▪Capítulo 1▪

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Dor, dor, dor, dor.

É o que eu sinto, minha cabeça, meu corpo, cada músculo, cada parte de mim doía, principalmente meu peito. Está tudo escuro, não consigo enxergar nada, e nos meus ouvidos um zumbido agudo agoniante. Tento me mexer, mas solto um resmungo de dor ao sentir minha perna presa debaixo do que parece ser colunas ou teto que despencou; tento de algum jeito me soltar do lugar, e isso apenas me fez gritar de dor; as lágrimas desciam por minhas bochechas, não consigo respirar e minha cabeça começou latejar me deixando enjoada, tonta. Coloquei para fora o que meu estômago empurrou por minha garganta que agora ardia, o gosto horrível em minha boca e o cheiro de morte. Encostei minha cabeça no que parecia ser uma pedra e tento me acalmar; o lugar parecia pequeno demais, escuro demais, apertado demais; o que não ajuda muito a construir minha calma.

Não sei quanto tempo se passou desde que eu acordei, mas parecia muito, talvez um dia ou dois. Eu estou morrendo de fome e com muita sede, vomitei mais três vezes o que parecia ser um líquido preto; e minha perna ainda estava presa, não sentia o sangue circular. Tenho que dar um jeito de sair daqui, ninguém virá ao meu socorro, e não possuo voz o suficiente para gritar por ajuda, e pode ser que ninguém escute ou apenas ignore.

O que vou fazer com toda a certeza vai doer, e pode rasgar minha pele, mas se for o único jeito de sair desse lugar fétido e pequeno demais eu farei. Começo a mexer devagar a perna presa o que me garante grunhidos de arrependimento e aflição; continuo mexendo-a e gritando em meio ao choro. Que dor, que dor. Os soluços não cessaram e ficaram mais intensos assim como o choro mais desesperador quando consegui tirar a perna de debaixo da viga. A pele ardia, sentia o sangue escorrer em minha panturrilha e se espelhar por meus pés; meu peito dói tanto que mal consigo respirar, o ar dos meus pulmões estão se esvaindo de mim. 

Preciso sair daqui, preciso sair daqui.

Estou desesperada, e mesmo com minha perna latejando de dor e ardência me coloquei de pé, me segurando nos destroços para não cair, e me apoiando apenas na perna direita. Caminho com dificuldade e apalpo as pedras procurando alguma solta que possa ser fácil de empurrar fazendo assim outras caírem. Demorou um pouco para encontrar uma pedra frouxa das outras, e mesmo estando folgada estava muito pesada; a empurro com toda a força que me resta, e acabo forçando minha perna machucada e arfei em dor.

Droga, droga, droga.

Inspiro e expiro algumas vezes antes de voltar ao entulho de escombros e empurrar a rocha solta. Impulsionado com todas as minhas forças restantes, e então ela cai para o outro lado, fecho os olhos por causa da luz do sol e me afasto um pouco voltando para o escuro. O som das outras pedras se desprendendo uma das outras fez-me abrir os olhos no mesmo instante; poeira começa a cair, junto com pequenos grãos de pedras, procuro em volta um lugar onde eu possa me proteger do desabamento e encontro uma pilastra larga ainda firme em pé, e fui até lá o mais rápido que consegui. O barulho ensurdecedor do desmoronamento me fez cobrir as orelhas pontudas. Esperei mais alguns minutos antes de sair de detrás do pilar e segui para onde a luz estava; demorei uns cinco minutos para me acostumar com a claridade.

E a primeira coisa que vi assim que abri os olhos foi o verde da grama, das árvores e o céu em um azul tão lindo. Puxei o ar para meus pulmões e me senti tão tranquila e livre. A calma começou a me invadir, o ar limpo e fresco, o vento frio apaziguador. Os pássaros voam e cantam por cima de mim, alguns coelhos pretos, marrons e beges pulam nas flores de dentes-de-leão. Olho para trás e vejo o lugar em pedaços em que estava completamente destruído, apenas três paredes ainda restam firmes. O lugar está totalmente desolado.

Respiro aliviada por ter saído daquele lugar. E por mais que eu queira me sentar na grama e descansar, não posso me dar esse luxo; preciso de água e comida. Não tenho coragem de olhar ainda para o local machucado em minha perna, pois se for pior do que penso...

Devagar e mancando, começo a andar para algum lugar. Desconheço a região Nem ao menos sei como vim para aqui e apenas caminho em um ritmo de verme para dentro da floresta. Com esses movimentos todos percebo como estou dolorida; por quanto tempo fiquei lá embaixo?

Corte de Morte e AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora