Capítulo 20, aquele com cheiro de morte

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     Álcool é a única coisa dentro da lei por aqui.

Injúria é meu único sentimento.

Juan está do meu lado, de costas para mim, roçando no meu ombro por falta de espaço e Rogério faz o mesmo movimento do outro lado.

Estamos em um bar na zona leste, muito difícil de chegar até de GPS, e com garotas de programa caras, vestindo roupas luxuosas, e sendo mimadas com álcool de alta qualidade e outras substâncias. O lugar é grande, está cheio e pelo que o barman me diz, enquanto da em cima de mim, toda quinta-feira é assim. Na sexta e nos finais de semana, as festas duram o dia inteiro, mas às quintas todos vão pela banda.

Esse é o lugar onde todas as histórias se chocaram.

— Você trabalha aqui há muito tempo? — Enquanto os dois homens atrás de mim fingem que não me conhecem, apoio-me sobre a bancada para me aproximar mais do garoto. O dono de um black power e sobrancelhas grossas me olha sem muita atenção, porque me prepara uma bebida verde.

— Alguns anos — comenta, colocando a bebida de limão no copo depois de sacudi-la com força. — Nunca te vi aqui, tá procurando um cliente? — Seu olhar passa levemente pelo homem de barba bem-feita, cabelo preto sem um fio solto, e um sorriso impressionante. — Posso te apresentar. Ele gosta das mais bonitas.

Procuro manter meu disfarce, sorrio e olho para o suposto cliente.

Pela lei, eu poderia apenas pedir o DNA do Matheus e ter minha prova concreta. Também pela lei, não conseguiria prender o filho da puta antes do resultado dar positivo com a saliva da carta. E, por fim, pela lógica e sabendo que ele é culpado, esse tempo entre pedir o DNA e o resultado do teste seria o suficiente para outro corpo abaixo do viaduto.

Não noto que estou encarando o engravatado por tempo demais até que a pessoa em questão me olhe de volta. Sinto que me ferrei um tanto. Seu semblante não me é estranho, mas com as luzes oscilando é complicado tentar lembrar. Pego a bebida preparada e dou um gole, disfarçando. Sorrindo para o barman, pergunto:

— Você conhece o Laerte? — Torna-se sério de um segundo para o outro e coça a garganta. — Ele está aqui? — Sem notar, o homem olha para algo atrás de mim e viro-me depressa.

O rapaz está sentado em sofás afastados, sozinho, com uma garrafa de líquido transparente na mão. A barba está tomando conta do seu rosto e ele recusa qualquer garota que tente se aproximar.

— Ele não é uma boa opção hoje. — Sua voz agora saí seca e direta, viro-me para frente, forçando o sorriso. — Tem alguma tara por sequestradores? — Fico séria, me ajeito no banco preto e duro. — A última que saía com ele não se deu bem — argumenta, depois me dá as costas e vai atender outra pessoa escorada no balcão de mais de dez metros de largura, onde quatro garotos trabalham.

Penso em olhar novamente para o homem ao qual ele se referiu antes e que talvez tenha algumas respostas por já conhecer as garotas daqui, mas dou um pulo quando o vejo do meu lado. Sinto minha pele fria, Juan esbarra com mais força no meu ombro direito e Rogério foi empurrado pelo dito cujo galanteador que está me encarando como um pedaço de carne. Pelo menos meu disfarce tem credibilidade.

— Boa noite, investigadora — fala, com a voz grave. Fecho os olhos, abaixo a cabeça e ergo as laterais dos lábios em um sorriso forçado. Disfarce péssimo. — A trabalho?

Ele gargalha, alto, exagerado, eu permaneço séria, o homem olha para o rapaz descuidado.

— Larga do meu filho — sussurra e praguejo mentalmente por não lembrar o rosto do renomado advogado de primeira.

Não Deixe a Puta MorrerOnde histórias criam vida. Descubra agora