29.2. Tomorrow

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#EfeitoJagi

Chaerin

Desenrosquei a argola do pequeno chaveiro surrado para fora do buraco da chave do meu armário assim que o abri, jogando-o dentro do saco de lixo aberto aos meus pés para não correr o risco de me esquecer e acabar perdendo uma das lembranças que meu pai havia comprado em uma de suas viagens a Tokyo quando eu ainda era uma menina.

Lancei um olhar por cima do ombro quando o som do metal se chocando contra o chão através do plástico do saco ecoou por toda a sala do guarda-volumes dos staffs, quase esperando que alguém surgisse detrás dos armários de repente, mas já era muito mais tarde que o final do expediente até mesmo dos PD-nims e managers que estavam sempre fazendo horas extras para haver qualquer alma viva ali além de mim.

Eu tinha tomado o cuidado de só me destinar até a agência para buscar meus pertences em um horário que sabia que diminuía os riscos de esbarrar com alguém. Mesmo em meio ao silêncio solitário que me envolvia enquanto encarava minhas coisas perfeitamente empilhadas e organizadas dentro do meu armário, eu ainda podia sentir em meus ouvidos o peso das risadinhas descaradas e dos cochichos nem um pouco discretos que me acompanharam pelos corredores principais quando estive nos escritórios mais cedo para uma reunião com alguns dos PD-nims para ouvir ladainhas sobre meu comportamento abominável e minhas ações deploráveis e assinar minha carta de demissão.

Cerrei os dentes apertados uns contra os outros e comecei a arrancar meus casacos e blusas de reserva dos cabides com gestos bruscos que só tornaram a sensação frustrada de derrota pinicando meu corpo ainda mais desconcertante, ao ponto de me fazer ouvir as palavras da minha mãe em meus ouvidos misturada aos sons das risadinhas e cochichos.

Você não foi criada para ser uma decepção, Kim Chaerin. Espero o melhor, e apenas o melhor vindo de você. Minha filha não deve se diminuir a nada que não seja o primeiro lugar. Você deve honrar os esforços que eu e sei pai fizemos para te colocar nesse mundo de forma digna. Não me importa que não seja capaz de qualquer coisa, se torne capaz. Não desejo nada além de excelência e perfeição. Não quero me envergonhar da minha própria filha, então torne as coisas agradáveis para nós duas, huh? Sem chances para fracassos.

Peguei mais uma das minhas nécessaires de maquiagem, atirando-a dentro do saco com um grunhido que mais soou como um rosnado acima do som subitamente ofegante da minha respiração, me obrigando a parar por um instante para me recompor do meu estado de nervos abalados.

Foi só quando apoiei uma das mãos no armário, baixando o olhar para o saco aos meus pés, que percebi que ele na verdade esteve fechado aquele tempo todo, e todas as minhas coisas estavam atiradas de qualquer jeito pelo chão. E foi só ao olhar para baixo, sentindo a derrota envolver cada um dos meus ossos como um ímã que me puxava em direção ao chão, que notei a sombra que a presença de alguém ao meu lado estava fazendo sobre as minhas coisas.

Fechei os olhos por um instante, xingando a mim mesma com um sibilo por ter me deixado levar tão facilmente por todas aquelas sensações frustradas e desconcertantes ao ponto de sequer perceber que havia alguém por perto para presenciar o início de um escândalo. Eu imaginava que aquela alma desafortunada e inconveniente só poderia ser Kang Daeshim e seu bafo de onça ambulante, me rondando mais uma vez em uma tentativa de me encher com suas lamúrias e seu olhar de peixe morto que de nada adiantaram antes, e de absolutamente nada adiantariam àquela altura.

Só de pensar na incompetência de Daeshim meus olhos se abriram queimando com irritação, e eu ergui o rosto preparada para lhe dar o enésimo pé na bunda de sua vida, congelando com as palavras mordazes no meio da minha língua ao encontrar Lee Jeongdae apoiado no armário ao lado, com os braços cruzados ao redor de uma caixa de papelão, me encarando com um olhar inescrutável. Imediatamente senti meus ombros se tensionarem e se erguerem em alerta e uma total falta de postura, à espera de um de seus comentários irônicos e afiados, mas eu não podia estar mais despreparada para o que saiu de sua boca:

Spring Day // Butterfly: segunda temporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora