PIROTECNIA

3 0 0
                                    

Que motivos teriam levado alguns correligionários do Sr. Alcântara Barreto a fazerem aquele maldito foguetório? O Sr. Alcântara Barreto carrega consigo a estranhíssima alcunha de Calvinho, já que verdadeiramente ele não o é, possuindo vasta cabeleira e bigode, este, o bigode, parece cultivado com muito zelo, tentando manter acesa a chama do poderio dos bigodões dos coronéis, Para não perder o fio da meada, teremos que voltar o nosso foco ao que de fato importa: O que pode ter provocado, no final da tarde do dia 24 de novembro, a alegria de tantos foguetes e estouros num descampado da cidade? Sabemos que a população está acostumada a prodígios cotidianos em sua terra natal e nas terras vizinhas, tão milagreiras e prodigiosas quanto a nossa querida Boa Ventura, que não há de dever nada as outras, só ficando mesmo em desvantagem em relação a Morro Azul que possui tudo o quanto uma cidade próspera pode ter e nas outras carece. Não é porque as cidades são dadas a fatos extraordinários, que tenham de possuir tudo. Isso é certo. Certo também é, retomando o acontecimento no descampado, que os que estavam lá fazendo foguetório maior que o do dia da padroeira, não eram os mesmos que estavam, no dia seguinte, pela manhã, no alto de um sobrado, vizinho de outro sobrado que todos conhecem por Prefeitura, nome este que não é alcunha, apelido ou o que quer que seja dessa relíquia histórica depredada. Ora, se as efusivas pessoas que sacudiram o descampado, não eram as mesmas que faziam pipocar no céu Venturense outros foguetes, porém em menor quantidade, na manhã seguinte, também, com certeza, não seriam as mesmas que por volta de meia-noite e meia, do dia 27 de novembro, tentavam clarear a noite escura deste povoado, repetindo assim fenômeno parecido ocorrido em Morro Azul, que teve dias e noites fantásticas com o firmamento adquirindo várias cores e vertendo chuva de ouro em pó. Peculiaridades da nossa região, que depois ter se tratado de uma aurora boreal.

Temos então três fenômenos em três dias diferentes e em três horários igualmente distintos, feitos por pessoas nada parecidas, que não são três para a conta não ficar cabalística de toda, mas são três as razões, tão opostas e singulares como também são o modo de falar das gentes de Lírio da Serra, com aquele sotaque bizarro herdado dos colonizadores ingleses, que não sei por que cargas d'água vieram parar pelas bandas de cá, e também de São Tomás, que por desconhecidas vontades, tem um sotaque de parentesco com o povo do Nordeste, fato este realmente de se estranhar, uma vez que todas as cidades aqui citadas, ficam por determinação do espaço geográfico localizadas no interior do Rio de Janeiro.

O ribombar dos fogos pode ser esclarecido se nossos olhares e ouvidos estivessem presentes nas situações aqui referidas, mas como não possuímos esta precisão assim também como nossos amigos jornalistas da região não a possuem, não querem ou não precisam de precisão alguma, só do pão nosso de cada dia que não lhes faltem para alimentar as panças gordas. Já que por aqui ninguém tem o dom de estar no lugar certo e na hora exata, podemos confabular junto com o pensamento do povo, respeitando a máxima de que a voz do povo é a voz de Deus, ainda que só no pensar.

