2016 - ESPANHA

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Circuito da Cataluña, maio de 2016

POV Max Verstappen

Eu não dormia fazia 3 noites. O anúncio da minha promoção para a equipe da Red Bull ainda ecoava pela minha mente. Ainda era tudo muito incrível ter alçado essa conquista aos 18 anos - sobretudo com a promessa de que meu pai se afastaria de minha carreira assim que eu atingisse uma escuderia competitiva. Não posso mentir, essa era uma das coisas que eu mais precisava nesse momento da minha vida. Ter um pouco mais de liberdade, de seguir meus próprios passos, depois te tanta coisa que passei para chegar aqui.

Na quinta-feira foi um certo caos. Na coletiva de imprensa tiveram vários questionamentos, inclusive sobre a minha capacidade de guiar um carro bem mais superior. Estava deixando meu posto na Toro Rosso para Daniil Kvyat, que acabou sendo rebaixado por conta do mau desempenho, mas seu estava sedento. Queria manter aquele assento a qualquer custo, não importaria quem eu precisasse passar por cima. Isso poderia incluir o Daniel Ricciardo, já veterano da equipe. Eu o conhecia superficialmente - difícil ignorar o furacão de brincadeiras que ele é, atravessando o paddock sempre com um sorriso no rosto. Esse tipo nunca me enganou, faz-se de bonzinho para te apunhalar pelas costas.

Mas como a vida tem seus caminhos estranhos, eu não poderia estar mais equivocado. Na sexta-feira de treinos livres, me recebeu com aquele largo sorriso, me acolhendo e mostrando tudo pela garagem e pelo motorhome. Fez questão de me apresentar a cada mecânico e cada engenheiro, me mostrou o caminho da cozinha e onde roubar um brownie de feijão preto - o seu favorito. Fiquei surpreso, mas ainda sim, não poderia baixar a guarda, ele seria meu principal rival. Conversando com Chris Horner naquele e em outros dias, entendi que aquilo era a essência de Daniel: tentar sempre ser o mais acolhedor e amistoso com seus companheiros de equipe, seja quem for.

O desenrolar da corrida daquela semana contou com 5 abandonos, incluindo as duas Mercedes, além de um pequeno erro de estratégia da nossa equipe, que prejudicou Daniel. Minha primeira corrida pela Red Bull foi para sagrar-me o mais jovem campeão de um Grand Prix. Era um passo incrível, campeão na primeira corrida enquanto meu companheiro de equipe amargou um quarto lugar. Ainda sim... por que ele estava lá, me aplaudindo enquanto ouvia o hino holandês? Parecia felicidade verdadeira naquele rosto cheio de ângulos e linhas, acentuadas cada vez que sorria mais e mais.

Ele me recebeu na garagem com um abraço. Me parabenizou várias vezes, perguntando como eu me sentia e perguntando os detalhes da minha corrida. E pela primeira vez na vida eu me senti à vontade com a presença de outra pessoa. Caminhamos em direção aos quartos do motorhome, onde normalmente faríamos mais um alongamento, trocaríamos de roupa e cada um seguiria sua vida até a próxima corrida. E sim, foi quase isso que aconteceu - mas antes que eu pudesse sair dali, uma batida na minha porta. Ao abrir, Daniel trazia contigo uma garrafa de espumante e dois copos.

- Achei que merecia mais um brinde pela sua vitória - disse, entrando sem cerimônias no meu quarto. Vestia uma camiseta branca da RedBull e seu habitual jeans rasgado e o boné virado para trás. Sentado na cama, abriu a garrafa e serviu a bebida nos dois copos, entregando um deles para mim. Acabamos por ficar lá por mais algumas horas, conversando, rindo, e conhecendo um ao outro. Me sentia feliz, e eu não tinha certeza quando me senti assim pela última vez.

- Um brinde, ao mais jovem idiota a ganhar essa caralha - disse, levantando o copo no ar e bebendo tudo de uma vez.

Era isso que significava ter um amigo?


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