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Quando voltamos para o apartamento no final daquela tarde, meu celular mostrava dez chamadas perdidas. Todas eram de Jennifer. Franzi o cenho, mas não liguei de volta, porque era tarde demais para resolver qualquer emergência.

Jackie estava satisfeita. Ela vendia doces na escola e usou o dinheiro que ganhou naquele mês para comprar muitos vestidos. Além disso, estava feliz por saber que agora eu estava tranquilo sobre a nova "irmã mais velha" que tinha escolhido.

Mayla era uma pessoa boa e assim como eu, não gostava de falar sobre seus próprios problemas. Trocamos números de celular no final do dia, porque agora tínhamos um assunto em comum: a irmã mais nova.

Jackie foi tomar banho antes de começar a ler Orgulho e Preconceito e eu sentei no sofá para descansar. Sair durante o dia era incomum para mim, principalmente para lugares lotados.

Meu celular tocou mais uma vez.

— Alô? — atendi.

— Até que enfim, Renan! Como você está? — Jennifer perguntou animada.

— Eu estou bem, e você?

— Eu pensei que você estava com algum problema! Por que não atendeu antes?

— Eu estava no shopping com uma amiga e não vi meu celular — menti.

Eu vi as chamadas de Jennifer, mas ignorei todas. Nunca namorei ninguém ou fui o tipo de pessoa que gosta de ligações apenas para papear. Além disso, não queria dar satisfações.

— "Amiga"? Você ignorou minhas chamadas para passar a tarde com uma "amiga"?

Respirei fundo e encarei o teto. Em parte estava impaciente e em parte sabia que era um momento constrangedor.

— Jen, você não tem direito de sentir ciúme. Não estamos juntos, foi apenas uma noite...

Jennifer ficou em silêncio.

— Você é divertida, mas não estou procurando um relacionamento... — Continuei com certo desespero.

— Tudo bem — Jen tentou se recompor. — Quando quiser namorar com alguém, quero ser a primeira que você irá procurar.

— Tudo bem.

— Ainda seremos amigos?

— É claro — menti.

Pensei que Jennifer entenderia que aquilo era mentira, porque nunca sequer fomos amigos, mas ela ligou todos os dias desde então. Eu não precisava falar muito ou participar das conversas, porque ela sempre estava mais ocupada com suas histórias. Às vezes eu deixava meu celular de lado e ia ocupar minha mente com outras atividades.

Os dias passaram e o aniversário de quinze anos de Jackie chegou. Eu não tinha dinheiro para pagar por uma festa como as que as amigas dela fizeram, sequer por um celular novo de marca cara, por isso comprei o notebook que ela pediu e a levei a um restaurante.

Ela convidou suas amigas mais próximas e estava muito feliz usando o vestido dourado que ganhou de presente.

Era uma noite de segunda-feira, meu dia de descanso no trabalho. O restaurante trabalhava com um bufê, que ficava exposto no canto do salão. Nós mesmos levantávamos e nos servíamos à vontade, quantas vezes quiséssemos. A entrada naquele local não era barata, mas Jackie merecia um bom aniversário de quinze anos.

Sentei ao lado de Mayla na mesa. Não tínhamos familiares para convidar e Jackie estava distraída conversando com as amigas.

Jennifer estava ligando e eu fazia esforço para ignorar as chamadas, mas era impossível não perceber o celular vibrando sobre a mesa. A tela do celular de Mayla iluminou-se algumas vezes com mensagens de um tal de "Lucas". Ela também estava ignorando.

O Segurança da BoateOnde histórias criam vida. Descubra agora