2017 - MÔNACO

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Circuito de Mônaco, maio de 2017

POV Daniel Ricciardo

Começava a anoitecer em Monte Carlo. Pelo segundo ano seguido, não quis voltar para casa após uma decepcionante corrida. Decidi me afastar do pós GP, passar a noite em meu barco, para colocar a mente no lugar. Somente uma cerveja, música e o balanço do mar para me acompanhar.

Eu admirava o céu tomando cores alaranjadas, rosas, um vermelho intenso perto da linha do horizonte... Que dia. Era pra ser mais um histórico GP de Mônaco, e mais uma vez deu tudo errado. Mais um problema mecânico. Dessa vez ao menos, eu consegui terminar a corrida - amargando uma queda de P4 para P9, com a perda de potência nas últimas voltas. Por que Mônaco me odiava tanto assim?

A tela do meu celular acendeu, tocando o som de mensagem nova. Havia uma única pessoa que não era silenciada no meu whatsapp. Peguei o celular e olhei. Um emoji de uma rosa vermelha. Sorri, me deitando na espreguiçadeira para responder, apoiando a garrafa de cerveja no meio das pernas.

DR: "Diga, moleque"

MV: "Vamos beber"

DR: "Hoje não. Deixa pra amanhã. Não estou em casa"

MV: "Se eu descobrir onde você está, podemos beber juntos?"

DR: "Você não vai descobrir"

MV: "Se eu descobrir onde você está, posso entrar?"

DR: "Tirou da onde toda essa educação? Amanhã a gente se vê, Max"

No mesmo instante, ouvi um barulho no outro lado do barco. Coloquei-me sentado de novo, atento. Olhei de volta para o celular, sem resposta. Eu tentava me controlar para não sorrir igual bobo. Era como se me farejasse - por mais que eu me escondesse, sabia onde me encontrar. O barulho ritmado continuava, formando os passos cada vez mais altos, até que...

- Boa noite, comandante - Max apareceu. Recostou-se contra a estrutura do barco. A fraca luz no alto do mastro contornava sua silhueta. Trazia uma rosa branca em uma das mãos.

- Perdeu o uniforme? - Max usava uma camiseta branca e uma calça preta de linho, uma vestimenta fora do comum de suas calças jeans e camisa polo habituais. Seu minimalismo contrastava com a minha camisa florida e calça de brim.

- Bom te ver também, seu idiota - Ele caminhou em minha direção, pegando a cerveja de minhas mãos. Levou para a boca, mas mal tinha um dedo da bebida - Por que fugiu de mim, de novo?

- Você sabe onde tem cerveja. Já traz uma pra mim. - respondi, ignorando sua pergunta.

Ele entrou na cabine, voltando minutos mais tarde, já com um balde cheio de long necks. A rosa espetada no meio do gelo completava tudo. Colocou no chão próximo da espreguiçadeira e sentou-se, tirando o tênis e as meias. Eu o observava com o celular nas mãos, trocando entre playlists. Abriu duas garrafas, entregando uma para mim e brindando comigo logo em seguida. Falamos sobre a corrida, sobre estar em casa. Uma a uma, as cervejas iam desaparecendo e repostas por um de nós. A bebida nos soltava, permitindo risadas, brincadeiras, cantorias. A noite avançava, a lua em sorriso se movia pelo céu. Me lembrei quando admiramos aquelas estrelas juntos verão passado. Foi uma noite são íntima, que ele me permitiu conhecer um pouco das sombras que carregava no peito. Não notei que Max, agora sentado ao meu lado, insistia em me falar algo:

- Hein? Por que fugiu de mim de novo, hein?

- Eu não fugi de você, Max, eu fugi no circo da toda poderosa Fórmula 1.

- Eu não tô falando só de hoje, faz semanas já que você...

- Você insistiu em me encontrar e me achou. Isso não basta, inferno? Eu tô aqui, com você... -Não resisti. Acariciei sua coxa, certificando que eu estava realmente ali, que não era um sonho. Ele pousou sua mão sobre a minha, seguindo a carícia. Era algo tão bom estar ali, aquele momento que não poderia existir. Eu afasto minha mão rapidamente - Pare com isso.

- O que? Você quem começou - Ele riu, timidamente. - É tão ruim assim?

- Não entendi o que você...?

- É tão ruim assim ficar perto de mim?

- Nem um pouco. Você é uma ótima companhia - Eu estava me excedendo. - É.. é complicado, Max...

- E se eu diminuir essa distância? Assim você não foge mais...

