Capítulo 9

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Mariah

O garoto do café é o irmão famoso da minha amiga.

Manu havia comentado comigo que seu irmão também cantava e estava fazendo sucesso no ramo da música. Ela também me contou que não sabia que esse era o sonho dele, até ver seus covers em seu canal no YouTube. E foi através desses vídeos que ele se tornou cada vez mais conhecido e agora estava sendo produzido por uma das maiores produtoras de New York. E eu pude ver no olhar de Manuella o quanto ela se orgulhava de seu irmão.

Mas quando descobri que o irmão de Manuella era o idiota que derrobou café em mim naquela manhã complicada de sexta feira, fez toda minha curiosidade de o conhecer sumir.

Não posso negar que ele é lindo e que assim que cheguei em minha casa, após Jordan me dar uma carona, eu fui correndo para o meu notebook pesquisar por seu nome e ouvi-lo cantando.

E uau, como sua voz é linda.

Ao mesmo tempo que ela é doce, consegue ser grave. A melodia combina totalmente com a sua voz e sua técnica vocal é de arrepiar. Ele é um cantor pronto. E eu me tornei uma fã o ouvindo. Mas isso fica entre a gente, viu?

Talvez o sentimento que paira sobre mim seja errado, talvez não, é totalmente errado. Mas como eu queria estar em seu lugar. Não pelo dinheiro ou pela fama, mas por ter alguém que compartilha do mesmo sangue, o apoiando sem esforços. E pelo que soube através de Manuella, ela não é a única a lhe dar apoio, os seus pais também o incentivam e acreditam em seu sonho.

Eu queria que meu pai acreditasse em mim, eu realmente queria que ele sentisse orgulho da filha que tem. Mas a única certeza que eu tenho sobre ele, é que sou o motivo de suas maiores decepções. Não é paranoia minha dessa vez, porque eu tive a infeliz oportunidade de ouvir isso de sua própria boca.

"Você é a maior decepção da minha vida. Mariah, você é idêntica a sua mãe e acabará exatamente como ela: Sozinha, infeliz e frustrada". Essas palavras estão marcadas em mim e dia após dia são ecoadas dentro do meu peito.

O meu próprio pai me tem como sua maior decepção.

E mesmo que isso me leve a lugares mais altos do que tenho a capacidade de imaginar. Por mais que todos os insultos, que todas as risadas dos meus sonhos e que toda falta de fé em mim se torne combustível para me fazer voar, a dor disso não pode ser anulada. Porquê dói muito saber que meus avós, meus amigos e principalmente meu pai não acredita que sou capaz de realizar meu maior sonho.

Olho novamente para o notebook e vejo que a música de Benjamin toca em looping na minha tela. As lágrimas descem frenéticas por meu rosto e eu até poderia as exurgar e esquecer de meus pensamentos, mas dessa vez eu me permito sentir essa dor.

Essa dor que por tanto tempo fingi não existir. Essa dor que durante todo tempo morando debaixo do mesmo teto que meu pai, eu chutava para o lado e mostrava para ele o quão forte eu era. Meu pai não poderia ver minhas fraquezas, em hipótese alguma ele poderia achar que suas palavras me machucam. Mesmo que me machucassem mais do que tudo, um tiro doeria menos, bem menos.

Hoje, pela primeira vez em tempos, eu me deixo sentir dor, a dor da rejeição. Porque ao rejeitarem ao meu sonho, estavam rejeitando a mim também. Rejeitando não somete quem eu sou, mas também a mulher que eu sempre almeijei me tornar.

A experiência da dor de ser rejeitada eu não desejo a ninguém, nem mesmo aqueles que fizeram tal ato de crueldade comigo. Porque a rejeição é isso, ela é cruel, má, dolorida e inesquecível.

Deito em minha cama, ainda ouvindo Benjamin Priozi tocar ao fundo, e eu choro. Abraçada a mim, porque no fim de tudo, eu só tenho a mim mesma. Eu, a minha dor e a minha força.

A minha força, e logo depois a música, é a parte mais bela de mim. Porque a minha força me fará levantar amanhã novamente, me fará sorrir para o mundo e correr atrás dos meus objetivos. É a minha força que me faz reagir nos dias ruins, é a minha força que me faz resistir, é a minha força que me faz lutar mais uma vez com esperança que um dia dará certo.

E alguns diriam que a força é um sentimento ou até mesmo um super poder, eu digo que minha força é Alguém. Uma pessoa que eu não pude encontrar do lado de fora, não pude encontrar em outro alguém ou em algo, porque sempre esteve dentro de mim.

E é essa, a minha força que vem de dentro, a força que me escolheu como habitação, fez de mim sua casa, que me mostra todos os dias que a vida não é ruim porque hoje está sendo um dia ruim. É essa força que me mostra que mesmo que hoje esteja doendo, não irá doer eternamente. É essa força que me faz acreditar que chorar não me faz uma pessoa fraca e nem pedir ajuda me faz uma pessoa covarde.
É essa força que me incentiva todos os dias a ser alguém melhor. É essa força que me dá coragem e ânimo para seguir em frente. É essa força que me mostra que não importa a tempestade que está acontecendo do lado de fora, aqui dentro, dentro de mim, há uma luz que não cessa e nunca irá parar de brilhar.

Ainda deitada, com Benjamin Priozi tocando ao fundo, eu me encontro encolhida e abraçada a mim. Mas dessa vez as lágrimas não descem mais, em meu rosto só restam resquícios de águas que desceram por aqui e em meus lábios há um sorriso. Um sorriso que brotou do nada, mas que veio de dentro, veio da luz incessante que fez do meu coração a sua morada.

Me levanto, coloco uma música mais agitada, aumento o som e danço pelo meu quarto. Porque essa sou, Mariah Mancini, a moça que ninguém acreditou, mas que tem esperança de que dias melhores virão.

Benjamin Priozi ainda toca ao fundo, mas dessa vez não é no meu notebook, mas é na minha memória. E eu sorrio com isso, não sei o que me aguarda, mas eu estou sorrindo. Porque sorrir é uma promessa, assim como a paz. E é exatamente assim que eu me encontro em New York, com Benjamin nos pensamentos e sonhos lindos a conquistar, mas acima de tudo em paz, com um sorriso e com a certeza de quem a minha força vem de dentro!

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