Como se ainda fosse real

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─ O que você pensa que eu sou?  ─ Hermione chutou uma pedrinha antes de se virar para o ruivo. Ela não sabia exatamente o que queria falar para ele, mas a notícia de Gina havia deixado a garota um tanto irritada, então ela simplesmente se deixou levar pela raiva: em uma situação pior em que a estavam não entrariam. ─ Uma espécie de segunda opção ou algo do tipo?

─ O que quer dizer com isso, Hermione? ─ o rapaz interrompeu, confuso. Talvez ele soubesse onde ela estava querendo chegar, mas ele ainda não se sentia preparado para aquela conversa, para admitir para si mesmo que ela era sua maior fraqueza e que não era Júlia que mudaria isso, e ainda assim sabia que teria que passar por aquilo. Pior ainda, sabia que precisava se decidir, dar um rumo certo para sua vida e deixar que as garotas também pudessem dar.

─ O que eu quero dizer, Fred, é que você não pode simplesmente fazer isso. Quer dizer, eu sei que saber que você não estava noivo no dia em que transamos deveria aliviar alguma coisa, mas de certa forma só piora, o que eu achei que fosse impossível. ─ a garota evitava os olhos esverdeados enquanto falava, sem pensar. ─ Eu já estava me sentindo a pior pessoa do mundo, afinal você está noivo, e eu não quero ser essa pessoa na vida de ninguém, mas eu realmente não sei o que aconteceu. E isso realmente não importa.

─ Hermione.

─ Não. Me escuta. ─ a garota suspirou, passando as mãos pelos cabelos agora soltos ─ O problema todo dessa situação é que não podemos fazer isso. Não podemos ter esses encontros e esses momentos, e você simplesmente não pode invadir minha casa e falar o que bem entender, porque você não achou apropriado para o momento ou sei lá qual sua desculpa. Você está noivo, e eu segui minha vida, e nós dois precisamos entender isso de uma vez por todas. Eu já te disse um milhão de vezes que eu nunca vou te privar de nada da vida da sua filha, não mais, mas tem que ser somente isso. Somente Rose. Eu não posso ficar beijando você sabendo que você não vai voltar a ser meu, Fred. Por Mérlin, não me peça para fazer isso. ─ os dois se olharam por um momento e a garota sentiu o coração pesar. Não entendia porque estava falando tudo aquilo ou porque havia se irritado tanto ao saber que o ruivo não casaria naquele final de semana, mas deixou as palavras escaparem da boca mesmo assim. ─ Eu quero apenas o melhor para vocês dois e ...

─ Hermione, por favor. ─ Fred segurou a garota pelo braço, fazendo-a olhar para ele. No fundo, ele sabia que ela se controlava para não chorar, assim como sabia que aquela confusão toda era culpa dele. Por ter insistido no coração, no próprio egoísmo de não deixa-la ir, embora ele já o tivesse feito. Não se arrependia dos beijos que havia roubado durante os encontros ─ não programados ou imaginados ─ dos dois, mas sabia que aquilo tinha que terminar logo. Não era justo com Hermione e não era justo com Júlia. ─ Me desculpe. Eu sei que não é o suficiente, mas é tudo o que consigo dizer agora. Eu não devia estar fazendo isso com você, mas eu não entendo o que acontece. Sério, Mione, eu...

─ Tudo bem. Só vamos terminar com isso por aqui, okay? A festa de casamento é amanhã, é o dia de Harry e Gina e eu acho que deveríamos apenas aproveitar, e ─ a garota respirou fundo, engolindo o orgulho ─ parar com essa briga toda. Está na hora de lidarmos com nossas consequências e parar de viver como se ainda fosse real, sabe?! Como se ainda estivéssemos juntos ou algo do gênero. Eu realmente te amo, e sei que tudo isso foi bem estranho, desconexo mas necessário para nós dois. Por favor, Fred, apenas amigos daqui para frente, tudo bem?

Os dois se despediram apenas com o olhar, sem saber o que dizer ao mesmo tempo em que havia muito a ser dito. A garota entrou na casa novamente, encontrando Rose e Gina brincando na sala. Chamou a filha e se despediu, desejando boa noite e aparatando para casa logo em seguida. Deixou a ruivinha com Bichento enquanto fazia o jantar e pensava em tudo: em Fred, no casamento e no turbilhão de sentimentos em seu coração naquele momento. Desde a briga entre os dois, dias atrás, não parava para pensar no que haviam feito, e dizia para si mesma que era melhor assim, afinal não queria aquilo, mas Fred tinha um controle sobre ela que era inexplicável. Não eram e nunca haviam sido encontros planejados, e não fazia ideia de como aquilo começara, mas lembrava de ver Fred e simplesmente deixar com que aqueles beijos e conversas acontecessem. Ficava irritada consigo mesma toda vez que parava para pensar, mas sabia que não mudaria em absolutamente nada o fato de que o que estavam fazendo era errado.

A conversa de momentos atrás também não aliviava seu coração, mas pelo menos assim sabia – ou pelo menos esperava – que conseguisse seguir em frente a partir disso. Bufou e terminou de arrumar a mesa, jantando com a filha que logo conversava com a avó, pelo telefone. Hermione era bruxa, sim, mas não conseguia abrir mão de objetos trouxas, principalmente os básicos, como dizia sua mãe. Logo as duas já estavam de banho tomado, vestindo pijamas e deitadas na cama de Rose, que ouvia pela centésima vez sua história favorita.

Assim que terminou de ler o livro, Hermione arrumou a filha na cama, cobrindo-a como sempre. Desejou boa noite e já havia desligado a luz quando ouviu a ruivinha perguntar:

─ Mamãe, por que você e o papai não vão se casar? Eu ouvi tia Gina dizer que as pessoas só tem bebês quando realmente se amam, e se você e papai tiveram eu, é porque se amam. Então por que ele vai casar com aquela outra moça com cabelo feio?

─Rose. ─ Hermione segurou uma risada ao ouvir o comentário sobre o cabelo da moça, mas não era hora para repreensão. Não sobre aquilo. ─ É complicado, até para nós dois, mas talvez um dia faça sentido para todos nós. Aí você vai poder me perguntar novamente, e a mamãe vai saber responder. ─ ela sorriu, dando um beijo na cabeça da filha. ─ E é "me tiveram", não "tiveram eu". Agora vamos dormir, amanhã vai ser um grande e longo dia, e garanto que você não vai querer estar cansada.

A garota se jogou na própria cama logo em seguida, suspirando e contendo um riso de nervoso. Rose sabia como coloca-la em uma saia justa, mas não podia esperar menos da pequena, não sendo filha de quem era. Desligou o abajur ao lado da cama e fechou os olhos, sabendo que sonharia com Fred e, pela primeira vez em muito tempo, resolveu aproveitar essas lembranças, afinal era o que teriam por um bom tempo.

Como se ainda fosse real - fremione   //Concluída //Onde histórias criam vida. Descubra agora