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Naquela altura eu já estava sentindo que era um assediador nojento, mas em parte não queria deixar de falar com Mayla ou abrir mão daquilo. Era a tarefa mais complicada de toda a minha vida.

Mas se eu prometi que não iria mais vê-la, por que estava sentado em um restaurante de comida japonesa com ela, rindo de como era desajeitada para mexer com os hashis?

Eu já não entendia minhas próprias intenções e não sabia o que queria com tudo aquilo.

— Como você consegue? — ela perguntou enquanto observava. — Você tem jeito com as mãos.

Respirei fundo. "Mayla, você não facilita nada".

Naquele dia, ela me convidou para almoçarmos juntos. Jackie ainda não tinha voltado de viagem e já mandava muitas mensagens enciumada por estarmos saindo sem sua presença.

— Você está fazendo tudo errado — ri ao ver, então estendi minha mão por cima da mesa para ajudá-la a posicionar seus dedos corretamente.

Mayla observou nossas mãos, então olhou em volta como eu sempre fazia quando seu comportamento me deixava nervoso. Parei de me mexer e a encarei por alguns segundos, começando a questionar se ela tinha os mesmos pensamentos.

— Pronto.

Em três segundos ela conseguiu a proeza de derrubar os hashis no chão.

Comecei a rir. Nem mesmo Jackie era tão desajeitada.

— Tudo bem, você não vai conseguir hoje — falei, então peguei uma porção de sushi e imitei o som de um avião. — Abra a boca.

— Isso é ridículo. — Ela olhou através da janela com as bochechas coradas e eu sorri.

— Você não vai conseguir comer sozinha.

Mayla encarou o sushi em frente à sua boca pelo canto dos olhos, então inclinou seu rosto e comeu.

— Na próxima vez vamos a algum restaurante com talheres mais fáceis ou comemos no meu apartamento — ela reclamou em tom baixo e eu ri.

Não passamos muito tempo juntos naquele dia, porque Mayla precisava voltar ao trabalho e logo seria o começo do meu turno na casa noturna.

Só voltamos a nos encontrar após o retorno de Jackie, quando minha irmã precisou fazer uma prova em um sábado. Eu estava sentado em um dos bancos no pátio interno, sendo encarado por algumas mulheres por ser uma das pessoas mais jovens ali, quando Mayla apareceu usando uma blusa branca com mangas longas e uma calça jeans.

Jacqueline não sabia que eu estava ali.

— Ela te convidou para esperar o fim da prova? — perguntei rindo quando a vi.

Ela também riu.

— Ela me pediu para passarmos o dia juntas... E para que eu fique quando você for trabalhar — Mayla contou com calma, mas seu rosto demonstrava incômodo.

— Você já tinha planos? Jackie já tem 15 anos, ela pode compreender.

Ela balançou a cabeça para negar.

— Estou preocupada. Jackie não parecia exatamente feliz quando fez o convite.

Fiquei calado. Qualquer assunto que envolvesse Jackie tinha minha total atenção, principalmente quando ela não parecia bem. Em parte, também fiquei incomodado quando pensei que estive com ela por todos aqueles dias e não notei diferença em seu comportamento.

— Acha que ela está com problemas? — perguntei enquanto encarava o chão branco antiderrapante.

Mayla balançou a cabeça para concordar, olhando na mesma direção entristecida. Aquele era o seu cisne branco.

O Segurança da BoateOnde histórias criam vida. Descubra agora