16 - Telhado

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Momentos antes, no hospital...

- Entendi, eu digo-lhe. Até... - Bepo desligou o telemóvel. No quarto de hospital onde passara os últimos dias, o menor permanecia quieto, escondido debaixo das cobertas, com certa indiferença á presença do médico. Como sempre... - Encontraram o Teach, Luffy. Ele foi preso. Também acharam a Tama, a garotinha que você estava tentando salvar. Ela está bem, está viva e já recebeu alta. Está indo embora hoje.

A atenção de Luffy foi tomada por aquelas palavras, que o fizeram levantar a cabeça do travesseiro e olhar o médico para se certificar de que havia ouvido bem. Ao ver a honestidade no rosto do outro, soltou um suspiro alto de alívio, dando um sorrisinho discreto. O Albino sentou sobre a cama do mesmo e encarou-o com certa curiosidade, sendo essa a primeira vez que o menor o permitia olha-lo nos olhos sem desviar o olhar. Um grande passo que Luffy nem notara que dera, tamanho o á vontade que sentiu ao, simplesmente, agradecer a si mesmo por ter sido capaz de confiar naqueles dois sujeitos que tomavam conta de si desde alguns dias atrás.

- Ficou feliz com isso? - Concluiu o médico. Luffy permaneceu calado, mas acenou positivo deixando notório que estava bem mais descontraído depois de ouvir essa notícia. - Você estava preocupado, não era? Já faz dois dias que o Law esteve aqui. Me desculpe não avisar logo, queríamos ter a certeza de que ela estava bem. Bom, pode descansar agora. Eu já vou, se precisar de alguma coisa é só carregar nesse botão ai do lado da cama e eu venho. Isso você já sabe, né? Até...

Foi assim que o menor ficou sozinho de novo, desta vez, bem mais aliviado do que antes. Ia agradecer a Bepo por lhe ter dado a notícia, mas o mesmo já saíra. Apenas deixou para lá.

Falando em sair, Luffy achou que estava na hora de fazer o mesmo. Nos últimos dias havia visto o mundo por uma janela. Estava grato por essa oportunidade, por poder sentir o ar puro contra o seu rosto quando a mesma era aberta pelo médico para arejar o quarto no entanto, começara a pensar se estava tudo bem caso saísse um pouco para o exterior. Não estava preso, logo, não tinha de ficar o tempo todo naquele quarto... Certo? Por mais que começasse a vê-lo como um refúgio, um sítio onde estava seguro, Luffy não queria se apegar àquele lugar desse modo. Não queria se apegar assim a lugar nenhum...

Se levantou da cama e verificou que conseguia ficar de pé e andar normalmente. Por isso, só com a bata do hospital vestida, saiu pela porta e começou a caminhar descalço pelos corredores em tons de branco e azul, ignorando o desconforto por estar rodeado de outras pessoas que concluiu serem utentes daquela unidade. Andou entre eles, tentando recordar-se de quantos anos fazia desde que vira tanta gente junta e evitando, ao máximo, o contacto com eles para não chamar a atenção. Prosseguiu o seu caminho atento a tudo e a todos, verificando que ninguém se iria aproximar de mais dele, que ninguém o estava a seguir, não mais em busca de um lugar para descontrair mas sim pela curiosidade que o rodeava em descobrir um pouco mais sobre o edifício. Felizmente para ele, entre os inúmeros pacientes nos corredores, ninguém questionou a existência de mais um.

Parou numa salinha de espera ao notar um certo grupo de pessoas que juntas, encaravam um monitor. Se aproximou. Nele, uma notícia se destacava, sendo esta a de um garoto que havia sido encontrado depois de alguns anos desaparecido. Ao prestar um pouco mais de atenção, não demorou a concluir que era dele que estavam falando, sendo o seu desfecho marcado com a morte do seu carcereiro.

Estremeceu. Teach morrera?

Recuou dois passos e virou costas, começando a correr sem prestar a real atenção ao caminho que tomara. Precisava de se afastar dali, rapidamente. Precisava de ir embora. Precisava de um local onde pudesse ficar sozinho e tentar afastar da sua mente a imagem do homem que lhe atormentara o sono e que agora, voltara a aparecer na sua cabeça como se o estivesse a perseguir, em busca de uma oportunidade para o arrastar de volta àquele inferno. Precisava de ajuda...

Subiu algumas escadas para tentar voltar ao seu quarto, sem pensar se quer que não as havia descido e quando deu por si, estava no telhado do hospital. Sem saber mais por onde seguir, ficou ali onde, após entender que encontrara ar puro, paz e sossego, se acalmou.

Respirou fundo e pensou que estava tudo bem sem saber ao certo como reagir. Teach... O nome daquela pessoa parecia ser repetido vezes sem conta na sua mente. Então, raciocinou. Ele morreu... Teach morreu e ele estava livre... Olhou em volta sem entender ao certo porque não conseguia se livrar daquele nervosismo e encontrou a mesma criança de antes ao seu lado. O garotinho de cabelos negros e olhos castanhos, voltou a estender-se a mão, sem sucesso em ser retribuído.

"Você sabe que a escolha é sua, certo?" - Questionou. Luffy ficou confuso.

- Como assim? Escolha? Quem é você? E porque se parece comigo?

Sem resposta. A criança falou algo, contudo, Luffy não conseguiu ouvir. Apenas ver a boca do menor mover-se e formular alguma frase que ele não percebeu. Ao ver que não fora entendido, o garotinho repetiu, mas sem sucesso. Parecia que não era hora de lhe dizer ainda quem era. Então, desviou da frente de Luffy que teve o campo de visão livre para observar o céu. Ao ter contacto direto com o sol, surgiu uma grande vontade de ficar ali um tempo e aproveitar a vista - desta vez sem um vidro de uma janela a separa-lo do resto do mundo - e dirigiu-se a um canto onde se encostou para sentir um pouco mais daquele calor contra a sua pele enquanto ouvia o som dos pássaros ao fundo, habitantes do parque ao lado. Se deitou sobre o chão e fechou os olhos. A brisa, o tempo, tudo estava tão bom que até o sono começou a pesar.

Pensou no que faria a seguir. Se Tama realmente estivesse bem, não tinha mais nada que o prendesse ali, naquele mundo. Não havia mais nada que precisasse de fazer em vida. Não tinha para onde ir, não sabia como comunicar com os outros e duvidava que fosse ficar naquele hospital para sempre. No entanto, ao sentir o sol sobre a sua pele teve pela primeira vez em anos, a sensação de que perderia alguma coisa. Perderia a oportunidade de rever a menor, de saber como estava a família - mesmo que não chegasse a reencontra-los - de sentir mais vezes a brisa contra o seu rosto, o sol contra a sua pele. Perderia a oportunidade de se sentir vivo...

"Você está realmente tentando mudar o seu desejo?" - Ouviu o de cabelos negros questionar-lhe ao seu lado. Antes que Luffy pudesse responder, a criança sumiu.

Voltou a suspirar pesado, sem perceber o que havia, afinal, com a sua mente e quem era a criança misteriosa. Voltou á sua linha de raciocínio e tentou ficar essa ideia, pelo menos por enquanto. Queria aproveitar um pouco do que perdera, depois, logo decidiria o que fazer. Assim o tempo passou e ao sorrir por, simplesmente, poder olhar de novo o céu, Luffy acabou dormindo sem perceber.

Talvez ter sobrevivido e viver por mais um tempo não fosse tão ruim assim... Isso, se a sua mente conturbada o deixasse ter algum descanso...

QuartinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora