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Despejei o uísque barato no copo com gelo. O feixe alaranjado da luz do pôr do sol iluminava a sala e deixava o ambiente mais aconchegante... Mas não escondia a bagunça. Dei uma breve risada e bebi o conteúdo rapidamente. Logo meu horário de trabalho começaria.

Segurança de boate. Ri mais uma vez. Eu nunca pensei que terminaria assim. Aliás, nunca conheci ninguém que quisesse trabalhar com isso.

Aquele não era exatamente um sonho de infância. Na verdade, as crianças mais sortudas sequer sabiam o que era uma boate até terem idade o suficiente para frequentar alguma... Eu não fui uma dessas.

Minha mãe sempre tentou me dar o melhor, mesmo que tivéssemos pouco, mas partiu quando eu ainda tinha sete anos. Meu pai, aquele cretino, frequentava boates e raramente estava em casa. Ele não esteve lá para ela ou para nós.

Brigávamos diariamente, até o dia em que ele foi preso por estuprar uma mulher. Eu gostaria de dizer que me importava com isso, mas na verdade nunca fui visitá-lo na cadeia. Era um alívio tê-lo longe e poder manter aquele homem longe da minha irmã.

Jackie era o apelido de Jacqueline, a filha que ele teve com uma das prostitutas na boate que frequentava. A mãe não se importava com ela, mas aquela adolescente era uma das coisas mais importantes para mim no mundo.

Jackie tinha 14 anos e muita energia. Treze anos mais nova do que eu, não costumava entender grande parte das minhas preocupações. Era por ela que eu aceitava trabalhar na boate e ver diariamente homens que lembravam meu pai.

Eu era seu responsável legal, já que sua mãe sempre estava drogada demais para dar qualquer atenção, talvez sequer lembrasse que tinha uma filha. Jackie morava comigo e era a culpada pela bagunça na sala daquele apartamento pequeno.

Vesti a camisa preta com gola alta que era um uniforme e fui trabalhar no começo daquela noite. Respirei fundo antes de descer da moto, que eu estacionava todos os dias a algumas ruas de distância, e caminhei sem qualquer pressa para um dos locais mais nojentos da cidade.

"É temporário" eu repetia mentalmente, "um dia serei um policial". Era para isso que eu estava me preparando.

Parei em frente à porta e comecei meu serviço. Em cada um daqueles homens eu via o rosto do meu pai. Era torturante.

Aquela noite foi diferente. Eu não percebi quando ela chegou e isso era raro, porque sempre estava em alerta. Seu rosto desesperado chamou minha atenção, porque tentava esconder seu medo. Exatamente como minha mãe.

Ela poderia ter tentado dar em cima de mim para conseguir entrar ou poderia ter tentado me subornar, mas foi sincera, por mais ridícula que sua frase parecesse:

— Eu não tenho tempo para aguardar sabe-se lá quanto tempo em uma fila! Meu namorado está aí dentro! — Foi sua resposta quando falei que ela precisava respeitar a fila.

Ela era baixa, mas parecia realmente irritada. Imagino quantas vezes minha mãe esteve naquela situação, por isso sempre permiti que aquelas mulheres entrassem. Respirei fundo, porque sabia que aquele seria um momento difícil, então peguei o rádio que usava para me comunicar com o resto da equipe.

Aquela era Mayla. E aquela foi uma das piores noites que ela teve naquele ano. Por mais que aquilo acontecesse com certa frequência na boate, quando vi seus olhos marejados e seu esforço para conter o choro, fiquei irritado como em poucas vezes.

Mayla não disse nada, não brigou. Ela não parecia estar realmente surpresa, isso era o mais intrigante naquela situação.

Eu teria ido atrás dela naquele momento, mas fiquei mais ocupado impedindo que aquele homem a seguisse. Ela não precisava de um babaca vendo o choro que tanto tentava esconder.

O Segurança da BoateOnde histórias criam vida. Descubra agora