Capítulo 10 - Apaixonados

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Depois do meu atrito com o pai de Carla deixei a sala onde eles ceavam e parei no rol de entrada, esperando que Carla viesse abrir o portão do quintal pra eu sair daquela mansão.

Do lugar onde eu estava ouvia sua família debatendo baixo sobre o dissabor que fora causado naquele café da tarde.

Ninguém estava alterando a voz, como eu também não alterei, ao me indispor com o pai de Carla e mostrar-lhe claramente, que não queria ser seu amigo.

Aguardando que Carla viesse abrir o portão pra que eu deixasse aquela casa, percebi que a discussão entre seus familiares prosseguia em tom de cochicho.

Eles prosseguiam à mesa, debatendo sobre as farpas ali lançadas. Carla, sua mãe , seu seu tio Anselmo e sua tia Maria, que era irmã do pai de Carla, recriminavam Álvaro por ter sido provocador e pouco hospitaleiro com o namorado de Carla, que no caso, era eu. Eles estavam lavando roupa suja, em baixo tom, e eu era o intruso naquela casa.

Caminhei até uma sacada com balaustres e contemplei a piscina e o belo jardim, lá embaixo, no quintal enorme da suntuosa mansão.

Do lado esquerdo da área da piscina projetava-se um pequeno lago artificial, com um chafariz que oxigenava a água. Uma pequena ponte de madeira elevava-se por sobre o lago, dando passagem pro outro lado do jardim.

Desci a sacada pela escada larga, bem projetada. Tudo, naquela mansão era requintado e de extremo bom gosto.

Aproximei-me do lago, debrucei sobre a proteção da ponte e fiquei contemplando as carpas, pra me acalmar e refletir, enquanto aguardava que Carla terminasse o debate com seus familiares pra sairmos dali, pois eu não queria mais ficar naquela casa.

A TIA MARIA

O debate familiar demorou mais do que eu esperava, e ao invés de Carla vir ao meu encontro, quem surgiu na sacada procurando por mim, foi sua tia Maria, a irmã de Álvaro. Ela acenou e desceu pela escadaria, vindo ao meu encontro na ponte do lago de carpas.

Encostou-se na mureta da ponte, ficando de frente pra mim, e disse:

- A lavação de roupa suja, lá dentro, tá se estendendo. - Ela disse com um sorriso travesso no rosto, mostrando-me que estava habituada àquele tipo de "barraco de família". Concluiu, dizendo-me: -  Minha cunhada Carmem pediu-me que eu viesse te fazer companhia, pois deixar o visitante sozinho, não é elegante...

- Todos vocês foram muito atenciosos comigo, - eu disse - exceto o pai de Carla. Pareceu-me que ele tem ciúmes da filha... Ele parece ser uma pessoa difícil...

Maria partiu um pedaço do pão que trazia às mãos e me entregou, pra alimentarmos as carpas juntos, enquanto conversávamos.

- Meu irmão Álvaro tem um coração enorme. - Ela disse em tom conciliador - Mas ele é como você: não poupa palavras quando há algo que o desagrada! Freud diz que as mulheres buscam em seus pretendentes um homem com a personalidade de seu pai... - Sorriu e concluiu: -  Bem vindo à família!

Refleti um pouco mais. O que eu estava fazendo ali? Maria tinha a mesma idade que eu. Dona de um semblante terno com olhos inteligentes, que sondavam cada detalhe. Tinha um sorriso amável, expondo uma dentição maravilhosa, muito bem cuidada.

Pra me proteger, eu havia dito que estava com um divórcio em andamento, mas era mentira.

Eu estava muito satisfeito com a minha Vida Conjugal e não tinha a menor intenção de assumir um relacionamento monogâmico com Carla para entrar para aquela família.

Minha estratégia inicial de passar-me apenas como um amigo que Carla conhecera em Peruíbe, falhou, e eu estava alimentando outras mentiras, que poderia gerar desapontamentos gerais em pessoas muito bondosas, como: como Carmem - a mãe de Carla - e seus tios: Maria e Anselmo que estavam sendo muito amáveis comigo!

Maria notou meu desconforto e falou:

- Vai se acostumando, essa família é assim! Entre tapas e beijos, sempre acabamos nos entendendo...

- Como as demais famílias, não? - Eu amenizei

- Tudo igual. - Ela concordou sorrindo. - Só muda de endereço...

- Eu compreendo,  - Falei após jogar um pedacinho de pão que foi abocanhado por uma enorme carpa vermelha. - mas... sei que teu irmão Álvaro não me quer aqui... e ele é o dono da casa... e eu... bem, eu só quero que abram o portão, pra eu sair...

Maria me olhou com desapontamento:

- Não faça isso! Vai desistir na primeira batalha? Hoje é aniversário de Carmem. Teremos uma festa, logo mais...

Atirei  outro pedaço de pão, que foi disputado por 3 carpas coloridas, e lhe respondi:

A MOÇA DA MOTO - Romance Espiritual de Paulinho Santos da FratuniOnde histórias criam vida. Descubra agora