gole de água, minha garganta estava extremamente seca. - Se durante esses anos você achou que eu não era apta para cuidar dela, porque mudou de repente? Eu segui minha vida, eu e ela nem nos conhecemos.

- Você agora é milionária, Arizona. Vai poder dar de tudo de bom e do melhor para a menina e até para mim, que te fiz um favor todos esses anos cuidando dela. - Ela sorria, tendo certeza de que estava certa em tudo que dizia.

- Pois peça isso judicialmente, como você é muito boa. Eu não tenho nada a ver com vocês. - Falei apontando para a porta, para que ela se retirasse.

Julia me olhava com curiosidade, de um jeito extremamente doce.

Respirei fundo tentando evitar que aquilo chegasse direto no meu coração.

Pedi novamente que Carmen saísse e assim ela fez.

- Arizona, nós vamos nos ver novamente. Estamos no hotel Santiago, duas quadras daqui e te espero lá amanhã às 5 da tarde para tentarmos resolver isso. - Ela disse saindo da sala.

Fechei a porta e depositei o peso do meu corpo nela. Eu não sabia definir o que eu estava sentindo.

Meu corpo estava pegando fogo e eu pensava o tempo todo no olhar daquela garotinha, em como ela era tão parecida comigo.

Sai dos meus pensamentos com meu telefone tocando.

Era Callie.

- Bom dia para a empresária mais gata de Miami. - Ela falou em um tom divertido.

Eu ri.

- Vou passar aí para almoçarmos juntas no seu primeiro dia de trabalho. - Ela realmente estava mais animada que eu.

Concordei. Ver ela com certeza me deixaria mais feliz.

Eu só não sabia como contaria para ela que meu passado, literalmente, bateu na porta da minha empresa.

RIDING (CALZONA)Onde histórias criam vida. Descubra agora