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Alguns dias passaram e Jackie continuava tendo atitudes cada vez mais estranhas. Ela voltou a comer bem, já não passava tanto tempo depressiva... Parecia uma adolescente normal, eu acho... Se eu conhecesse alguma.

A questão é que Jackie parecia feliz e isso era bom, mas muito repentino. Pesquisei na internet e descobri que aquelas mudanças bruscas de humor faziam parte da adolescência, por isso relaxei.

— Onde você vai? — perguntei cruzando os braços quando vi Jackie maquiando o rosto em frente ao espelho do banheiro. — Não pediu permissão para sair hoje.

— Eu vou encontrar com uma amiga — ela deu uma resposta evasiva. — Pensei que você gostasse que eu saísse para me divertir.

— Uma amiga? — Arqueei as sobrancelhas desconfiado, então respirei fundo.

Eu não poderia mais ignorar todo aquele comportamento diferente de Jackie. Apesar de gostar de vê-la feliz, não era bom que fosse tão fechada. Ela poderia estar em perigo.

— Jackie, seu comportamento está estranho faz dias e agora você está me dando respostas evasivas. Você tem 14 anos apenas, eu quero sinceridade — falei com calma. — Está namorando?

— Não.

— Quem é essa amiga?

Jackie soltou seu pincel de maquiagem e encolheu os ombros enquanto encarava a bancada de granito do banheiro. Ela torceu os lábios e respirou fundo, como se temesse a própria resposta que daria.

— Você não quer trazer uma mulher para a nossa convivência, mas minha terapeuta disse que uma figura feminina faz falta. Então eu decidi resolver sozinha esse problema e encontrei uma irmã mais velha. Ela é muito gentil e sempre me dá bons conselhos, que...

Jacqueline parou de falar quando viu minha expressão. Eu não sabia sequer o que pensar a respeito. Era a ideia mais ridícula que eu já tinha ouvido, além de ser perigosa. Aquela poderia ser uma pedófila ou uma sequestradora.

— Jacqueline! Quem é essa mulher? Você não pode sair com desconhecidas, nenhuma adulta vai querer amizade com uma criança! Ela com certeza tem outras intenções, pode te sequestrar. E depois? Eu não tenho dinheiro para ir te buscar na Turquia! — Comecei a repreender e os olhos de Jackie encheram de lágrimas.

Eu não queria magoar a minha irmã, mas precisava cuidar dela e isso incluía não permitir que ela saísse com uma desconhecida.

— Ela não é uma desconhecida! Já saí com ela algumas vezes e é muito gentil! Ela até me deu um livro de presente!

O quê?! Quando Jackie saiu sem que eu notasse?

— E o que ela ganha em troca? Nada é de graça, Jacqueline! Essa mulher vai começar a te pedir favores e quando você for ver, vai estar envolvida com drogas ou sendo escrava sexual. Não seja ingênua, você já tem 14 anos.

— Ela não é assim.

— Ela sabe que é sua "irmã mais velha"?

— Sim.

Fiz uma pausa e respirei fundo para não gritar.

— Ela é maluca, Jacqueline! Onde vocês vão se encontrar?

— No shopping Sul.

— Você não vai. Ela é maluca e você não vai ser vítima disso.

— Não! Renan, por favor, eu não quero ficar sozinha de novo — ela começou a chorar.

Meu coração partia ao ver Jackie naquele estado.

— Você não está sozinha, Jackie — falei mais baixo, mas ela não parou de chorar.

O Segurança da BoateOnde histórias criam vida. Descubra agora