Humano

587 58 37
                                    

— Tio, por que suas mãos estão com sangue?

— Titio, por que a papai está caído nos seus braços?

— Tio, nosso pai está bem?

— Titio, esse sangue nas suas mãos é do papai?

Levi encarava quatro crianças com olhares assustados enquanto uma faca estava em sua mão e na outra um corpo debruçado, totalmente degolado. Seu rosto tinha respingos de sangue, nas suas mãos tinha o corpo de um homem e a sua frente quatro crianças que um dia havia amado muito.

"Sem testemunhas." Foi o que Erwin havia dito. Aquilo era, no mínimo, cruel demais; porém, na sua frente estavam as quatro testemunhas trágicas de uma operação quase cem por cento concluída, exceto por aquilo.

"Mate qualquer testemunha, Levi."

"Mas são crianças! São inocentes!" Levi pensava sempre que a voz do comandante ecoava pela sua cabeça com a última ordem.

— Titio, por que está chorando? O que está acontecendo? Por que está apontando uma arma para... — Uma das crianças foi interrompida.

Um disparo. Dois, três, quatro.

Silêncio.

Levi acordou em um pulo, suando frio e com o peito subindo e descendo rapidamente. Olhou para as mãos limpas, lembrando-se que aquelas pequenas mãos já foram palco para muitas mortes e eram vangloriadas por diversos 'contratantes'.

Lembrou-se do rosto de cada uma das quatro crianças do sonho e suspirou fundo, colocando as mãos no rosto. Elas não estavam mais lá. Mais do que sangue de seu alvo nas mãos, Levi tinha o sangue de quatro pessoinhas que o admiraram muito um dia e que durante alguns meses se tornaram sua família.

Aquela missão foi concluída com o mais absoluto sucesso e Levi havia se tornado o agente número um da SurveyCorps por ter derrubado um alvo daquela magnitude. Vários agentes não conseguiram e sofreram as consequências pelo trabalho horrível que prestaram, isso quando não acabavam mortos na tentativa de fazê-lo.

A glória estava em suas mãos. Vários departamentos de polícia ligavam para contratar seus serviços de espionagem e infiltração e muitos se surpreendiam quando o viam chegar com a baixa estatura e o corpo menos musculoso do que o esperado, mas ficavam satisfeitos com o talento que ele tinha a cada operação bem sucedida.

Além da polícia, pessoas bilionárias e chefes de impérios contratavam seus serviços para espionar e várias vezes assassinar concorrentes ou pessoas influentes. Não era tarefa difícil, uma vez que tinha uma lábia boa e uma parceira excelente ao seu lado.

Ele não se importava desde que o dinheiro caísse na sua conta. Ele não se arrependia, seu lema era esse: sem arrependimentos. Fazia o que tinha que fazer, não importava os meios para isso; porém, a única vez que se arrependeu foi quando se envolveu demais na operação do seu alvo mais difícil e o que o levou ao pódio do sucesso: Willy Tybur. Um bilionário dono de diversos bancos populares no país, mas envolvido com um sistema gigantesco de narcóticos por debaixo dos panos. O comandante Erwin Smith descobriu a façanha através de uma ligação e o contratou para se infiltrar na família, averiguar, pegar provas incriminadoras e na primeira oportunidade apagá-lo.

Como se infiltrou? Como uma espécie de jardineiro e auxiliar de serviços gerais.

Mas o que não esperava era que os quatro filhos do alvo fossem ficar tão encantados por si a ponto de brincarem juntos, fazerem piqueniques no enorme jardim da mansão dos Tybur, pedirem para Levi contar histórias de ninar e o apelidarem de 'tio'.

Love Shot (ERERI - RIREN)Onde histórias criam vida. Descubra agora