Capítulo 22, aquele do pior (melhor) chefe

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     7h11 deixo o veículo estacionado frente à delegacia e caminho em direção à comitiva que já começou. A cara de sono é a mais horrível que alguém pode carregar e estou prestes a me apresentar assim, além dos cabelos que foram destruídos pelo vento e do cheiro em excesso de tabaco graças às últimas horas ao lado de homens fumando compulsivamente por nervosismo. A única coisa que me deixa menos paranoica é ter trocado de roupa na casa de Rogério.

Depois que Juan chegou no local do sequestro, a equipe de proteção à pessoa chegou rápido no lugar. O delegado Lima até disfarçou bem seu ego ferido quando me elogiou e Rogério entrou de novo no caso porque existiam seis pares de olhos com 20 anos para serem analisados.

— Amanhã vamos falar com a imprensa de qualquer forma — Lima me disse quando paramos apenas os dois no lado de fora do bar que foi esvaziado rapidamente com a presença da polícia. — O DNA vai dar positivo?

— Importa? O filho da puta tinha elas presas em cima do camarim — respondi, ríspida. Meus braços tremiam e fumaça deixava minha boca. — Juan descobriu que o Matheus foi adotado mais ou menos na mesma época que as outras crianças.

— Era filho de uma das vítimas?

— Não. Ele foi adotado antes das mortes. — Pressionei os lábios. — Ele está morto. O Caçador de olhos. No fim, ele está morto. Morreu de velhice, cercado de amor e conforto. Não pagou, nem por um dia, por todas as vidas que destruiu.

Lima cruzou os braços e assentiu.

— Não tem como salvar o dia todas as vezes, Laura, já te ensinei isso. — Fechei os olhos. — Fique feliz que salvou duas vidas. As únicas duas que realmente poderiam ser salvas. As 7 mulheres morreram muito antes de você pensar em ser investigadora. Você nunca teve a chance de salvar elas ou os filhos delas.

— Por que eu não me sinto bem? — perguntei. — Quando resolvo um caso, normalmente tem uma onda enorme de prazer. Por que não caralho eu tô me sentindo um pedaço de merda, Reinaldo? — Ele suspirou. — Não sinto que salvei a vida delas, parece que só tirei de um lugar ruim pra colocar em um outro ruim também.

— Resolver um caso às vezes é mais dolorido do que não resolver. Às vezes não ter certeza de uma coisa, como a morte do Caçador de Olhos, conforta porque traz esperança. Mas não é real. Nosso trabalho não se estende em resolver a vida das vítimas.

— Foi isso que disseram sobre as crianças que esqueceram?

— Eles fizeram exatamente o que deveriam fazer. Você não trabalha para resolver traumas ou burocracias de adoção. Fique no seu lugar, entendeu? — Neguei com a cabeça. — Então pelo menos finja que está nele. Juan me contou sobre a briga de vocês.

— Eu não...

— Você é mesmo contra o protocolo que seguiram à risca, 20 anos atrás, enviando as crianças para um orfanato ou é só porque seu marido era uma das crianças? Esse é o seu defeito, já te contei isso. Você está sempre pulando a cerca, Laura. Está sempre dando um jeito de fugir do protocolo porque leva para o pessoal.

— O Juan te disse isso?

— Ele precisava dizer? Você veio roubar DNA, de novo. No mesmo dia que eu te disse para não fazer isso. — Abaixei a cabeça, ele colocou a mão no meu ombro. — Não teríamos achado elas se você não fizesse isso. — Ergui a cabeça, meus ombros relaxaram e Lima retirou sua mão. — Você está suspensa.

Entro na delegacia.

Os barulhos dos meus sapatos me irritam ainda mais contra o piso da escada que subo correndo. Quando chego no espaço com dezenas de câmeras em seus suportes, jornalistas sentados encarando o homem, sozinho, sentado na mesa na qual eu e Juan deveríamos estar também, e flashes momentâneos já que o dia nublado atrapalha a luz ambiente, caminho pelo mini corredor deixado na extrema esquerda até me sentar ao lado de Reinaldo. Sua face é dura e de reprovação em minha direção, odeia atrasos e eu também, e minha aparência é terrível. Engulo em seco, o evitando.

Não Deixe a Puta MorrerOnde histórias criam vida. Descubra agora