10 - Pistas

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- Trafalgar - chamou Kid - e o garoto? Já acordou?

- Sim, mas tentar falar com ele não deu muito certo. Você descobriu alguma coisa?

- Sobre isso, lembra de eu falar que o Killer descobriu umas marcas de pneus na cena do crime? Então, procuramos uma correspondência, mas...

- ... Mas?

- Há uns 300 carros com essa marca só na cidade.

- Analisem as câmaras de trânsito na zona à hora em que a garota desapareceu. Procurem qualquer carro com essa correspondência e-

- Já fizemos isso, á um bem suspeito - Kid fez sinal a Law, que se aproximou. Pegando no Tablet e abrindo a tela, passou a imagem a preto e branco das câmaras de filmar de uma certa rua na tela luminosa, apontando com o dedo para um veículo em específico. - Esse aqui. Não tem correspondência, mas passou na rotunda 16 vezes no intervalo 24 minutos...

- Como se esperasse uma oportunidade - concluiu o tatuado.

- Nem mais.

- Proprietário?

- Alugado. Pago em dinheiro, sem registo. O atendedor da empresa não se lembra de quem possa ter sido e as câmaras não tem nitidez suficiente para ver o condutor.

- Que merda - esbravejou Law. - Então só resta o garoto.

- Nem mais. Estamos correndo contra o tempo, Law.

Law coçou a cabeça, revoltado, rosnando algo elegível. Luffy podia não estar bem ainda, mas ele não tinha escolha. Assim que recebesse a resposta de Bepo, teria de voltar correndo para o hospital.

* * * * *

Demorou dois dias para que Luffy pudesse ser considerado minimamente estável. O aparelho de oxigénio fora desligado e já não haviam mais fios que o prendessem. Bepo lhe perguntara se ele podia comer e Luffy, meio adormecido pela medicação mas sem deixar o ar de desconfiado e a tentativa de distância de lado, acenou positivo em resposta. Á parte o pouco que ingeria, passava o tempo todo a dormir e a olhar pela janela, tentando perceber se estava mesmo vivo, se aquilo era real ou uma ilusão, se o sol que todas as manhãs entrava pela janela, passava as cortinas e batia no seu braço era o mesmo que, quando criança, o fazia levantar cedo e pular para fora da cama com toda aquela energia e hiperatividade que um dia tivera.

Acima de tudo, pensava na criança. Ao sentir todos os cheiros e sons diferentes que o rodeavam, a imagem de Tama lhe vinha a cabeça lembrando-o também do polícia desconhecido que tentou comunicar com ele e o fez entrar em pânico na última vez.

Verdade seja dita, Luffy não sabia como viver a vida. Parecia que, o que quer que fosse que estivesse a acontecer, ele não conseguiria encarar de frente. Não tinha forças para isso. Queria o mundo exterior, mas tinha medo dele. Medo das pessoas... Por mais que vasculhasse na sua mente, não chegava a nenhuma conclusão sobre o porquê de sentir tanto pânico frente ao policia e ao médico que agora tomavam conta dele, muito menos de, de um momento para o outro, a sua mente lhe ter pregado aquela peça e o levado a delirar de novo, do mesmo jeito que acontecia quando estava trancado naquele quartinho. Ao menos, parecia que as pequenas cápsulas coloridas de comprimido que lhe davam antes de ele sentir uma enorme vontade de dormir o haviam ajudado a se controlar nesse aspeto.

Tentou analisar os dados sobre ele mesmo que sabia ficarem guardados na primeira gaveta da secretária, mas essa situação parecia não ter sido descrita nos relatórios. Enfim, pensar demais não o ajudava em nada, mas o que mais era suposto ele fazer? Estava realmente num hospital, começara a mentalizar-se disso. Duvidava que Teach o descobrisse ali e claro, nem todas as pessoas eram ruins, principalmente o polícia e o médico que haviam adotado a missão de o ajudar. No entanto, não deixava de sentir aquele aperto sufocante na presença de outras pessoas, como se algo de ruim fosse acontecer. Talvez isso viesse, unicamente, dos constantes pesadelos com o seu cativeiro que se haviam intensificado desde que lá chegara, do hábito de ter todas as suas esperanças arrancadas sempre que elas surgiam, de ter apagado todas as suas espectativas para não se magoar ainda mais e do facto de, ao contrário do que acontecia com Teach, não conhecer o pior lado nem saber o que esperar daqueles dois. Isso o frustrava ainda mais... Luffy não queria se sentir assim com alguém que não lhe fizera nada de ruim.

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