Nos dias seguintes, o humor de Jackie melhorou. Aquela mudança drástica não fazia sentido para mim e ela não explicava o que estava acontecendo. De toda forma, parecia que tudo estava mais calmo agora.

Apesar de querer ser completamente diferente do meu pai, eu sabia que não era. Encarei meu celular por alguns minutos antes de deslizar meu dedo e ligar para Jennifer.

— Jennifer falando — ela atendeu.

— Agora eu não estou mais sujo por causa da urina do seu cachorro — falei e ela começou a rir.

Jennifer era muito direta, por isso entendeu o que eu queria.

— Para onde vamos hoje?

— Podemos comer em algum restaurante e depois... — comecei a responder.

— Minha casa.

Fiz uma pausa surpreso. Jennifer era a mulher mais direta com a qual eu já havia conversado.

— Tudo bem.

— Pensei que você iria recusar por causa da sua demora — ela riu alto no outro lado da linha.

— Fiquei surpreso com o quanto você é direta — comentei dando uma breve risada. — Isso é diferente.

— Eu encaro ser diferente como um elogio — Jennifer respondeu animada, então emendou. — Você virá me buscar?

— Sim, depois envie o endereço — pedi com calma.

— Eu vou enviar agora! Se você for um assassino, estarei morta.

Jennifer deu outra risada alta e eu tentei rir para acompanhar.

— Vista sua melhor roupa, porque vou usar meu melhor decote! Imagine o quanto quiser — ela falou mais baixo.

"Eu vejo decotes todos os dias" pensei desanimado, "eles não me surpreendem mais". Mesmo assim, não diria nada ruim para Jennifer, porque ela queria me impressionar e eu não a humilharia.

— Tudo bem, eu vou me esforçar para me vestir à altura.

— Até mais tarde, Renan.

— Até logo, Jennifer.

Encerrei a chamada e fiquei encarando o telefone por alguns segundos. Eu não era fã de jantares ou de conversas jogadas fora, porque isso provavelmente dava a entender que realmente queria conhecer aquelas mulheres.

— Vai jantar? — Jackie perguntou animada, porque ouviu minha conversa. Dei de ombros e isso a fez continuar a falar. — Ela grita muito, mas não existe mulher perfeita.

— Você não gostaria que as pessoas julgassem seu jeito, Jackie — respondi enquanto dava meus primeiros passos para sair do quarto.

Minha irmã me seguiu ainda mais animada.

— Vai namorar com essa?

— Eu não vou namorar com ninguém.

— Mas você já tem vinte e sete anos! — ela choramingou.

— Eu ainda tenho 27 anos.

Jackie revirou os olhos e saiu da frente da porta do banheiro para que eu pudesse entrar. Ela ainda não estava conformada com a ideia de eu nunca trazer nenhuma mulher para fazer parte da família.

Tomei um banho, vesti uma camisa preta qualquer e peguei minha mochila. Eu gostava de levar alguns itens especiais para encontros, porque às vezes tinha a sorte de encontrar mulheres que concordavam.

Jackie já era acostumada a passar quase todas as noites sozinha. Eu ficava tranquilo, porque ela nunca aproveitava aqueles momentos para fazer nenhuma besteira.

O Segurança da BoateOnde histórias criam vida. Descubra agora