Capítulo 14

952 60 5
                                    

Narração Por Elena Katherine Statham

Londres, Inglaterra

Março 01, terça-feira

Flashback On

Sempre me senti sozinha em casa, mesmo a nossa casa sendo ocupada pelos meus pais e os empregados. Nunca fiquei cem por cento sozinha, tinha meus livros, as historias sem pé e sem cabeça, que eu acreditava em finais felizes. Saio dos meus pensamentos quando escuto passos e a porta do meu quarto ser aberta. Levanto o rosto para ver quem se atreveu a acabar minha paz, mas fico aliviada em ser apenas a minha mãe.

— Você e esses seus livros — Ela quebra o silêncio e se senta na beirada da cama, marco o livro e fecho para lhe dar total atenção

— Sim, as vezes eles são minha única companhia — Digo e vejo concordar com tristeza, tudo que ela queria era me dar uma educação como qualquer pessoa já teve ou a maioria

— Seu pai quer colocar mais professores — Responde rápido demais, franzo as sobrancelhas confusa, coloco o livro completamente de lado

— Por que isso? — Pergunto, sei que estamos bem ruins financeiramente, não podemos nos dar o luxo de contratar mais professores

— Você já tem idade para conhecer outros assuntos, mais importantes — Responde fingindo que esse assunto não tem muita importância

— Para que isso? — Pergunto preocupada, nos nunca conversamos assim, na verdade a gente nunca conversa

— Um dia você vai ter que se casar, não pode... — Lhe interrompo

— Casar? — Minha voz sai um pouco alterada, levanto da cama em um pulo negando rapidamente

— Filha, um dia você vai ter que se casar e ter filhos — Responde como se tudo isso fosse um conto de fadas, casar e ter filhos

— Eu não sei se quero ter uma vida igual a da senhora — Respondo e percebo que minhas palavras saíram estranhas, as machucam

— Você não precisa ter uma vida igual a minha, só precisa... — A interrompi novamente, isso tá uma enrolação dos diabos

— Você ama o papai? — Pergunto cheia de dúvidas, ela pode até ama-lo, mas e ao contrário?

— Sim, eu amo e você vai amar o seu futuro marido. Porque somos muito parecidas, a gente gosta e ama o que é ruim — Responde se levantando da cama e não me deixa nem mesmo discordar desse absurdo

Lucy se retira do quarto, e eu volto a sentar na cama incrédula e imagino como é amar alguém ruim. Só consigo entender toda essa conversa na semana seguinte, quando meu pai diz alto e claro que irei me casar, o mais rápido possível para pagar suas dividas.

Flashback Off

Viu mãe, você estava errada, não tem como amar um monstro — Digo com a voz falhando, ainda estou fraca

Eu não mereço isso, essa vida e esse homem. Porque meu Deus? Nem sei se acredito no senhor, mas porque tudo isso. Será que tenho que passar por tudo ruim até chegar no paraíso, e se eu chegar até lá.

Ainda deitada na cama deixo as lágrimas molharem o travesseiro, parece que elas já estão quase acabando de vez. Levanto da cama e meus passos são rápidos até o banheiro, cai de joelhos sem forças para continuar. Mas esse era meu propósito, porquê eu coloquei todo o resto de comida fora no toalete. Acabo chorando mais uma vez, minha garganta arde por causa do vômito.

— Que nojo — Escuto passos atrás de mim, acho que se o Jason me empurra pode ter certeza que me quebro aqui mesmo

Mas suas mãos me levanta do chão, não consigo mexer um músculo se quer, fecho meus olhos quando sinto a água do chuveiro cair sobre meu rosto. Recobro a consciência quando me engasgo com um pouco de água. Retiro suas mãos de mim e acabo caindo sentada no chão.

— Tira essa roupa — Ordena, e nego me afastando do seu contato

— NÃO — Grito ainda sem forças, encolho o meu corpo no canto do banheiro

— Eu não quero te foder, você acha que ainda quero tocar em você depois de tudo que fez comigo? — Pergunta se aproximando de mim, escondo o rosto entre as mãos

— Você é um desgraçado — Digo cuspindo em sua cara, não vejo surpresa em seu rosto maldito

— Sou, sou mesmo — Diz rindo da minha cara, se levanta e limpa sua cara no chuveiro

— Você deveria ter se casado com a mulher de Israel — Digo me levantando do chão e seus olhos caíram novamente em mim

— Eu já casei com a mulher que nunca amei, que me deu apenas aquelas criaturinhas burras. Era você que sempre quis, você sua diaba, mas não podia me casar com uma criança — Responde se aproximando de mim e quase toca o meu rosto, mas se controla

— Você é louco — Digo e sinto que se controla o máximo para não me tocar, mas consigo sentir sua respiração em mim

— Não se lembra que a gente brincava, sempre te deixei ganhar, meu... — Lhe interrompo negando

— Cala a boca — Digo desesperada para tirar isso da minha cabeça, tenho que bloquear todas as lembranças passadas

— Eu gostava de você, você era meu amigo — Digo caindo no chão novamente desesperada, era só uma criança

Juro, eu juro que tento colocar o meu passado longe dos meus pensamentos. Mas não consigo, dói demais lembrar das coisas ruins e das boas ainda mais.

— Você já estava se tornando moça, contava tudo para mim, coisas que você nunca contou para o seus pais — Diz se ajoelhando novamente perto de mim

— Eu nunca tive ninguém — Digo sentindo a ponta dos seus dedos tocar meu rosto, como já me tocou antes

— Você me teve, por que você mudou? — Pergunta com a voz amargurada, como se eu fosse a culpada

— Você matou sua esposa, eu sei que foi você, eu vi — Digo com os dentes cerrados de raiva

Tudo que a gente fez, tudo o que aconteceu, tudo o que eu senti. Foi tudo coisa da minha cabeça, sonhava que tudo o que lia nos livros iria acontecer comigo e eu só estava sonhado mesmo. Meus pais nunca souberam e acho que morreram sem saber, nunca me aproximava do amigo deles enquanto estavam presentes. Eu fingia não gostar, fingi tanto até que o odiei.

a gente gosta e ama o que é ruim













———————————————-
Voltei, não sei quando voltarei agora, mas vou tentar, eu disse que vou tentar fazer novos capítulos nesse fim de semana.

O Lobo SolitárioOnde histórias criam vida. Descubra agora