8 - À procura de respostas

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Luffy abriu os olhos bem de vagar, apenas para os fechar de novo. Onde quer que estivesse, a luz estava a cega-lo. Estava tonto, queria dormir e esperar até que parasse de se sentir tão mal.

Luz... Porque tinha luz ali?

Tentou pensar na última vez em que estivera acordado e aos poucos, se lembrou do ocorrido. Começou a tentar entender onde estava. Achava que havia morrido, então, porque as dores no seu corpo e na sua cabeça lhe diziam que não?

Se esforçou por tentar mantê-los abertos e observou o ambiente em volta. De um lado, havia uma janela de cortinas brancas através do qual era possível ver uma árvore alta, de folhas verdes e alguns prováveis ninhos dos pássaros que voavam e se escondiam entre os galhos e as folhas largas para se protegerem dos olhares dos seres humanos. Do outro, encontrou uma espécie de máquina que concluiu apitar ao mesmo ritmo que as batidas do seu coração, uma mesinha com algumas gavetas e uma garrafa de água.

- Você acordou? - Olhou na direção em que vinha a voz. Uma silhueta alta vestida de branco estava próxima de si. Ficou mais confuso ainda, com vontade de se afastar da pessoa misteriosa por mais que, pesado como se sentia, o seu corpo não respondesse  à sua vontade. - O meu nome é Bepo, sou chefe de departamento, trabalho neste hospital. Consegue falar?

Luffy não respondeu. Estava baralhado. Hospital? Porque ele estava no Hospital? Um hospital não era onde estavam as pessoas doentes? E ele não devia estar enterrado em qualquer sítio, bem longe da civilização?

Acabou com um suspiro profundo. Não se imaginava tão sortudo ao ponto de voltar à sociedade depois de aceitar a morte. Fechou os olhos de novo e tentou não pensar nisso. A confusão lhe dava dores de cabeça, além disso, não tinha energia para muito. Não se sentia em condições de falar e um estranho cansaço, maior do que o habitual, o mandava voltar a dormir na cama macia e confortável em que se encontrava, bem diferente daquele colchão velho onde passara todas as noites nos últimos anos da sua vida.

Bepo voltou a chama-lo, mas sem resposta, concluiu que talvez ele não tivesse consciência das suas ações. Mesmo de olhos abertos, podia não se lembrar de ter estado desperto. Uma ação involuntária, mas positiva, que o médico esperava que se repetisse após reduzir um pouco a quantidade de medicação que lhe era aplicada.

Já Luffy, pensava nele mesmo enquanto isso. No que faria quando a cabeça parasse de latejar e em como estaria Tama. Não devia ter passado tanto tempo assim, não era? Provavelmente ela ainda estaria bem. Não haveria problema se ele fosse um pouco egoísta, cedesse ao cansaço e dormisse um pouco mais... Certo?

Foi o que fez. Deixou a respiração pesar para voltar a apagar. Quando abriu os olhos pela segunda vez, bem mais desperto do que antes, não estava ninguém ao seu lado indicando que o tal Bepo havia ido embora. Talvez tivesse sido a sua imaginação? Iria fecha-los de novo, se não tivesse ouvido alguém nos pés da cama em que estava deitado.

- Mugiwara-ya. - Aquela alcunha fez todo o seu corpo estremecer. Olhou para o dono da voz desconhecida com um movimento leve de cabeça que por si só, fez um choque de dor percorrer-lhe o corpo todo. Ainda assim, esforçou-se por manter os olhos abertos. - Você... Está consciente?

Luffy queria responder, mas não sabia como. Travou, a voz não saiu, havia uma pessoa intimidadora que ele não conhecia bem na sua frente fazendo com que a sua única reação fosse ignorar a dor e por instinto, dar um pulo assustado para recuar até onde a cabeceira da cama lhe permitia, afastando-se dele o mais que conseguia. Arrependeu-se dessa decisão? Sim, logo após a dor de cabeça o atacar de novo pelo movimento repentino. Ia deitar-se e ficar á mercê do outro? Nem pensar.

Law, perante a reação do garoto, levantou as mãos em forma de trégua, demonstrando não ter nada de mal com ele ou pelo menos, nada que pudesse magoar o garoto... Luffy continuou sem responder, analisando-o sem baixar a guarda apesar de o aparelho de oxigênio o incomodar tanto como os fios de soro nos seus braços e a claridade do local não ajudar com a sua - ainda existente - dor de cabeça.

