Capítulo 12, aquele do poço

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     Sabe quando você se sente tão deslocado em uma situação social que fica encostado na parede como se alguém pudesse te atacar por trás a qualquer momento? Esse é o meu sentimento com esse caso. Muita informação ao mesmo tempo, verdades antes inquestionáveis se mostrando as maiores mentiras e a sensação angustiante de que ainda existem muitas dessas verdades deturpadas.

Quando Matheus me ligou, pouco depois que o interrogatório de Amanda acabou, eu tentei convencer ele e Laerte a virem até a delegacia, mas ambos se recusaram. Desde que a mídia se tornou ainda mais invasiva, todos relacionados a esse caso estão coagidos.

— Esqueceram de me contar que já se conheciam? — pergunto assim que adentro o estabelecimento abafado e que cheira a pão no forno. Os dois me encaram de uma só vez e eu me sento no lado oposto da mesa de madeira branca e brilhante.

Laerte, que já não via há dias, tem um olhar que parece mais vazio que da última vez. Matheus está olhando para Laerte, como se esse fosse o dono do motivo para terem tanta urgência em falar comigo.

— Amanda já falou onde elas estão? — pergunta Laerte.

Coloco as duas mãos abertas na mesa enquanto analiso bem o seu semblante opaco.

— Não vou compartilhar informação com você — esclareço. — Por que não fala logo o que sabe e começamos daí.

— Meu pai já ralou pra me salvar das suas mãos. Não tenho mais medo de você, investigadora — informa Laerte e não desvia o olhar. — Você ainda acha que foi eu mesmo tendo a Amanda.

— Eu acho que foi qualquer um. — Encaro Matheus, ele não transparece raiva ao ser atacado. — Não desconsidero suspeitos tão rápido.

— A gente quer ajudar a achar elas — Matheus fala, eu tensiono o olhar em direção sua direção.

As olheiras cresceram. Os dois homens sentados na minha frente poderiam estrelar um filme do Tim Burton. Matheus olha para Laerte e empurra seu braço.

— A Amanda falou do plano real da Cassandra? — Laerte me pergunta. — Que ela queria a Cecília e não a Cinthia? Achei que era mentira, mas sei que você acha que eu fui quem mentiu. Não menti — justifica-se, ergo as sobrancelhas descrente. — O que eu tenho que fazer pra você acreditar em mim?

— Se não é o culpado, não precisa fazer nada. Quando eu pegar a pessoa responsável você vai estar fora ou dentro da prisão? — A respiração dele cessa. — Você não tinha que achar nada, Laerte, esse é o meu trabalho. Vai ser chamado na delegacia de novo de qualquer forma, por que me quer aqui? — Laerte se recolhe no assento como uma criança. — Por que vocês dois me chamaram aqui? — Matheus me dá sua melhor cara de paisagem.

— Acha que foi mesmo a Amanda que fez isso, e não o Caçador de Olhos? — Matheus me questiona.

Está com a mesma camiseta preta muito desbotada com um o símbolo do nirvana da primeira vez que foi na delegacia e a calma tão grande quanto naquele dia.

— Fui eu quem disse para Cecília não ir na polícia quando viu aquela carta. — Eu me curvo para frente interessada. — Ela ficou com medo, mas eu achei que era só alguém blefando para assustar. Não sabia que era um plano real. — Olha para Laerte. — Ela ia nos meus shows. — Vira-se de volta para mim. — A Cassandra. Eu já tinha visto ela. Nunca falei com ela, mas conhecia de longe.

— Vocês dois mentiram — resumo passando o indicador direito de um para o outro.

— Isso me faz culpado de algum jeito? — pergunta Matheus, afoito. — Vou ser preso por isso?

Não Deixe a Puta MorrerOnde histórias criam vida. Descubra agora