As Flores (NorRay)

VI

Eu não respondi nada, apenas fiquei olhando para meu pai surpreso enquanto ele cruzava os braços, me olhando de forma preocupada e séria.

Já vi ele preocupado desse jeito antes, mas nunca o vi tão sério. Ele parecia querer uma explicação na hora, e eu não acho ruim a atitude dele, afinal, se isso acontecesse com alguém que fosse da minha família, também iria querer uma explicação.

— E então, Ray? — Ele me perguntou, me fazendo sair de meus pensamentos e de outros intrusivos. — Irei chamar sua mãe.

— E-Espera! — Impedi meu pai de sair do quarto, logo ele olhou para mim e tirou a mão na maçaneta. — Não...Não tem nada com o que se preocupar.

— Como que eu não vou me preocupar?! Eu acordo para beber água, passo pelo seu quarto e ouço você tossindo, então entro e vejo sangue no chão com pétalas brancas! Como que eu não vou me preocupar com isso?!

Eu não respondi nada, apenas olhei para o chão. Primeiro Gilda descobre, depois Anna e agora meu pai! Norman não tinha descoberto antes por pouco!

Eu só queria que ninguém descobrisse.

Apenas isso!

— Ray. — Sai dos meus pensamentos com a voz do meu pai, que já estava na minha frente. — Eu vou limpar o chão, depois trarei uma água para você e nós vamos conversar, tá bom?

Levantei minha cabeça e concordei, logo o vi abrindo a porta e saindo do quarto. Eu sentei na cama e fiquei esperando meu pai voltar.

Minutos depois, meu pai já tinha voltado e limpado o chão, e agora, ele estava sentado do meu lado apenas esperando eu falar alguma coisa.

— É... É uma doença. — Falei enquanto olhava para minhas mãos, mas eu pude ter a sensação de meu pai me olhando surpreso e confuso. — É uma doença chamada de Hanahaki Disease.

— Sobre o que se trata?

— É quando a pessoa cospe flores ou pétalas brancas por causa do amor não correspondido. As flores começam a crescer e desabrochar nos órgãos internos, e depois, saem do seu corpo. Ela têm três estágios; no primeiro, a pessoa começa a tossir as pétalas das flores, mas, na maioria das vezes não causa nenhuma dor, fazendo com que a pessoa pense que não é nada; no segundo, as flores começam a dominar seus órgãos internos, criando uma dor mediana que causa um desconforto enorme, e nesse estágio, você não cospe só as pétalas, cospe flores inteiras com espinhos; e o terceiro, as flores tomam conta completamente do seu corpo, você começa a vomitar buquês de flores, fazendo com que a morte se aproxime mais.

Eu olhei para meu pai, e o vi surpreso, mas a preocupação que ele estava tendo naquela hora parecia maior.

— Deve ter uma cura, certo? — Balancei a cabeça positivamente, respondendo à pergunta que meu pai tinha feito. — Qual?

— Existem duas. A pessoa que você ama pode corresponder seu amor, e logo a pessoa fica curada da doença. Ou, uma cirurgia de remoção das flores do seu corpo—

— Então faremos a cirurgia!

— Mas, existem consequências. — Vi meu pai me olhar confuso. — A pessoa irá perder os sentimentos pela pessoa que amou. Pode ocorrer a perda de memória, fazendo ela se esquecer da pessoa que amou, se esquecer de tudo que viveu ou perder as emoções.

Meu pai ficou surpreso, eu parei de olhar para ele e comecei a olhar para as minhas mãos. Ele vai acordar a minha mãe agora para conversar sobre isso, certeza...

— Olha... Já está bem tarde. Por que não vai dormir? Amanhã eu converso com sua mãe sobre isso. — Ele passou a mão nos meus cabelos enquanto mostrava um sorriso gentil no rosto.