Pois é que o retumbar dos rojões que mostra o progresso desta cidade no que diz respeito a pirotecnia, tem o seu início com o Sr. Alcântara Barreto, o Calvinho, que já faz parte como personagem principal deste pequeno e audacioso texto, embora não seja o único protagonista, como veremos dentre em pouco, foi o citado primeiro. Todo mundo que tem rádio ou frequenta as hilárias sessões da Câmara Municipal sabe que o Sr. Calvinho não foi dado aos bancos escolares, embora é preciso que se diga que saber dominar e fazer bom uso de nossa Língua Portuguesa é um processo deveras árduo. O amigo leitor que confirme neste texto se por uma ou mais vezes não deslizei nas artimanhas da palavra. Há também que se considerar que o melhor banco escolar é o mundo. Portanto, não confundamos analfabetismo com parvoíce, pois que ser analfabeto são as circunstâncias da vida que condenam um homem a tamanho fado e ser parvo é da natureza da pessoa ao ser parida. Podemos concluir infelizmente que o nosso protagonista é analfabeto e parvo ao mesmo tempo. Triste sina. Já os seus assessores, creio que só possuam a segunda qualidade, acrescida logicamente de uma pitada de extrema incompetência, porque não souberam frear as sandices do inculto líder, que na ânsia de destronar o Prefeito, nosso segundo personagem principal, meteu os pés pelas mãos. O Sr. Alcântara Barreto e os seus correligionários soltaram fogos demais para uma conquista que durou somente uma noite, como dissemos destronou o Prefeito para que o seu Vice assumisse, que na verdade não será personagem importante dentro deste texto, visto que por dois anos ele se esquivou de seus compromissos com o povo e quando quis se redimir, não ficou mais de sete horas como redimido por causa da asnice de alguns como comentamos. Este foi o motivo do primeiro prodígio, aquele que me instigou a escrever estas linhas.

Bom, já se pode prever que, se a alegria de tantos fogos durou tão pouco, o nosso outro protagonista o Prefeito, que por extremíssima coincidência se parece com os demais prefeitos de nossas cordiais cidades circunvizinhas, levou a melhor. E foi isso mesmo. Olha que o segundo prodígio acontecido na manhã do dia 25 só pode ter sido feito pelos correligionários do Excelentíssimo Prefeito, que a contar pelos rojões não são tantos. É bom saber que tal manifestação extraordinária aconteceu liderada pela Senhora Lourdes e seus familiares, já que possuem emprego e status generosamente concedidos pelo Prefeito de nossa cidade quase cenográfica. E como hoje em dia emprego e status são difíceis de conseguir de forma absolutamente generosa, eles passaram a noite inteira ao lado de Chupa-Cabra, um cachaceiro sem eira nem beira, coisa impensável até pouco tempo atrás por causa do desnivelamento social, pensando na possibilidade de realizarem a façanha dos rojões comemorando a inteligência do Prefeito protetor. Sabemos bem que aqui falhamos com a verdade e nos deixamos sucumbir aos devaneios, pois não é segredo para ninguém que a Primeira Dama é quem deve ter sido a preparadora de todo ardil para acabar com a alegria do parvo e do covarde. O seu Excelentíssimo marido apenas teve parte na conclusão dos acontecimentos, que por ocasião, vivia com a poderosa justiça harmoniosamente demais de acordo com a boca miúda. A harmonia de poderes comprometendo os rigores da lei fez o Prefeito subiu triunfante as escadas da Prefeitura pela segunda vez e depois comemorou com o amigo juiz, profundo apreciador como ele, dos prazeres etílicos. Então este é o motivo do segundo prodígio, que acabou com o primeiro, aquele que me incitou a escrever sobre coisas tão fabulosas.

Aí está que podemos agora desvendar o terceiro prodígio realizado no dia 27 deste mês espantoso. Antecipando as conclusões vindouras, ponho-me a dizer que o terceiro evento não tem nenhuma correlação com os outros dois. Ele apenas está aqui, porque o povo espera a cada dia novos rojões da mesma rinha política. Como fomos assaltados por novo estrondo às altas horas, é necessário explicar que o mesmo vinha do clã dos Figueira de Souza que festejavam o aniversário de Dona Emerenciana, senhora muito distinta desta cidade merecedora de todas as festas feitas por ocasião de sua longevidade. Temos até o dever de pedir desculpas a Dona Emerenciana e familiares por associar os fogos de sua justa festa aos outros acontecimentos tão impróprios. Aqui só nos resta desejar tudo de bom a quem merece e lembrar aos outros que tem salários atrasados demais dos funcionários para gastarem dinheiro com rojões.

Acerto de ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora