21 - É pedir muito?

330 61 22
                                    

- Isso é para você, Luffy - Bepo explicou. Luffy atentou o potinho na mão do médico. Dentro dele, várias cápsulas coloridas eram visíveis, algumas azuis outras vermelhas que o menor encarou com curiosidade. - Você tem de tomar um vermelho de manhã e um azul à noite. Apenas isso. O frasco vai ficar com o Sabo, ele vai vigiar você para ter a certeza de que toma direito. Eles dão sono, mas vão ajudar você com os pesadelos e... A que não aconteça de novo o que aconteceu quando você conheceu o Law. Tome apenas um de cada. Entendeu? - Luffy acenou positivo, seguido do loiro que pegou o recipiente e guardou no bolso sobre o olhar atento do menor. Luffy não falou nada, continuou quieto no seu canto como se fosse invisível e ninguém notasse a sua presença. - agora as regras básicas. Luffy, além da medicação, você precisa de ganhar peso então tem de se alimentar direito. Quanto a vocês os dois - apontou para os irmãos - paciência. E nada de contactos repentinos.

- Certo - rosnou Ace. Luffy suspirou, encostado na parede. Gostava de conseguir abraçar eles. Fazia tanto tempo que não os via, queria apenas sentir de novo aquele amor fraterno de que tanto sentia falta. Mas não conseguia. Não ainda. Na verdade, cada vez mais se sentia distante deles, um pouco deslocado daquele ambiente depois de tanto tempo sem os ver. E apesar de Sabo parecer estar a fazer um esforço por se aproximar, não conseguia desvendar Ace que, desde que chegou, o olhava como se o fosse devorar. Algo que deixava Luffy extremamente desconfortável...

- Não lhe vou dizer que tem de sair nem que tem de ficar trancado em casa, Luffy. - Bepo. - Faça tudo a seu tempo. E se precisarem de alguma coisa, seja ela qual for, basta ligarem com o Law. E isso inclui tanto problemas com outras pessoas, como escolta policial - informou os outros dois. Ambos acenaram. Apenas Luffy, que não estava a par da conversa nem da tentativa de evitar os media, não entendeu.

- Estamos indo, Luffy - Law despediu-se. O menor acenou com a mão, vendo depois o outro sair acompanhado do médico. Enfim, ficou sozinho com os irmãos. Sabo se sentou no sofá e faz sinal ao menor para o imitar, algo que o garoto não se incomodou em contrariar. Ficou um pouco afastado do loiro, seguido de Ace que se instalou no sofá ao seu lado.

- Então, Luffy... Acho que está na hora de lhe falarmos um pouco das nossas vidas, mas antes disso. Como você se sente? Tudo bem com você?

- Hum? - Luffy piscou, um pouco surpreso com a pergunta, respondendo com um murmúrio baixinho. Estava bem? Era uma pergunta muito vaga. Estava vivo, todos lhe diziam que isso era bom. Então, talvez devesse dizer que sim, certo? Apesar de se sentir deslocado naquele sítio, estava de volta a casa. Devia se sentir feliz por isso. - Ah... Sim, eu acho.

- Ótimo. A gente queria muito ver você, Luffy. Mas o Bebo e o Law acharam melhor ver primeiro a sua evolução, antes que pudesse começar a pensar em reencontrar a sua família. Acho que é compreensível - o loiro murmurou. Luffy continuou a encará-lo sem saber ao certo onde o outro queria chegar. - Nós sentimos tanto a sua falta... Desde aquele dia, a gente nunca deixou de pensar em você, de o procurar... E eu sei que crescemos em mundos diferentes, mas não somos desconhecidos uns para os outros, então... Nós vamos estar aqui para tudo o que você precisar. Entendeu, Luffy? Não tenha medo de falar nada, não tenha medo da gente. Ainda somos seus irmãos... Okay?

- Nós nunca duvidamos de que estaria vivo em algum lugar - completou Ace. - Sabemos o que houve com você e vamos encarar isso de frente. Então, independentemente do quanto tenha mudado, vamos aceitar. Faça o mesmo connosco.

Luffy encarou o de sardas um pouco apreensivo com o tom de voz carregado do mesmo, como se estivesse bravo. Então, algo voou pela frente dos seus olhos para acertar o mais velho em cheio na testa. O mesmo, teve a cabeça projetada para trás para quase cair da cadeira. Luffy descobriu, segundos depois, que aquilo foi resultado de um livro atirado à cabeça do mesmo por parte de Sabo para o repreender.