- O seu nome é Luffy, certo? Você está com dores? Precisa de alguma coisa?

Acenou em negação. Precisava de descanso, apenas isso por pelo menos um dia. Voltou a fechar os olhos e ficou quieto, tentando reduzir a adrenalina no sangue, encolhido no mesmo lugar.

Reconhecera finalmente a roupa do outro. Não sabia se fora buscar essa informação ás suas memórias de infância ou a algum programa que tivesse visto, mas não tinha dúvidas de que era um policial e só por agora, o menor queria acreditar que não lhe fosse fazer mal. Tentou focar a sua respiração - nem notando quando ficara descompensada - como uma forma de se acalmar. Em simultâneo, por mais que Law quisesse respostas, sabia que não as teria naquele momento.

- Luffy-ya... Vou deixar aqui um caderno e uma caneta. Se quiser desabafar algo, se quiser alguma coisa, pode escrever aqui. Se tiver alguma informação importante sobre quem fez mal a você ou sobre a Tama, que nós sabemos que você encontrou... Pode escrever aqui também... Okay? Queremos que nos ajude a achar ela, acho que você quer isso também.

O menor não falou. Acenou de novo, ainda mais nervoso. Tama... Ela estava bem? Eles não a haviam achado ainda? Porque tudo á sua volta começara a rodar? Escondeu a cara entre os joelhos completamente ofegante, suando frio. Antes que Law percebesse que algo estava errado, Luffy deixou de ver ou ouvir o que o rodeava para que a sua mente lhe pegasse uma partida e o levasse de volta àquele quartinho onde antes vivia e ao levantar o rosto, deixar de ver o polícia desconhecido para passar a ter a imagem de um rosto sádico que conhecia muito bem. De novo, estava naquele pesadelo... O seu carcereiro estava ali, bem na sua frente, junto com uma criança. Um garotinho de cabelos negros, olhos castanhos e hematomas por todo o corpo que se parecia muito com ele mesmo á alguns anos atrás, que lhe estendia a mão como se perguntasse a Luffy se o iria acompanhar.

Soltou um grito alto, um tanto sofrido, enquanto puxava os próprios cabelos com certa força num ataque de pânico - algo pelo qual nunca antes passara com aquela dimensão. Como se a sua mente tivesse sido separada do seu corpo, como se nunca tivesse saído daquela prisão e os momentos anteriores tivessem sido apenas uma ilusão, sentiu todo o seu espirito rejeitar aquele cenário como nunca antes acontecera.

Ao seu lado, Law, apenas teve tempo de correr para fora do quarto e gritar por Bepo. Segundos depois, um tranquilizante já estava a ser administrado no fio que ligava o soro á sua veia do garoto para tentar acalma-lo, sendo que não demorou mais do que um minuto para que o sedativo fizesse efeito, os seus olhos fechassem e ele caísse adormecido sobre o braço do médico que o amparou.

- O que houve afinal? - Resmungou o albino, colocando o garoto deitado de volta na cama na sua posição original.

- Não sei, eu só estava tentando comunicar com ele.

- Ele sofreu um grande dano, Law. Juntando à pancada na cabeça que ainda não sabemos se terá sequelas, tem todo um psicológico que não há de estar nas melhores condições. Se quiser continuar a vê-lo, por favor, tenha cuidado.

- Acha que pode ter sido uma espécie de transtorno pós-traumático?

- Talvez, precisaria de mais exames e de um psiquiatra para descobrir mas isso implicaria explicar a situação á administração e consequentemente, excluir todos os fatores de stress para ele.

- Ou seja, eu inclusive - concluiu o tatuado.

- Não só você, ele seria transferido para outra ala. Law, eu sei que quer respostas mas tente entender a minha situação. Eu não posso arriscar o bem-estar de um paciente meu. Deixe-me tentar descobrir se ele está, ou não, ciente de onde está. Se eu achar que sim, que ele pode falar sobre isso sem consequências maiores, então eu prometo que você será o primeiro a saber. Até lá, por favor, não se exceda.

Law acenou relutante e a contragosto, saiu para os deixar sozinhos. Não tiraria nada dali ainda. Precisaria de começar a investigar por outro lado.

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