Max se acomodou mais próximo ainda. Quadris e troncos colados um no outro. Passou o braço sobre meus ombros. Todos aqueles pontos de contato com seu corpo me faziam arrepiar. Ele me observava, a centímetros do meu rosto. Tentei me manter impassível, olhando a cabine do barco e não para ele.

- Não me testa, garoto.

- Agora eu sou "garoto"? O que aconteceu com o "moleque"? - Ele ria, e seu hálito envolto em álcool batia contra minhas bochechas. Ele continuava com seus olhos cravados em mim.

- Você bebeu demais, Max. Pare com isso. - meu coração disparava nesse momento.

Ele não se afasta. Resolvo testar sua determinação em me provocar e até onde estava disposto a encher minha paciência. Aproximo ainda mais meu rosto ao dele - Max nem tem o reflexo de se afastar. Estávamos tão próximos agora que mal conseguia ver sua face completa, apenas conseguia me concentrar no azul do seu olhar, num tom marinho pela penumbra do lugar. Seus olhos não paravam, ora me encaravam, ora desciam pelo meu rosto. Ouvia sua respiração escapar pela boca entreaberta, denunciando seu nervosismo. Tive que me deliciar com esse momento, provando da sua inquietude enquanto os minutos se arrastavam, sem nenhum desistir.

Mas isso ainda não significava nada, certo? Segui então com o experimento: segurei seu queixo entre o polegar e o indicador, trazendo seu rosto para mim, pressionando seus lábios contra os meus, num rápido selinho. Surpresa ou não, Max retribuiu. Eu o observei por um instante com um sorriso no rosto, enquanto ele se inclinava na minha direção. Ele me olhava confuso, talvez pensando que fez algo de errado.

- É, garoto... o meu garoto - digo, passando os dedos por seus cabelos, trazendo-o novamente para meus braços, agora com mais certeza.

Era um beijo urgente, desajeitado. Eu estava incrédulo, porém consciente de tudo que acontecia. Suas mãos passeando pelo meu peito até as costas, da sua pele lisa contra minha barba. A forma que segurava firme e carinhoso a minha nuca, como se aquele momento fosse acabar a qualquer segundo. Sua respiração ofegante quando nossas bocas se separavam por rápidos instantes. Max, como tudo na sua vida até então, sempre muito intenso.

Eu já tinha notado, mas não queria acreditar. Notei cada abraço mais demorado, como às vezes contornava com seus dedos as linhas das minhas mãos. Notei cada olhar perdido que se encontrava com o meu, cada cada rosa como se fosse um pedido de atenção. As carícias inconscientes, as brincadeiras durante entrevistas. Cada noite que passamos em claro dividindo quartos de hotéis, conversando, bebendo, caindo no sono juntos. E cada manhã que acordei e fiquei admirando esse menino, sabendo que não poderia nunca fazer o que estava acontecendo. Não queria destruir nossa amizade... e ainda sim, estávamos aqui, no meu barco, aos beijos.

Eu o deitei na espreguiçadeira, apoiando sua cabeça no travesseiro, deitando sobre o garoto que se entregava a mim. Pernas entrelaçadas, mãos que se perdiam por nossos corpos. Explorei seu pescoço com meus lábios, ouvindo pela primeira vez seu gemido de prazer. Baixo e contido, mas genuíno prazer. Ele também se arriscava a me provocar, mordendo de leve meus lábios entre beijos, acariciando minhas costas por baixo da minha camisa. Seu toque era quente. Seu gosto era perfeito.

Eu o aninhei perto de mim, deitando de lado, uma das pernas sobre as dele. Ele deitado sobre um dos meus braços, ainda buscava a todo momento meus lábios. Contornava meu maxilar com os dedos, enquanto me beijava devagar. Minha mão repousava sobre seu peitoral, fazendo delicadas carícias - já havia se recuperado do frenesi inicial, respirando profundamente. Eu me perguntava tantas coisas, mas tudo se embaralhava na minha cabeça cada vez que ele sussurrava "Danny". Cada vez que me puxava para si, preenchendo qualquer espaço vago entre nossos corpos.

Se você soubesse o quanto desejei esse momento.

Não houve mais espaço pra diálogo no decorrer da noite. A madrugava se enchia de riso, sorrisos, carícias e sempre voltávamos a nos beijar. Às vezes existiam silêncios, onde só nos observávamos, tentando compreender se aquilo estava acontecendo mesmo - era uma graça sentir o toque de Max nessas horas, contornando as linhas do meu rosto com a ponta de seus dedos, como alguém descobrindo como trocar carícias. Eu não quero que nada disso faça sentido agora. Amanhã, somente. Hoje, a noite pertence somente a nós.

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