- Não faça essa cara doentia, está assustando ele - rosnou. Ace já ia reclamar, motivo pelo qual o loiro se apressou a falar, para não ter uma discussão na frente do menor. - A gente visitou você no hospital, mas nunca entramos no seu quarto e estivemos esperando você receber alta para o encontrar. A gente vai lhe dar todo o apoio de que precisar. Então não hesite em pedir qualquer coisa que queira... Okay? - Luffy confirmou. - Ótimo. Agora... Respondendo à sua questão anterior, o que a gente tem feito da nossa vida. É uma pergunta bem simples e bem complicada. Acabamos a escola, ambos estamos trabalhando. Aquele idiota do seu irmão mais velho - Sabo apontou para Ace - está namorando. Ele só está bravo porque discutiu com a namorada.

- Porra nenhuma - contrariou.

- Enfim... Eu também namoro mas não acho que isso seja o mais importante. Você vai acabar conhecendo elas mais cedo ou mais tarde. Agora, quanto ao resto... Eu vou ficar em casa por uns tempos com você, Luffy...

- Você não disse que trabalha?

- Eu tirei umas férias - sorriu. O garoto de cabelos negros bufou. De algum jeito, aquilo soou-lhe como uma desculpa esfarrapada. Férias? Não, algo lhe dizia que não. Podia não perceber muito do mundo exterior, mas sabia que trabalhar era importante. Não queria ser um estorvo na vida dos irmãos contudo, parecia que dali em diante, era isso mesmo que aconteceria. Sabo desistindo da sua vida por ele era algo que, de todo, o menor não queria provocar. Aliás, pela cara de desgosto da criança machucada de antes que apenas ele via e que acabara de reaparecer ao seu lado, parecia que não era o único a pensar assim. - Luffy? Você me ouviu?

- Hum?

- Está tudo bem? - Acenou positivo. - Como eu estava dizendo, o Ace vai ficar fora de casa a maior parte do dia então se precisar de algo, fale para mim. Esse cabeça oca não sabe dar conta de recados. Agora, tem algo que você queira fazer?

Luffy pensou. Pensou um pouco, olhou à sua volta, mas acabou acenando em negação. Estava cansado, isso sim. Então, a criança ao seu lado apontou para o cimo das escadas.

- Tudo bem se eu for dormir um pouco? - Pediu, tentando descobrir o que o garotinho pretendia. O loiro consentiu, fazendo assim com que o menor se retirasse dali e subisse atrás da criança semelhante a ele, que saltitava feliz em direção ao seu quarto.

- Ele é mesmo o Luffy? - Rosnou o mais velho. Sabo o encarou.

- Claro que é. O que há de errado com você?

- Você ouviu o que o médico nos disse, certo? Não podemos tocar ele... Não podemos deixá-lo fora de olho. Você teve de desistir do seu trabalho para ficar em casa com ele. Este não é o Luffy que eu conheci.

- Ace - Sabo bufou.

- Eu sei, ele passou por muito e que nos  resta a nós ajuda-lo. Só que... Você acha mesmo que ele ainda nos vê como irmãos depois de 12 anos? Depois de ser raptado por nossa culpa?

- Não foi culpa nossa, Ace. Não foi culpa de ning-

- Você ouviu o que o Law nos disse antes, certo? Eu tenho estado a pensar na carta do Luffy desde que a li. Ele pensava em nós. Ele queria nos encontrar. Quando soube isso, fiquei incrivelmente feliz. Mas não foi isso que eu achei dele quando o reencontrei lá fora.

- Ele está assustado.

- Ele teve medo de nós! De nós, Sabo. Mesmo tendo sido abusado sei lá por quem... Nós não éramos irmãos? Por quem eu estive esperando nos últimos 12 anos?

- Não seja egoísta! É infantil você pensar que ele simplesmente voltaria para casa e estaria a sorrir como antigamente. Isso cabe a nós resgatar!

Ace fez uma cara de desgosto, levantou do sofá, saiu e bateu com a porta da frente, inconformado. Ele sabia que sim, que precisaria de paciência. Muita paciência. No entanto, só queria ter abraçado o irmão no reencontro... Um simples abraço que lhe dissesse que sim, era ele, ali, vivo, bem e de volta. Era pedir muito? Isso não ia matá-lo!

Já do topo das escadas, Luffy suspirou antes de ir para o quarto, onde o garotinho acabara de sumir de novo. Queria poder corresponder às expectativas dos irmãos. Infelizmente, não se achava capaz disso.

QuartinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora