8 de dezembro de 2019

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Querido Klaus,

  Eu nunca falei com ninguém sobre a noite que você foi embora. De maneira tão abrupta, você me deixou e eu não entendi nada.
  Na manhã daquele dia, eu acordei e já sentia algo no ar diferente. Mesmo tudo parecendo igual. Você me deu um beijo leve de bom dia e se arrumou para ir trabalhar. Não conversamos muito. Passei o dia angustiada no trabalho e tudo que eu queria era voltar para casa e me deitar nos seus braços para te contar sobre isso, eu esperava que você fosse rir e dizer que era apenas coisa da minha cabeça e que me amava. Mas quando cheguei em casa naquele dia a sensação se intensificou quando eu vi suas malas no nosso quarto. Você estava sentado na cama de cabeça baixa. Fiquei tonta.
  Perguntei o que tinha acontecido, se você iria viajar. Você me olhou com carinho e veio até mim, meu coração estava batendo muito rápido e eu senti ele doer como nunca. Sabia que havia algo errado.

"Sinto muito, Care. Você é a pessoa mais incrível do mundo, eu amo você com todo meu coração e eu nunca vou me perdoar por fazer isso."

  Tentei te questionar. Perguntei o que havia acontecido, o porquê daquilo agora depois de cinco anos. Tentei te fazer falar, mas você não queria mais conversar. Você beijou a minha testa e disse que me amava, que não era culpa minha, só que apesar de sermos compatíveis e felizes, aquilo não era o suficiente e que você precisava de mais. Você me pediu para não te procurar porque isso só ia nos machucar ainda mais e que nunca seria capaz de esquecer quem eu fui e o que eu representei para você, que eu sempre seria amada por você, mas que você precisava partir. Nunca vou conseguir encontrar nenhuma palavra que descreva com precisão a dor que eu senti quando vi você sair por aquela porta com suas coisas. O vazio no closet denunciava que você não pretendia voltar para buscar nada.
  E eu chorei. Chorei tanto que pensei que iria me afogar nas minhas próprias lágrimas, abracei o seu travesseiro e chorei como nunca. Chorei tanto que cheguei a vomitar, porque só as lágrimas não eram suficientes para colocar toda aquela dor para fora, eu queria expulsar toda aquela carga que estava no meu coração. Nunca pensei que eu iria sofrer tanto, você me fez acreditar que nós poderíamos ser para sempre.
  Eu quase morri quando algumas semanas depois chegou os papéis do divórcio. Você queria tornar aquilo oficial mesmo, queria realmente acabar com aquilo e certamente eu não iria dificultar nada para você. Afinal foi você quem me ensinou que o amor não é sobre posse, é sobre deixar voar quando chegar a hora. E eu deixei, deixei você voar para longe de mim, não seria eu a cortar suas asas. Passei meses sonhando com aquela noite, a noite da sua ida.
  Acho que estou com raiva de você agora, quando me lembro de tudo que vivemos, de todas as promessas que você fez, da forma que você me fez me sentir ao seu lado. Eu estou com raiva, sim. Você fez meu mundo quente e depois deixou-me numa nevasca terrível sem agasalho. Como pode fazer isso comigo? Como pode ir embora dessa maneira tão fria? Claro que isso era do seu feitio, você não conseguia mentir ou fingir nada, você sempre foi muito sincero comigo e eu sempre apreciei aquilo.
  Ainda sim, ainda brava com você, eu te amo, Nik. Não espero mais que você volte, não espero que me ligue ou que me procure, isso me alivia não ter que te esperar. Mas eu te amo.

  Com amor, Caroline.

todas as vezes que te escrevi • klarolineOnde histórias criam vida. Descubra agora