Penso em escrever uma música, então coloco meu celular pra gravar e imagino alguns acordes e versos improvisados.
As cordas invadem meus dedos calejados, me fazendo imaginar a ponta do osso gastando-se no cobre. As unhas roçam na outra extremidade do corpo do violão. Olho em volta, pra mim e para o espelho. Nunca sei por onde começar.
Tropeço nas ideias, nos intervalos e em como quero que soe. Como deveria soar? Talves algo semelhante a mim. Como eu soo?
Encaixo alguns acordes menores e com sétima aumentada, outros maiores e com quinta diminuta. Todos dissoam. São tristes demais. Mas a música que imagino não combina com sétimas maiores ou nonas. Esses são exageradamente alegres.
Lembro de um músico dizendo que as sextas são vazias, não expressão algo além do nada. Quase como se estivessem ali simplesmente pra ocupar espaço entre dois acordes. E talvez seja isso que precise, algo incerto.
Apesar de ter Sols seguido de Mis, o canto ainda é medroso. Teme o que expressa. E então a garganta exprime palavras confusas e repetitivas. Ou simplesmente não exprimem, e é isto se torna um instrumental mal feito.
Quando algo consegue sair pelos lábios, é somente uma confissão sem rimas que escancara a mim e esse sentimento pontiagudo.
Eu não sei o que acontece comigo
Mas eu sei que falta algo aquiNão tenho nem coragem de dizer em voz alta
O que é, o que foi, quem eu sou.Me decepciona notar que foi em vão tentar me harmonizar numa melodia simétrica e organizadas. Algo diferente de quem a escreve.
Se eu fosse canção, seria um grito abafado acompanhado de uma orquestra enfurecida, mas submersa em água. E não tenho forças pra gritar ou músicos mergulhadores. Tenho tão somente uma voz rouca e um violão velho. Um pouco de cansaço e falta de criatividade.
Quatro tempos batem
Um... Dois... Três... Quatro
e assim recomeçam.
Jogo os olhos sobre as palmas. O metrônomo soa incessantemente à 90 batidas por minuto. E meu choro ritmiza ao toque que soa no início de um segundo e na metade do outro.
E tudo reinicia.
Novamente, nada é escrito.
11/10/21
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Escritos Dissociados
ŞiirPoesias, textos e crônicas que eu escrevi ao passar dos anos, pode não ter pé nem cabeça, pode ter erros de escrita, redundâncias e até estar incompleto, mas são textos que eu gosto, por isso aqui estão. Nas crônicas eu não dou nome aos personagem...