2017 - PRÉ TEMPORADA

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Sede Red Bull Racing MK-7, Inglaterra, Fevereiro de 2017

POV Max Verstappen

Fazia alguns meses que não passava pela rua que levava à Sede da RedBull. A pré temporada iniciava com a esperança de um ano ainda melhor do que o anterior. Também estava empolgado em rever Daniel. Ele havia passado grande parte das férias de inverno na Austrália, enquanto fiquei entre Holanda e Mônaco. Sim, rever a família e meus poucos amigos foi ótimo, mas... quando as mensagens chegavam, parecia que uma luz se acendia. Nos falamos as férias inteiras, por vídeo chamadas e mensagens. Às vezes nem tínhamos um assunto, só surgia uma rosa... e as conversas vinham.

O carro que foi desenvolvido seria apresentado a nós naquele dia. Protocolos de sempre - vídeos a serem gravados, a apresentação técnica, a relação com o alto escalão da equipe. Christian Horner já havia adiantado que o carro fora feito sob medida para mim, que teríamos um carro a altura para competir de igual para igual contra a Mercedes e Ferrari. Caminhando pelo pátio, encontrei alguns engenheiros conhecidos, que me cumprimentaram.  Para alguns, perguntei se Daniel já tinha chegado e me indicaram a direção para onde ele tinha ido. Num labirinto de corredores, passei algum tempo nessa busca.

Ao virar no corredor seguinte, eu o encontrei. Usava um jeans claro, um casaco de moletom da equipe e o mesmo tênis preto. Estava encostado na parede, bem como um de seus pés, formando um ângulo com a perna apoiada. Mas ele não estava sozinho. Uma de suas mãos estava entrelaçadas com a de outro rapaz na sua frente, uniformizado com as cores da Redbull. Era alto, loiro e conversava próximo demais de Daniel. Se olhavam nos olhos, sorriam ao falar. Ao notarem minha presença, soltaram suas mãos e se arrumaram, assumindo uma postura mais séria.

O que vi foi por uma fração de segundos, e saí apressado dali. Sabia que deveria ter cruzado alguma linha vendo aquilo. Enfiei minhas mãos nos bolsos e continuei andando rápido e sem rumo pelos corredores da sede. Fiquei um pouco atordoado com aquilo, não sabia o que pensar. Da ansiedade em querer vê-lo, veio esse tormento estranho. Aquela intimidade... De alguma forma aquilo ecoava dentro de mim e a cada passo eu tentava entender.  Ciúmes? Inveja? Besteira, minha cabeça deveria estar no campeonato, não em algo assim. Afinal, nós éramos apenas amigos, não poderia questionar seus outros relacionamentos. Não percebi que ele veio atrás de mim, quase correndo para me alcançar.

- Tá fugindo de mim, moleque? - Ele passou seu braço por meus ombros. Nosso passo desacelerou, mas seguimos andando lado a lado. Eu me mantive em silêncio - O que eu fiz de errado, hein? Achei que ficaria feliz em me ver...

- Não, só achei que vocês queriam ficar a sós - eu sentia que ele caminhava me olhando, mas evitava olhá-lo. Eu queria tanto vê-lo e aquela cena tinha embrulhado meu estômago, de um jeito que eu não sabia explicar.

- O que? O Matt? Não, a gente só tava conversando.

- Parecia mais do que uma conversa casual. Quem é Matt afinal?

- Iiiih que isso agora? Só posso falar com o piloto prodígio Max Verstappen? - O sarcasmo em meio ao riso me acalmavam e aquela raiva momentânea passava. - Ele é só um engenheiro aqui, calma.

- Eu tô calmo...

- Então pare com essa crise de ciúmes e vem aqui.

Ele me puxou para seus braços, e eu não sabia o quanto eu senti falta daquele abraço. Parecia que havia passado anos sem aquilo, como seu doce preferido de infância que você prova novamente depois de muito tempo. O perfume fresco em seu pescoço. Ele me apertava a nuca e os cabelos, a força que aquele abraço tinha traduzia a falta que fizemos um para o outro. "Não é ciúmes" eu falei baixinho, com a voz abafada por seu ombro. "Claro que não, Max, claro que não" eu ouvi em resposta, sem nenhuma verdade em cada palavra.

O restante do dia foi cheio dos eventos chatos junto aos chefes e alguns patrocinadores. Daniel tinha um ótimo relacionamento com eles, cativando-os com seu bom humor. Em diversos momentos, me puxava em suas piadas, para que eu não passasse desapercebido. Tivemos a oportunidade de testar o carro no simulador, e dali a algum tempo viajaríamos para a Espanha para fazer os testes na pista. Eu estava empolgado em voltar para o ambiente de corrida. No final do dia, após um breve happy hour com o alto escalão, a maioria dos funcionários já haviam ido embora. Horner e Daniel estavam em uma reunião privada, mas decidi esperar por ele no refeitório.

20 minutos se passaram, e eu o vi entrando no recinto, trazendo duas latas de Redbull bem geladas nas mãos, cantarolando. Eu estava sentado sobre uma das mesas e os pés apoiados no banco. Ele se sentou próximo aos meus pés, secou as latas com um guardanapo e entregou uma para mim. Brindamos e conversamos sobre o dia, sobre as férias, sobre o novo carro. Mas nós dois sabíamos que existia um elefante branco na sala, e fui eu quem abordou o assunto.

- Danny... eu preciso te perguntar... e eu não sei muito bem como falar isso, então... - Ele me olhou com seriedade - Você é... gay?

- Max, você sabe que o B em LGBTQIA+ não é de Beyoncé, né? - Caímos na gargalhada. Era daquele sorriso que eu sentia falta.  - Olha, eu... me interesso tanto por homens quanto mulheres. Sim, tive um longo relacionamento com Jemma, mas já tinha ficado com rapazes antes disso. Resolvi me permitir a conhecer gente de novo.

Ele brincava com o guardanapo de papel entre as mãos. Começava a fazer vincos e dobraduras, preferi focar nisso enquanto ele continuava.

- Ele também é australiano, acabamos por sair algumas vezes durante as férias. Mora longe de Perth, então nos vimos bem pouco. É um cara legal.

- Então você e Matt estão... namorando?

- Não, longe disso. Eu só estou me abrindo a novas experiências. Eu... preciso esquecer alguém...

- A Jemma ainda está na sua cabeça?

- Hm? Ah sim, a Jemma, isso... - A dobradura agora se revelava nas mãos dele. Uma flor de papel. Ele a estendeu pra mim - Feliz ano novo, moleque. Desculpa, eu não trouxe uma de verdade hoje.

Eu agradeci, pegando o origami nas mãos. Pensava como que uma rosa começou como uma brincadeira, agora era um hábito. Ele fez um carinho em minhas pernas, como se quisesse dizer mais alguma coisa. Acho que ele sentiu falta de mim também. Afaguei o alto de sua cabeça retribuindo, os cachos de seu cabelo amortecendo a carícia. Eu não queria ir embora, queria passar mais algum tempo com ele, então arrisquei: 

- O que você acha de sair para comer alguma coisa?

- Eu ia gostar muito disso - disse, abrindo aquele irresistível sorriso.

Pizza, bebida, gargalhadas, companhia. Talvez essa temporada seja mesmo incrível.

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